John Wycliffe entrega a tradução da Bíblia aos padres, um dos marcos iniciais da Reforma. (quadro de William Frederick Yeames).

“Reformada, sempre reformando em direção ao Verbo”

Se a Reforma fosse apenas uma reação negativa a um problema puramente histórico, então não seria relevante hoje para os evangélicos. Contudo, quanto mais de perto se observar, mais claro isso se torna: a Reforma não foi, principalmente, um movimento negativo, um distanciamento de Roma; foi um movimento positivo, um mover-se em direção ao evangelho. E mover-se em direção ao evangelho significa descobrir o cristianismo original, bíblico, apostólico, que àquela altura estava enterrado debaixo de séculos de tradições humanas.

É isso que mantém a validade da Reforma nos dias de hoje, pois a Igreja deve estar sempre reformando e constantemente chegando mais perto do evangelho. Essa ideia é sintetizada por duas palavras que escutamos com frequência: “semper reformanda”. Porém, seu contexto é importante, pois a frase completa em latim diz: Ecclesia reformata et semper reformanda secundum verbum Dei (“A igreja reformada e sempre reformando de acordo com a Palavra de Deus”). A Reforma não pode acabar. Deve ser uma bandeira evangélica, carregada com humildade e firmeza.

O que estava no coração da Reforma?

A partir do momento em que Lutero compreendeu de Romanos 1 que a justiça de Deus é uma dádiva totalmente imerecida, ele percebeu que essa era a verdade mais importante do mundo. A justificação estava no coração da Reforma, seu elemento essencial.

Para reformadores como Lutero e Calvino, “justificação” queria dizer uma declaração divina de que a justiça de Cristo é atribuída ao que crê somente por causa da graça de Deus (sola gratia). Essa justificação, portanto, é somente pela fé (sola fide) em Cristo, o que significa que toda a glória da salvação é dada somente a Deus, e não a nós. “Nada nesse artigo [da fé] pode ser renunciado ou comprometido”, escreveu Lutero, “mesmo que o céu e a terra e todas as coisas temporárias sejam destruídas.” É a convicção, disse ele, “na qual a igreja se apoia ou cai”.

Se a justificação somente pela fé é o elemento essencial da Reforma, a autoridade suprema da Bíblia é seu meio. Para obter uma reforma substancial, foi necessária a defesa de Lutero de que as Escrituras são a única base segura para a convicção da fé (sola Scriptura). A Bíblia precisava ser reconhecida como autoridade suprema e autorizada a contradizer e anular todas as outras afirmações, ou ela mesma seria anulada. Em outras palavras, a simples reverência pela Bíblia e o reconhecimento de que ela tem alguma autoridade jamais seriam suficientes para possibilitar a Reforma. Sola Scriptura era uma chave indispensável para uma mudança profunda e saudável.

Linha do tempo da Reforma

Imagens: Rick Szuecs

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