Há algum tempo, dei uma palestra sobre relacionamento familiar em Rondonópolis, MT. Depois da palestra, fui convidado por um grupo para ir jantar um delicioso peixe na brasa. Em meio a conversas e risadas, um casal de noivos que estava sentado ao meu lado me fez a seguinte pergunta: “Professor, vamos nos casar no mês que vem. Sabemos que não existe mágica para um casamento funcionar. Porém, queríamos saber se o senhor teria alguma dica para nos dar. Gostaríamos de cultivar um bom relacionamento desde o começo”.

Pensei por alguns segundos antes de responder e depois olhei bem para eles e disse: “Tenho sim!”.

O casal ajeitou-se na cadeira como se fosse participar de um momento especial, arregalou os olhos e aproximou-se para ouvir-me melhor. Então eu disse: “Se vocês querem ter um casamento harmônico desde o início, “não tenham nem televisor nem computador em casa” nos primeiros dois anos de casado!”.

Eles se entreolharam, com um esboço de sorriso e uma expressão de interrogação, perguntando-se se eu estava falando sério ou se era apenas uma piada, entre as muitas que eu havia contado durante a palestra. Então eu continuei, solene: “Bem, me digam uma coisa, se vocês não tiverem televisão nem computador nos dois primeiros anos de casado, no final do expediente irão chegar em casa, jantar e em seguida farão o que?”. Novamente o casal se entreolhou com um sorriso maroto. Eu complementei: “Tudo bem, “além disso”, vão fazer o quê?”. Eles soltaram uma gargalhada e responderam: “Conversar!”.

Realmente não há fórmulas mágicas para um sucesso no casamento, senão o diálogo. Nos dias atuais, a televisão e o computador são os maiores “ladrões do diálogo conjugal e familiar”. As pessoas chegam em casa cansadas de expedientes muitas vezes torturantes e querem “não pensar”. Apenas se jogam em frente à televisão ou ao computador e ali deixam a mente vagar pelos espaços cibernéticos, sem fazer esforço algum, senão o de mexer os dedos para zapear ou o de teclar e clicar o mouse.

Muito cuidado com esse relax! Existe muito lixo no espaço cibernético e nas programações televisivas que sorrateiramente se acumula nos cantos da mente e produz, em médio prazo, um fedor comportamental que infecta os relacionamentos. Não poucas vezes ouvi comentários de distintas senhoras cristãs, muitas vezes em encontros de casais, afirmando que estavam torcendo para que uma determinada personagem da novela abandonasse o marido e ficasse com o amante, pois o primeiro era nefasto, enquanto o segundo era adorável. Esse lixo entra silenciosamente nas mentes e vai distorcendo os valores.

Ao consultório nos chegam inúmeros casos de homens e mulheres com uma vasta bagagem cristã, mas que, de um momento para o outro, se veem envolvidos em pornografia pela internet. Isso por terem “inocentemente” entrado em salas de bate-papo e, paradoxalmente, não terem mais espaço de diálogo com o cônjuge.
Jesus alerta: “O ladrão só vem para roubar, matar e destruir; mas eu vim para que as ovelhas tenham vida, a vida completa” (Jo 10.10, NTLH).

Cuidemos então de cultivar o diálogo conjugal e familiar e de manter os ladrões distantes de nossa casa. Talvez você não precise desfazer-se de sua televisão ou computador, mas precise orar a Deus para desenvolver o fruto do Espírito Santo, que inclui o domínio próprio (Gl 5.22). Dominar o impulso de chegar em casa e ligar a televisão ou o computador e aproveitar o tempo para um fecundo diálogo conjugal e familiar é, sem dúvida, sinal de maturidade espiritual.

Artigo publicado na edição 330 da revista Ultimato

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