Como falar de sofrimento com água pela cintura
Acompanhamos assustados o que acontece em Santa Catarina. Certamente alguns irmãos ali repetem as palavras de Baruque: “O Senhor acrescentou tristeza ao meu sofrimento. Estou exausto de tanto gemer, e não encontro descanso” (Jr 45.3). Ao lado deles, nós que assistimos de longe corremos o risco de ouvir de Deus a pergunta feita logo a seguir ao amigo de Jeremias: “Será que você está querendo ser tratado de modo diferente?” (Jr 45.5).
Sim, somos tentados diariamente por um lugar na primeira classe (Mt 20.20) e até convencidos “teologicamente” dos nossos direitos. O pastor Ricardo Gondim é objetivo: “Eu não suportaria ouvir que o povo catarinense é pecador e merece o castigo divino. […] Como ficam agora os cultos no rádio e na televisão em Santa Catarina? Os obedientes, os santos, passaram ilesos pela inundação? Uma coisa é fazer teologia de cima de torres de marfim. Explicar o sofrimento contingencial com água na cintura é bem diferente.”
Talvez o Desabafo da edição mais recente da revista Ultimato possa nos ajudar: “O consolo de Deus é estranho […]. Deus não apenas oferece o lenço para o sofredor enxugar as lágrimas, como também ensina a pessoa a lidar com os problemas da vida”. Parece claro que não temos uma redoma para nos proteger, e é preciso acreditar ainda mais nas palavras do amigo de Baruque: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã” (Lm 3.22-23).