Uma ponte entre a fé e ciência
O blog Caminhos da Missão conversou com o professor doutor Gustavo Assi, secretário executivo da Associação Brasileira Cristãos na Ciência, conhecida por ABC2, para conhecer mais sobre a iniciativa. Voltada tanto para os cristãos imersos na área quanto para os interessados e leigos, a ABC2 ajuda a formar o cristão brasileiro para servir como uma conexão entre ambos os mundos, estabelecendo o diálogo.
Gustavo é professor de engenharia naval na Universidade de São Paulo e uma das suas áreas de maior interesse é a interação entre a fé cristã e a tecnologia, “a ciência aplicada no dia-a-dia das pessoas”, como ele nos contou. Criado na igreja, é presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil em São Paulo (SP). Confira abaixo a entrevista:
Como começou a ABC2?
Passei um tempo fora do país enquanto fazia meu doutorado em Londres e tomei conhecimento do diálogo entre fé cristã e ciência no nível que eu não sabia que existia. As universidades lá conversam com a comunidade da fé num nível exemplar, muito bem feito, muito educado, muito respeitoso. Tive contato com o Faraday Institute, da Universidade de Cambridge, que estuda a interação entre ciência e religião e isso abriu meus olhos para a necessidade no Brasil. Um pouco antes, o Guilherme de Carvalho também tinha passado pelo Faraday. Ao mesmo tempo, o Roberto Covolan também tomou contato com esse diálogo. Sentimos que Deus foi plantando no coração de algumas pessoas a necessidade de trazer esse diálogo de alto nível para o Brasil.
Em 2010, nos encontramos e marcamos uma primeira reunião, [que teve] talvez 15 a 20 pessoas. Dessa reunião saiu a ideia de elaborarmos um projeto para estruturação de uma Associação Brasileira Cristãos na Ciência. O projeto levou quase dois anos para ser escrito e consistia em planos de ação para estruturação de uma associação e todas as atividades que ela poderia exercitar nos seus primeiros anos. Por exemplo, geração e introdução de conteúdo, o que inclui tradução de livros para o português [confira aqui alguns dos livros já publicados], produção de material próprio, ensino à distância, vídeos e tudo mais; a estruturação de uma rede de contatos, para formar grupos locais e trazer pessoas para círculos de discussão e fomentá-la nos meios da igreja e ciência em todo o Brasil; engajamento das pessoas através de eventos etc.
Conseguimos financiamento da Templeton World Charity Foundation, uma fundação americana que financia projetos dessa natureza. E disparamos o projeto nos três primeiros anos, agora já quatro, para fundar uma associação [já se passaram dois anos]. O evento que culminou com a fundação da associação que foi a conferência nacional em São Paulo, em novembro do ano passado. A fundação é o começo da associação e o “meio” do projeto. Há mais dois anos para encerrar a primeira fase para que depois a associação ande com pernas próprias.
Dentre seus objetivos, a ABC2 busca apenas capacitar cristãos ou também alcançar não cristãos no espaço do diálogo com a ciência?
As duas perspectivas estão unidas dentro do projeto. Estamos trabalhando com dois campos: o da fé e o das ciências naturais. Partimos do pressuposto que existe interação entre eles. Existe gente que está tanto dentro de um campo quanto do outro. Mas temos os espectros opostos também. Por exemplo, dentro das ciências naturais, no contexto da universidade brasileira principalmente, há aqueles antirreligiosos. Por outro lado, há dentro da igreja há pessoas que terão uma visão distorcida da ciência e vão dizer que é coisa do diabo. Dentro da igreja, nossa missão é mostrar para o cristão que ciência ou fazer ciência glorifica a Deus porque nada mais é do que o exercício do mandato cultural. Tão ministerial quanto servir em outras áreas. Para o acadêmico ou cientista antirreligioso, nossa missão é mostrar que não é só a ciência que tem condições ou capacidade de descobrir verdades, mas a fé também nos ensina e descobre verdades sinceras da realidade em que vivemos.
Claro que existe um aspecto missiológico, porque de certo modo a associação apresenta para o público em geral aspectos do Reino de Deus. Faz missão nesse sentido: revela que o Reino de Deus não é uma coisa fechada, mas é uma coisa que permeia e está por trás de tudo na nossa vida, inclusive a ciência. Contudo, a associação não é de defesa da fé, não faz apologética no sentido de pregar o evangelho. Isso é missão da igreja, da parte do corpo de Cristo chamado para isso. A associação trabalha mais um aspecto cultural, mostrando que o Reino existe, porém entendemos que o poder de convencimento que dá fé não vem dessa linha, mas da pregação do evangelho com a ação do Espírito Santo. A gente se vê tentando eliminar barreiras, fazendo pontes de conexão entre os lados que a princípio não se conversavam, para que o caminho esteja aberto para a missão evangelística da igreja.
Quem vocês gostariam que participasse da ABC2 e como as pessoas podem participar?
Num primeiro momento, pode parecer que a ABC2 é muito distante pelo nome: “Não sou cientista, não tenho formação acadêmica em área, será que posso participar?” Nossa resposta é: claro! Ciências aqui entendemos no sentido mais amplo, como tudo aquilo que o ser humano faz para conhecer o mundo criado. Qualquer pessoa que trabalha, pesquise nessa área é bem-vindo, mas não só. Qualquer interessado, alguém que gosta de ler a respeito, também é muito bem-vindo, não só para participar, mas para contribuir. Temos vários níveis de aprofundamento do campo da ciência, desde o interessado e leigo até o acadêmico pesquisador e cientista que trabalha no laboratório. Todo esse espectro é bem-vindo. E não tem idade para descobrir a interação entre fé e ciência. Pode participar da associação o perfil mais amplo possível, apenas há o pressuposto da fé cristã. Você tem que se identificar como cristão, tanto que escolhemos uma declaração de fé ampla e simples, mas objetiva.
Se eu puder fazer um convite: todos os cristãos interessados por ciência estão convidadíssimos a não só ler os livros e visitar o site, mas também a se associarem e participar. É muito simples, é muito fácil, exige apenas o interesse entre os dois campos.