Em 2001 o casal Ricardo e Patrícia Amorim foram desafiados a treinar grupos de louvor em duas congregações na periferia de Brasília. O convite vinha da igreja mãe, desejosa de estimular a criatividade dos jovens dessas cidades-satélites. Eles toparam.

Chegando no local tiveram que lidar com a primeira dificuldade. Para os 12 alunos existiam apenas três instrumentos musicais. Sem desanimar, olharam para aquela situação como uma oportunidade de testar algo novo. Passaram a ensinar percussão corporal, explorando os muitos sons que se podem extrair dos pés, mãos, boca, pernas. Ricardo Amorim havia feito em 1999 uma oficina com o músico Fernando Barba, do grupo Barbatuques, e ficou impressionado.

Em pouco tempo a fila de interessados em aprender uma batucada diferente era enorme. As manhãs de sábado eram esperadas com ansiedade pelos meninos e meninas de Recanto das Emas. Sem perceber Ricardo e Patrícia estavam abrindo espaço e possibilidade para uma música inclusiva, que não precisava de outro instrumento além do próprio corpo.

Em 2002, os meninos começaram a se tornar conhecidos no Distrito Federal com o nome de “Batucadeiros”, grupo que recebia a influência musical de Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, Stomp e Barbatuques, sendo este último a sua maior inspiração.

BatucadeirosÀ medida que Ricardo e Patrícia se aprofundavam no relacionamento com os alunos e suas famílias, foram percebendo que existiam outras áreas que necessitavam de tratamento adequado. A música não poderia ser um fim, mas um meio para ajudar a comunidade a tratar questões sérias que compunham a rotina daquelas crianças e adolescentes. A evasão escolar era altíssima; o índice de desemprego era alarmante; a violência familiar afetava a vida de muitos; muitas famílias se degradavam por consequência das drogas (especialmente do crack) e do álcool. Não daria para seguir adiante no projeto ignorando essas realidades.

Assim, aliaram ao projeto musical aulas de reforço escolar, alfabetização e discipulado bíblico. Passaram a estimular os jovens que faziam o segundo grau nas escolas públicas a sonharem com a faculdade. E, pouco a pouco, o panorama foi mudando. Sabedores de que seria muito difícil naquela altura vê-los ingressando numa universidade pública como a UnB (Universidade de Brasília), por causa da enorme concorrência, passaram a buscar parceiros que pudessem oferecer bolsas de estudo para aqueles que passassem no vestibular em instituições particulares. Esses alunos pagariam as bolsas dedicando parte de seu tempo diário como multiplicadores entre os mais novos. Repassariam o que já haviam aprendido.

Pouco tempo depois o Projeto Batucadeiros foi inscrito no Ministério da Cultura e começou a receber ajuda de empresas como o Laboratório Sabin, Brasil Telecom, além do apoio da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal através do FAC (Fundo da Arte e da Cultura). Um dos parceiros que mais difundiu o projeto foi a Universidade de Brasília.

cordasÀ medida que o trabalho se tornava conhecido perceberam que precisavam dar um passo a mais, tornando o projeto numa OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Assim surgiu o Instituto Batucar, em 2006.

Desde então muita coisa aconteceu. O Instituto Batucar recebeu reconhecimento nacional e internacional através das premiações no Itaú Unicef (2009), Anu de Ouro 2010 da CUFA (Central Única das Favelas), Itaú Cultural 2011 (na área de Educação, Cultura e Arte), Rumos Educação, Cultura e Arte do Itaú Cultural 2013. Em 2009 seus líderes foram convidados a realizar uma oficina de percussão corporal com 80 crianças, adolescentes e educadores no continente africano, pelo Centro Cultural Brasil – Cabo Verde.
O Instituto Batucar foi um dos quatro projetos de toda América Latina inseridos no Compêndio da ONU 2011, como projeto cultural que utiliza a arte para empoderamento comunitário e qualidade de vida. Recentemente participou da 4ª Mostra de Juventude Transformando com Arte, na cidade do Rio de Janeiro, recebendo merecido destaque na imprensa.

A realidade mudou bastante em uma parte de Recanto das Emas. O índice de evasão escolar e reprovação que era superior a 50%, hoje alcança cerca de 90% de aprovação entre os meninos do Instituto. As ruas próximas, antes conhecidas pela violência e ponto de tráfico de drogas, foram transformadas num convívio fraterno. As ações sociais e, especialmente, o ensino da Bíblia deram novas cores àquela comunidade.

suingueAtualmente a liderança do Instituto é formada por jovens que participaram no início do projeto e que foram favorecidos por ele. Os idealizadores Ricardo Amorim (Licenciatura em Música) e Patrícia Amorim (Pedagogia) trabalham ao lado de Alceu Avelar, que se formou em Administração de Empresas com o apoio do Instituto,  Gisele Luisa, pedagoga e uma das primeiras integrantes do grupo, e André Soares, que acaba de ser aprovado em Licenciatura de Música pela Universidade de Brasília. Sua formação musical foi toda conquistada entre os Batucadeiros.

Apesar da história bonita, o Instituto Batucar sofre atualmente com a queda no número de mantenedores. Recentemente iniciou uma parceria com a Sociedade Bíblica do Brasil, mas carece de mais recursos para a manutenção do projeto. Os que se interessarem em conhecer e apoiar os Batucadeiros, podem fazê-lo através do site www.institutobatucar.org.br, pelo e-mail musicvida@hotmail.com ou pelo fone (61) 8419-9674.

 

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