Foto: Rui Faquini (divulgação)

No final de semana passado eu dei um pulo no 10º Encontro de Folias de Reis, que acontece em Brasília, promovido pelo Clube dos Violeiros. Muitos grupos interessantes estavam por lá, representando essa diversidade de Folias de Reis que se espalham pelos quatro cantos do Brasil.

No ano passado eu já havia me surpreendido com a Folia de Reis da Mangueira, vindos da cidade maravilhosa, Rio de Janeiro. Isso mesmo! Mangueira, a verde-rosa (que por sinal são as cores desse grupo de Folia). Não é só de samba que vive o morador dos morros cariocas.

Nesse ano assisti especialmente dois grupos: o primeiro era da Bahia, com um ritmo bastante intenso, meio galope, fugindo do tradicional, incorporando flautins. O segundo era de Santa Catarina, com uma harmonia vocal e instrumental surpreendentes. Fantástica diversidade.

As atrações desse ano foram Saulo Laranjeira (que por coincidência havia topado com ele uma semana antes no Engenho, hotel e restaurante, próximo a BH), Renato Teixeira, Zé Mulato e Cassiano, entre outros.

Mas quem me chamou a atenção mesmo foi a dupla Lourenço e Lourival. Preciso aqui reconhecer minha ignorância: não sabia praticamente nada dessa histórica dupla com mais de 50 anos de carreira. Percebi que o povo reunido na Granja do Torto estava ansioso aguardando a entrada deles, mas não entendia por quê. Até que o Volmi Batista os chamou e o povão aplaudiu efusivamente. Entraram os dois, vestidos de terno, com a viola transpassando o peito e começaram a cantar músicas iluminadas, que falam do estilo de vida do campo, do povo do interior. Muitos se emocionaram. Só então percebi que estava diante de lendas vivas da genuína música caipira.

Já tive o privilégio de assistir Zé Carreiro e Carreirinho, Inezita Barroso, Ely Camargo (que por sinal é parente), Irmãs Galvão, entre outros. Mas o carisma e a singeleza de Lourenço e Lourival não havia ainda presenciado. Foi um privilégio enorme para esse simples mortal que ama a beleza de ser Brasil interior.

Deixo para você a letra de um dos sucessos dessa dupla: Franguinho na Panela. É de emocionar!

Franguinho na panela

No recanto onde moro é uma linda passarela

O carijó canta cedo, bem pertinho da janela

Eu levanto quando bate o sininho da capela

E lá vou eu pro roçado, tenho Deus de sentinela

Têm dia que meu almoço, é um pão com mortadela

Mais lá no meu ranchinho a mulher e os filhinhos

Tem franguinho na panela

Eu tenho um burrinho preto bão de arado e bão de sela

Pro leitinho das crianças, a vaquinha Cinderela

Galinha tá no terreiro papagaio tagarela

Eu ando de qualquer jeito, de butina ou de chinela

Se na roça a fome aperta, vou apertando a fivela

Mais lá no meu ranchinho a mulher e os filhinhos

Tem franguinho na panela

Eu pego um bico pra fora, deixo cedo a corruptela

Eu levo meu viradinho é um fundinho de tigela

É só farinha com ovo, da gema verde e amarela

É esse o meu almoço, que desce seco na goela

Mais lá no meu ranchinho a mulher e os filhinhos

Tem franguinho na panela

Minha mulher é um doce e diz que sou o doce dela

Ela faz tudo pra mim, tudo o que eu faço é pra ela

Não vestimo lã nem linho é no algodão e na flanela

É assim a nossa vida, que levamos na cautela

Se eu morrer Deus dá um jeito, mais a vida é muito bela

Não vai faltar no ranchinho pra mulher e os filhinhos

Um franguinho na panela.

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