Quando a inspiração não vem, a pressão é o melhor remédio | Na varanda com a autora
Por Délnia Bastos
Talvez não seja um caso raro, mas a nutricionista que virou missionária e queria ler somente o Salmo 23 na infância, agora, na terceira idade, combina pressão com criatividade.
Professora no Centro Evangélico de Missões e membro do Conselho Nacional da agência missionária Interserve, Délnia Bastos trabalhou em Angola e Moçambique nos anos 90, com e sem malária, e é editora da seção Caminhos da Missão da revista Ultimato.
O blog da Ultimato conversou com a nossa colaboradora na varanda e descobriu alguns segredos da sua caminhada.
Alguma pessoa ou livro, em especial, influenciou sua aproximação da leitura e da escrita?
Não é difícil responder a esta pergunta quando você vê nascer um jornal na sua casa aos 4 anos de idade! Creio que meus pais me influenciaram desde cedo — eles não só liam, como escreviam. Mas interessante que eles não nos obrigavam a ler.
Lembro-me da minha primeira leitura ser numa Bíblia que recebi deles de presente. Eu só queria ler o Salmo 23, repetidamente, mais nada.
Anos mais tarde, acho que a biblioteca do meu pai me influenciou. No início da adolescência, descobri numa prateleira o Comentário do Evangelho segundo João, de J. C. Ryle. Foi minha primeira leitura “séria”. Eu estava fazendo minha devocional em João (a gente chamava de cultinho, e não devocional), meio que imitando meu pai. Eu queria respostas para várias dúvidas que surgiam durante a leitura. Então comecei a ler comentários bíblicos após a leitura da Bíblia. Achei a coisa mais maravilhosa do mundo! Eu não consultava os comentários, eu os lia inteiros. Hoje acho isso bem estranho.
Quando a inspiração para escrever não vem…
Pra mim, ela nunca vem. Acabo escrevendo sob pressão, quando alguém me pede algo com um prazo determinado. Essa é a verdade.
O que os adultos devem ler para as crianças?
Ainda estou me perguntando isso. Com os netos, conheci alguns livros interessantes sobre as emoções. Na nossa época isso não existia. Acho que são muito interessantes, pois ensinam as crianças como lidar com alegria, tristeza, raiva, nojo, medo, saudade, confiança.
Claro, antes de tudo, devemos ler histórias bíblicas com as crianças — mas também bons livros de estórias e poemas. Aqui em casa temos uma prateleira de livros para os netinhos. Eles curtem (e bagunçam) bastante. Temos um livro sobre pássaros do Brasil com lindas ilustrações e poemas — é lindo! Temos outro com fotos dos animais do Pantanal. O neto mais velho já decorou todos os nomes dos bichos e os biomas em que cada um vive.
Que conselho você gostaria de ter recebido na sua juventude?
Tenha paciência com você mesmo.
Como você lida com o envelhecer?
Difícil responder a esta pergunta, porque ainda estou aprendendo. Estou no início desta fase, com 61 anos.
Há momentos de intensa alegria: parece que a produção intelectual nesta fase é melhorada, tanto pelo somatório das experiências vividas, como pelo raciocínio mais maduro, bem formado.
Há também momentos de tristeza: o corpo não acompanha o cérebro, definitivamente; a memória parece estar cansada, sem aquela rapidez de antes. Tenho minhas falcatruas ou macacoas da idade, como diz minha mãe.
Estou me disciplinando para aprender coisas novas, como diferentes receitas na cozinha, como fazer mudas de beijinhos, coisas assim. Sinto que isso faz muito bem ao corpo e à alma, e cada dia sinto mais necessidade do contato com a natureza.
Também estou buscando o equilíbrio entre o fazer certas tarefas ou deixar para outros fazerem. Isso é um desafio e uma arte! Sei que devemos dar espaço aos jovens, mas também não devemos abandonar a nossa vocação. Concordo com Paul Tournier sobre ter uma segunda carreira, que seja mais leve mas não menos comprometida. Estou no processo de buscar o equilíbrio em tudo isso.
O que mais a anima e o que mais a incomoda no meio evangélico?
O que mais me anima é ver jovens e jovens adultos assumindo seu papel, se envolvendo na missão de Deus, na História da Redenção.
O que mais me incomoda (e entristece) é a divisão partidária ter abalado profundamente nossos relacionamentos na igreja brasileira.
Você e Tonica são editoras da seção “Caminhos da missão” da Ultimato há vários anos. Qual é o objetivo da seção? Que histórias ela conta?
O objetivo é apresentar, de forma muito resumida, novos desafios e novas tendências em missão global e local. Outro objetivo é compartilhar algumas experiências de missionários, especialmente brasileiros.
OS DESAFIOS ÉTICOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS
O avanço da tecnologia nas últimas décadas é maior do que em qualquer outra época da história. Tal aumento se dá em muitas frentes e, mais significativo, confere um caráter tecnológico à vida contemporânea.
Quais são os desafios trazidos por esse avanço? A ética cristã é suficiente para responder aos aspectos relacionados às novas tecnologias? Como a igreja pode atuar nesse cenário tão desafiador?É disso que trata a matéria de capa da edição 407 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Eleição e Livre-Arbítrio – confissões de um peregrino, Francisco Leonardo Schalkwijk
» Aprender a Envelhecer, Paul Tournier
» A vocação não tem validade, por Marcos Bontempo
» Eu, um Missionário? – Quando o jovem cristão leva a sério o seu chamado, Antonia Leonora van der Meer