A santidade é bem menos espetacular do que gostaríamos
[Livro da Semana]
Por Jen Pollock Michel
A discrição pode nos livrar das ambições orgulhosas. A invisibilidade pode purificar as ofertas que levamos a Deus
Ninguém precisa ser mãe de uma grande família para entender que as circunstâncias mais difíceis e exigentes da vida fazem parte da sábia prescrição de Deus para descobrirmos que a força dele é maior do que a nossa. Oramos melhor quando mais precisamos de Deus. […] Todos temos de nos encontrar, em algum momento, presos numa vida que não é a que queríamos ou que parece pesada demais para carregarmos, pois esse pode ser o convite mais persuasivo que receberemos para nos colocarmos de joelhos – e ansiarmos por Deus.
Se a maternidade ensinou-me sobre minha grande necessidade de Deus, ela também libertou-me da ambição de ser espetacular para Deus. Esses anos têm trabalhado continuamente para corroer algumas das minhas pretensões de chamado voltadas para o leste. “Tenham o cuidado de não praticar suas ‘obras de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles”, alertou Jesus.
Quando você der esmola, não anuncie isso com trombetas, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem honrados pelos outros. […] Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará. [Mateus 6.1-4]
A discrição pode livrar-nos das nossas ambições orgulhosas. A invisibilidade pode purificar as ofertas que levamos a Deus.
Há discrição considerável na maternidade (e, quanto a isso, na paternidade). Ninguém se levanta para aplaudir quando uma mãe pacientemente suplica ao filho que tenta sumir quando é sua vez de tirar a mesa. Ninguém nota quando ela lida com destreza com as expectativas descontroladas de um fim de mês escolar. Ninguém a aclama quando ela serve brócolis no jantar ou coloca cenoura na lancheira das crianças. Uma mãe contenta-se em fazer trabalhos que são pequenos, invisíveis, medíocres e geralmente pouco apreciados. Ela pode querer ir além do trivial, mas permanecer onde está é um modo de aprender a santidade.
“Queremos que a vida tenha significado, queremos realização, cura e até mesmo êxtase, mas o paradoxo humano é que encontramos essas coisas ao começarmos onde estamos, não onde gostaríamos de estar. Precisamos procurar por bênçãos em locais improváveis, corriqueiros – fora da Galileia, por assim dizer –, e não em acontecimentos espetaculares, como o aparecimento de um cometa”, escreve Kathleen Norris no seu ensaio The Quotidian Mysteries [Os mistérios cotidianos].
A santidade é formada em nós de modo menos espetacular e mais gradual do que o esperado – sempre que a prática da fidelidade pequena e cotidiana é requerida de nós. Em algum lugar, de algum modo, Deus está pedindo a cada um de nós que faça algo tão inteiramente comum quanto amar alguém. Se permitirmos que esta verdade se assente profundamente em nós – que somos um em sete bilhões, uma partícula no ponto imóvel do mundo que gira, a cabeça do alfinete na enorme massa da história humana –, isso pode deixar que sejamos arrastados para dentro do grande chamado a sermos pequenos, menores, os menores de todos para o reino. Como disse João Batista, servos não temem o encolhimento do seu tamanho. “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Louvado seja o Pai, que, apesar do nosso desejo que clama pelo holofote, em vez disso nos dá a obscuridade e a obrigação de amar como um meio de purificar nossas ambições quanto ao chamado.
#LivrodaSemana
• Trecho retirado de O Que Você Quer? – desejo, ambição e fé cristã, de Jen Pollock Michel