O poeta se foi, mas não a poesia
Nesta semana, tive uma triste incumbência: a de sepultar um poeta! De uma hora para a outra, a saúde lhe faltou, e, depois de muita luta, partiu, levando consigo um pedaço de muita gente.
Eu não convivi muito com ele. Nossos encontros foram quase sempre na escadaria da igreja, enquanto subíamos rumo às classes de escola dominical. Sempre ao seu lado, havia gente interessada nos causos que fugiam completamente do trivial: artes cênicas, poesias, discos voadores, viagens por esse mundo de meu Deus e coisas tais. Outros, por causa de seu jeito um tanto estranho, o ignoravam.
O poeta era considerado muito polêmico e um inconformado com o sistema. Brigava insistentemente pelo mundo ideal, empunhando suas armas: as palavras e as artes. Por isso, era tido por estranho e esquisito… Alguns chegavam a rir-se dele pelos cantos, com a mão sobre a boca. Sobre isso, lembro-me das palavras de Bob Marley: “Vocês riem de mim, porque sou diferente; eu rio de vocês, porque são todos iguais…” Acho que, por dentro, o poeta dava gargalhadas de todos nós – os pseudo-normais.
Enquanto a cerimônia de despedida acontecia e as palavras de testemunho iam sendo ditas, lembrei-me de G. K. Chesterton: “Geralmente se diz que os poetas não são confiáveis do ponto de vista psicológico, e geralmente faz-se uma vaga associação entre cingir a cabeça com uma coroa de louros e fazer loucuras […] A imaginação não gera insanidade. O que gera insanidade é exatamente a razão. Os poetas não enlouquecem; mas os jogadores de xadrez sim”. Para Chesterton, os homens não enlouquecem sonhando; por isso, os críticos são muito mais loucos que os poetas. “A poesia mantém a sanidade, porque flutua facilmente num mar infinito; a razão procura atravessar o mar infinito, e assim torná-lo finito. O resultado é a exaustão mental…”
Viver como um poeta é viver sob outra ótica, observando a vida de outra maneira, diferente da lógica que nos escraviza e adoece. Poetizar é descobrir rasgos de luz e virtude nos entremeios, por entre as cascas rotas e exauridas, marcadas pela dura vida. Poetizar é sonhar e deixar-se embalar pelos sonhos que apontam para uma outra realidade, tão real quanto, mas mais prazerosa e deliciosa. É não desistir de viver e de extrair beleza de onde parecia nada mais oferecer. Por isto, o poeta é tido por louco: ele vê o que o calculista não consegue enxergar; ele absorve imagens, cheiros e sons daquilo que a mente lógica não consegue abstrair além da utilidade prática. Nem tudo o que é belo serve para algo; talvez sua vocação seja apenas inspirar poesias e belezas no coração tomado pela sensibilidade.
Chesterton acertou em cheio quando disse: “O poeta apenas pede para pôr a cabeça nos céus. O lógico é que procura pôr os céus dentro de sua cabeça. E é a cabeça que se estilhaça”. Talvez aí esteja a explicação para muito teólogo que perde a sanidade e a humanidade pelo estilhaçar de uma mente que queira tornar lógica a poesia de Deus.
O poeta se foi, voando para abraçar aos céus… para ser abraçado pelo Pai. Sua poesia ficou, como sementes para nos instigar e nos inspirar a uma vida mais bela. Inspirações e pirações de quem amou a vida e amou a Deus.
Fernando
Excelente texto Carlinhos.
João Inácio
Meu querido pastor e poeta, é sempre bom ver e compreender suas reflexões. Que o Senhor o abençoe e retribua pelo carinho e atenção.
João Inácio
Raquel
Fantástico!!!! este texto é encantador. Infelizmente ocorreu a morte deste poeta, aliás morte não, ele foi elevado aos céus. Olha vc exprimiu muito bem uma opinião sobre os artistas, q tbm comungo das mesmas idéias.