O Meu Lugar no Mundo

Por Luís Carlos Magalhães

 

Luís Carlos Magalhães é um dos capelães que recebe regularmente, via Ações Ministeriais da Ultimato, um pacote com exemplares da revista para usar em seu trabalho de visitação e evangelização nos presídios.

Há mais de trinta anos envolvido neste trabalho, Luís Carlos enfatiza a importância da dignidade de cada pessoa em situação de cárcere e sugere uma maneira simples de começar a praticar isso. Ao referir-se a elas lembrar-se que não são “presos”, mas “pessoas que estão presas”.

Ultimato convidou o pastor Luís para participar do selo O Meu Lugar No Mundo e contar sobre como têm seguido no cumprimento da vocação, quais lições importantes têm aprendido na caminhada e como seu trabalho colabora para o cumprimento da missão da igreja. Leia a seguir.

 

Quando Jesus me aceitou, comecei a ler a Bíblia, e foi dessa forma que parafraseei Romanos 15:20 na mente: levar a mensagem de Jesus a lugares menos acessíveis e começar um ministério do zero ao invés de perpetuar algo inadequado. Equacionei esse versículo na realidade da sociedade em que eu vivia (vivo) e o quociente deu: penitenciárias!

O ministério pode até não ser fácil, mas um corpo se movimenta quando elimina atritos (Me inspirei na estratégia de Paulo!)

Nos presídios você irá encontrar debilitados emocionais, sentimentais, espirituais, porém, prontos (ou nau à deriva, como queira) a seguir o primeiro líder religioso que aparecer nesse lugar (ou seja, eles creem em quem crer neles). Esse ambiente, essa experiência me conduziu a um pensamento popular: “Jacaré no lago, é tronco”. Ou seja, o desespero é tanto que eles (presos) se agarram (querem crer) no que aparecer.

Quando o ser humano se encontra numa situação desfavorável (longe da família, solitário, preso não só física mas também com a alma presa) ele nos ensina muito (sem querer). Nessa situação, a pessoa tende a ser verdadeira, pois não tem mais nada a esconder em meio a anos ou décadas de prisão para cumprir (terreno muito favorável à mudança!). Assim, muitos presos parecem ter uma maior sinceridade em buscar a Deus do que muitos que frequentam os templos (Onde abundou o pecado, superabundou a graça?). (A dor costuma filtrar as prioridades!)

Muitos (até crentes) dizem que o ambiente prisional é difícil. Será? (Muitos dizem ser um local antagônico. Mas nunca estiveram nele). Um ambiente carregado, como que dominado por demônios (Lembrando que os demônios se alimentam onde há maldade humana) Ao adentrar nas unidades prisionais, logo percebi que a realidade não era tão sombria (“Vós sois a luz do mundo”). O que percebi ali: seres humanos vulneráveis e, ao mesmo tempo, expostos; e tal como Paulo e Silas que cantavam enquanto estavam presos, estes também poderão cantar a Ele (“Mas como ouvirão se não há quem pregue?”) mas precisam achá-lo.

Há algo mais caótico do que uma terra sem forma e vazia? Mesmo assim, o Espírito Santo fez surgir tudo do nada (Gênesis 1). É imperativo: o (qualquer) ambiente está sujeito à Palavra, e penitenciária não foge à regra, pois Deus ocupa todos os lugares, segundo nos ensina Davi no Salmo 139. E mais, ele tem todo o poder, inclusive na Babilônia, terra do exílio.

Não gosto muito do estigma que tentaram colocaram sobre mim nessas três décadas de serviço religioso em presídios, dizendo que trabalho com presos. Não, eu trabalho com pessoas que estão presas.

Remova o estigma ligado ao local e às pessoas que moram no presídio. Você será o primeiro a acreditar na transformação delas.

Shalom Adonai!

Luís Carlos Magalhães é capelão em presídios pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira há 30 anos.

 

As Ações Ministeriais de Ultimato visam o envio gratuito e regular de exemplares da revista para capelães, missionários, líderes do Norte e Nordeste do país (Paralelo 10), presidiários e paróquias católicas.. E são possíveis graças à generosidade de assinantes que além da própria assinatura custeiam uma ou mais assinaturas para este fim.

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Saiba mais:
>> Como Anunciar o Evangelho entre os Presos – Teologia e prática da capelania prisional, Antonio Carlos Junior, Cristiano Rezende Franco, Elben César
>> Capelania Hospitalar e Ética do Cuidado, Maria Luiza Rückert
>> O Evangelho – Uma mensagem que transforma a vida, John Stott e Tim Chester

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