Mais dicas de livros sobre literatura fantástica
A seção “Vamos Ler!”, da revista Ultimato 356 trouxe algumas dicas da chamada literatura fantástica. Como bônus, oferecemos a seguir outras sugestões.
***
Trilogia cósmica de C. S. Lewis
Conheça as resenhas da Trilogia Cósmica (Além do Planeta Silencioso, Perelandra e Uma Força Medonha), de C. S. Lewis, escritas pelo professor José Miranda Filho.
Além do Planeta Silencioso
C.S. Lewis
Martins Fontes
240 páginas
2010
Três raças inteligentes, com culturas diferentes, com anatomias diferentes, vivendo em ecossistemas diferentes de um mesmo planeta. Do conhecimento científico à poesia, dos instrumentos rudimentares a um artesanato sofisticado como joalheria nórdica. Seria possível viverem tais povos em paz, em cooperação mútua, sem guerras, dominações ou qualquer dos males relacionais que assolam nossa humanidade? É o que você poderá constatar lendo Longe do Planeta Silencioso.
Perelandra
C.S. Lewis
312 páginas
WMF Martins Fontes
2011
Em um contexto compatível com o que ocorreu na queda humana, em um novo Éden imaginário, como ocorreria o processo de tentação de Eva? Quais os argumentos que o mal poderia ter usado no convencimento? Que papel teria tido Adão durante todo o processo? Que solução poderia haver para se dar fim a uma tentação que se repetia dia e noite até a exaustão? Para tratar do tema, C. S. Lewis cria uma alegoria brilhante em Perelandra, segundo livro de sua trilogia do espaço.
Uma Força Medonha
C. S. Lewis
WMF Martins Fontes
568 páginas
2012
Começada em Malacandra (Marte), continuada no segundo Éden em Perelandra (Vênus), a luta se estabelece em Tulcandra (Terra). Poderes espirituais e científicos se unem num projeto maligno. Partindo da universidade na pesquisa para tornar o homem imortal, a estratégia do mal usa os meios de comunicação e o parlamento para “fazer a cabeça” da população e aprovar leis que permitam essa “força medonha” tomar o controle dos rumos da humanidade. Essa é a última parte da fantástica trilogia no espaço de C. S. Lewis.
O Grande Abismo
C. S. Lewis
Editora Vida
“Vou dizer-lhe uma coisa para começar. Assassinar o velho Joaquim não foi a pior coisa que fiz. Isso foi obra de um momento e eu estava meio louco naquela hora. Mas eu matei você em meu coração, deliberadamente, durante anos…”. Isso é parte de um dos diálogos do livro O Grande Abismo, de C. S. Lewis. Nele o autor “sonha” com uma viagem de ônibus da “antessala do inferno” até a “borda” do céu. Caracteres desmascarados por “pessoas sólidas” e chamados ao arrependimento para a felicidade são o ponto central dessa obra que nos ajuda a pensar com mais honestidade sobre quem nós somos.
[Por José Miranda Filho]
A Cadeira de Prata
C.S. Lewis
Editora Martins Fontes
214 páginas
2014 (3a edição)
A Cadeira de Prata conta a história de duas crianças, que são levadas às terras de Nárnia em uma missão que lhes exige tanto sabedoria como coragem para encarar os desafios que lhes aguardam. Um livro tanto para crianças como para adultos, C.S. Lewis nos mostra por meio de mais uma aventura pelo mundo de Nárnia o poder que as histórias têm tanto para nos mover, como nos mostrar verdades que muitas vezes esquecemos.
[Por James Andrew Gilbert]
O Senhor dos Anéis – Volume Único
J.R.R. Tolkien
Martins Fontes – Selo Martins
1234 páginas
2001
Em O Senhor Dos Anéis, Tolkien, cristão católico, atingiu o ápice de sua fantasia. Não há alegorias diretas entre o enredo e a fé, mas as alegorias com a meta-história do mundo (criação-queda-redenção) são muitas. Os valores de amor, humildade, simplicidade, lealdade, altruísmo e justiça cristãos claramente se manifestam no lado bom. A complexidade do mundo imaginário está entre seus principais êxitos.
[Por Davi Bastos]
As Cartas de Papai Noel
J.R.R. Tolkien
Editora WMF Martins Fontes
168 páginas
2012
As Cartas de Papai Noel são um primoroso trabalho artístico. O autor envia anualmente uma carta aos seus filhos, assinando como o Papai Noel. A imaginação de Tolkien não deixa a desejar. É interessante resgatarmos o sentido desse personagem, São Nicolau. Um cristão que presenteava as crianças no natal – e não um símbolo do consumismo como muitos acreditam, nem um símbolo de origem pagã, como a árvore de natal.
[Por Davi Bastos]
***
As Crônicas de Nárnia: resenhas
Livros: “O Sobrinho do Mago”, “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa”, “O Cavalo e Seu Menino”, “O Príncipe Caspian – A Viagem do Peregrino da Alvorada – A Cadeira de Prata – A Última Batalha.
Autor: C. S. Lewis (1898 – 1963)
Por Elvis Lima
O SOBRINHO DO MAGO
Nárnia, Nárnia, desperte! Ame! Pense! Fale! Que as árvores caminhem! Que os animais falem! Que as águas sejam divinas!
O Sobrinho do Mago é o primeiro – em ordem cronológica – dos sete livros que compõem As Crônicas de Nárnia, escritos pelo autor Clive Staples Lewis, publicados a partir de 1950. A história gira em torno da amizade entre a menina Polly e seu vizinho Digory (cuja mãe está doente) que tem um tio deveras esquisito. Quando as duas crianças decidem andar através de um túnel comprido que passava por cima das casas da rua, com o intuito de parar na casa abandonada, certo dia encontraram uma portinha e decidiram entrar: era um sótão na casa de Digory. Era todo mobiliado e sobre a bandeja de madeira, quatro anéis. A princípio não perceberam, mas tio André estava lá e fez questão de ser tão assustador quanto podia, até que decidiu presentear a menina com um dos anéis e… surpresa: a menina sumiu.
Depois, Digory, apavorado, soube do plano: tio André havia enviado Polly para outro mundo (na verdade, para um bosque entre os mundos), sem dar o anel que a permitiria voltar. Assim, o menino teve de ir levando consigo os anéis necessários para voltarem e aí a aventura começa. O primeiro grande mundo que conhecem está velho, paralisado. É quando acordam Jadis, a Feiticeira que acaba por reinar em Nárnia mais tarde. Ela é simplesmente terrível e começa uma confusão danada quando decide ir para a Inglaterra e bagunçar as coisas por lá. Logo as crianças descobrem que a ganância de seu tio André é algo mínimo comparado a daquela grande e terrível mulher. É neste livro, numa das tentativas de escapar, que eles entram em um mundo totalmente vazio e escuro, na companhia do cocheiro e seu cavalo, tio André e Jadis. Uma das mais belas cenas de todo o livro, quando o Leão começa a cantar com todas as estrelas e sua voz parece brotar da terra e trazer vida a todas as coisas. Luz, animais, relva, um sol novinho, rios, montanhas, nuvens, Nárnia!
De repente eles não mais estão num mundo vazio, mas cheio de coisas novas e a terra é tão fértil que qualquer coisa que se plante vira uma árvore logo, logo. O próprio lampião que esteve lá quando Lúcia entrou no guarda roupa foi um bastão de ferro que a Feiticeira jogou contra Aslam (e que se preciso dizer, não fez nem cócegas). Foi concedida a alguns animais a habilidade de falar, a Digory foi dada a primeira missão em Nárnia – onde teve que tomar uma decisão bem difícil –, o cavalo do cocheiro tornou-se primeiro cavalo alado de Nárnia e as coisas aconteceram. Nárnia começou a acontecer. A história se liga à do Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa por meio de uma maçã. A missão de Digory era ir através de penhascos, vales, montes, florestas até chegar à arvore que carregava maçãs belíssimas, que poderiam curar e deixar a pessoa que a comesse, jovem para sempre. Só que quem a retirasse dali, deveria tirar para outro e não para si. Polly foi com ele.
Digory logo pensou em sua mãe doente e teve vontade de levar o fruto para ela, mas resistiu. Foi fiel a Aslam e levou a maçã consigo até entregá-la. Com ela, plantaram uma árvore na beira no rio para proteger toda Nárnia. A esposa do cocheiro foi levada por Aslam até Nárnia, num piscar de olhos. Tornaram-se os primeiros reis de Nárnia: rei Franco e rainha Helena. Foram muito bondosos e lembrados até o último livro. Aslam concedeu a Digory que levasse a maçã para curar sua mãe e assim mesmo aconteceu. Estavam de volta. Feito isso, Digory plantou o que restou da maçã, no seu jardim e ali cresceu uma árvore lindíssima – não com os mesmos poderes que aquela em Nárnia, mas havia sim alguma magia. Transformada em um guarda-roupas foi o meio mágico por onde as quatro crianças que se tornariam reis e rainhas, chegaram até Nárnia.
Assim, O Sobrinho do Mago “é uma história da maior importância, pois explica como começaram as idas e vindas entre o nosso mundo e a terra de Nárnia”.
***
O LEÃO, A FEITICEIRA E O GUARDA-ROUPA
O mal será bem quando Aslam chegar, ao seu rugido, a dor fugirá, nos seus dentes, o inverno morrerá, na sua juba a flor há de voltar.
Publicado em 1950, é o primeiro livro da série, apesar de ser o segundo na ordem cronológica de leitura. O livro conta a história de Pedro, Suzana, Edmundo e Lúcia Pevensie e seu encontro com o mundo de Nárnia. Tudo começa quando as crianças se mudam para a casa do professor Kirke – personagem que aparece em O Sobrinho do Mago – por causa da guerra; e os quatro decidem explorar a enorme casa. Encontrando um guarda-roupas solitário dentro de um dos quartos, a única que deu atenção foi Lúcia, e mesmo tendo quase certeza de que não conseguiria abri-lo, tentou. Entrou no guarda-roupas, deixando a porta entreaberta, foi se aproximando cada vez mais de seu fundo, em meio a casacos e mais casacos, até que finalmente sentiu algo branco desfazendo-se sob seus pés… Era neve! Era neve e um lampião logo à sua frente e mais neve, árvores…
Lúcia naquele mundo desconhecido, aceita tomar um chá na casa do sr. Tumnus: um fauno que deveria sequestrá-la; mas não o fez. Ajudou a menina a voltar para a sala vazia. O que Lúcia não sabia é que não havia se passado tempo algum quando voltou, ainda que ela tivesse passado horas em Nárnia. Sua empolgação em contar aos seus irmãos foi logo desfalecendo por ver-se descredibilizada. No entanto, Edmundo certo dia, adentra no guarda-roupas logo em seguida da irmã, porém não a encontra. Em vez disso, conhece a terrível Feiticeira Branca, que o seduz com manjar encantado a trazer os outros irmãos da próxima vez. E a verdade é que depois disso, Ed já não se satisfazia com mais nada enquanto não comesse novamente aquele manjar turco, pois, fato é que “não há nada que tire tanto o gosto da boa comida caseira do que a lembrança de um mau alimento enfeitiçado”. Dito e feito! Bem, não tão feito assim… Certo dia as crianças fugiam da governanta com todos os seus visitantes e, por isso “ou ainda por alguma força mágica que os impelia para Nárnia”, entraram no guarda-roupas. Em pouco tempo já estavam dentro da floresta, assustados, maravilhados, até constrangidos perante Lúcia, pegaram seus casacos e foram em busca do Fauno. Mas era tarde: Edmundo havia dado com a língua nos dentes, mesmo sem saber, e a Feiticeira tornou Tumnus um prisioneiro. Então foram acolhidos por um casal de castores que contou-lhes tudo, mas antes que pudessem tomar qualquer atitude, Edmundo sumira. Tinha ido encontrar-se com a Feiticeira.
Bem, existia uma profecia sobre as quatro crianças, existia a Feiticeira que queria impedi-los, existia magia, inverno, castores falantes e Aslam!
As crianças, com exceção de Ed, ganharam presentes que usariam mais tarde em batalhas necessárias e pedidos de socorro. Em “O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa”, a traição do filho de Adão é paga pelo sangue do Grande Leão que, por meio da magia profunda, deixa-se amarrar, torturar e matar pela Feiticeira e seu exército e, por meio da magia mais profunda ainda, de antes da aurora do tempo, ressuscita e traz novamente esperança a toda Nárnia.
Na primeira grande batalha comandada por Pedro, que logo seria o Grande rei, Edmundo já redimido estilhaça o facão de pedra da Feiticeira e evita que mais guerreiros virem estátua. Em seguida, chega Aslam com todo o exército que retirou do castelo de Jadis e venceu. C. S. Lewis trouxe neste livro uma analogia fantástica com o sacrifício de Cristo; ensinando redenção, coragem e passando de forma sublime aos leitores, a noção de que tudo pode ser feito novo.
E, claro, foram os anos mais felizes e memoráveis de Nárnia; com Pedro – o Magnífico, Suzana – a Gentil, Edmundo – o Justo e Lúcia – a Destemida.
***
O CAVALO E SEU MENINO
A ninguém será contada a história do outro
“O Cavalo e Seu Menino” foi publicado em 1954. É o quinto livro da série a ser publicado, mas é o terceiro na ordem sugerida de leitura. O livro narra a fuga de Shasta – um menino que morava no Sul da Calormânia e foi parar em Nárnia – com a ajuda de Bri: um cavalo falante, que havia se tornado escravo de um tarcaã, depois de ter sido sequestrado. Shasta estava para ser vendido e soube disso pois ouviu em secreto a conversa de seu suposto pai com um tarcaã. Foi aí que decidiu fugir, descobriu que o cavalo falava e, em vez de sair montado num burro, foi com um verdadeiro cavalo guerreiro. No meio do caminho, eles encontram a menina Aravis e a égua falante Huin; os quatro decidem seguir juntos, ainda que nem todos simpatizassem um com o outro; que era o caso de Shasta e Aravis. No meio da jornada, Shasta é abordado por algumas pessoas de vestimentas muito belas e melhores que a dos calormanos e, ao chegar no lugar aonde o levaram, conhece Pedro, Edmundo, Suzana e Lúcia. Mas por que ele estava ali, afinal?
Já Aravis, descobre um plano do príncipe para invadir Nárnia e torce pra que consiga encontrar os cavalos e o menino a tempo de avisar a todos do que está por vir. Chegaram. Os quatro chegaram a tempo e salvaram Nárnia da invasão. Descobriu-se que Shasta pertencia na verdade à família real e por isso havia sido abordado no meio do caminho: tinha um irmão igualzinho a ele! Bri ainda desacreditava que Aslam era um animal e também morria de vergonha dos hábitos que adquiriu como escravo. Foi quando O Grande Leão apareceu a ele: “Bri, meu pobre, meu orgulhoso e assustado cavalo, chegue perto de mim. Mais perto, filho. Não ouse não ousar. Toque-me. Aqui estão as minhas patas, aqui está a minha cauda, aqui estão as minhas suíças. Sou um verdadeiro animal. “, ele disse.
No encontro com Shasta, Aslam lembrou-lhe de que durante o caminho, quando estavam em apuros, várias vezes aconteceram coisas e barulhos bem bizarros, que pareciam piorar tudo, mas no fim das contas estavam-nos ajudando a chegar lá! Um gato que fez companhia a Shasta, um leão que arranhou Aravis, os leões que uniram os quatro viajantes… tudo para que tivessem êxito em sua missão – era sempre ele, Aslam. Mostrando com isso que, sob sua sombra e rugido, o que há de ser, na verdade, já foi.
***
A VIAGEM DO PEREGRINO DA ALVORADA
Era uma vez um garoto chamado Eustáquio Clarêncio Mísero, e na verdade bem merecia esse nome. Os pais diziam Eustáquio Clarêncio, e os professores, apenas Mísero
Publicado em 1952, é o terceiro livro da série “As Crônicas de Nárnia” a ser publicado, porém, o quinto livro na ordem sugerida de leitura. O livro tem como personagem principal Eustáquio (com seu diário), primo dos Pevensie e narra o retorno de Lúcia e Edmundo para Nárnia. Eustáquio é um sujeito impertinente, pé no chão e bem enjoado, que caçoa dos Pevensie por ouvi-los falar de Nárnia. Acontece que numa dessas estadias dos primos por lá, o quadro pendurado no quarto de Lúcia passa a tornar-se mais real do que Eustáquio poderia imaginar (se é que naquela época ele fosse capaz de imaginar algo).
Nesse momento eles se viram no meio do mar, ao lado do magnífico Peregrino da Alvorada, o navio. Foi então que viajaram na companhia de Caspian, sua tripulação e bem… um rato – mas não esses ratos comuns, eles eram bem maiores e, especialmente Ripchip, “o mais valente de todos os animais falantes de Nárnia, o rato-chefe”, que durante a viagem, mesmo que todos houvessem desistido de encontrar o país de Aslam, sua esperança fê-lo combater todos os obstáculos que se lhe apresentavam.
O livro traz grande ênfase para a transformação do ser humano, que é feita muitas vezes de forma dolorosa; e também mostra a impotência do ser humano de mudar a si mesmo por seus meros esforços – tudo isso na figura de Eustáquio, que ao tornar-se dragão tem um estonteante encontro com Aslam e que no fim das contas, foi como dragão melhor do que havia sido como menino – até então.
Assim que volta a ser menino, Eustáquio descreve: “A primeira unhada que me deu foi tão funda que julguei ter atingido o coração. E quando começou a tirar-me a pele senti a pior dor da minha vida. A única coisa que me fazia aguentar era o prazer de sentir que me tirava a pele. É como quem tira um espinho de um lugar dolorido. Dói pra valer, mas é bom ver o espinho sair. ”
“A Viagem do Peregrino da Alvorada” leva-nos a uma paisagem belíssima, aos muitos mares, ilhas, à escuridão, ao País de Aslam (pelo menos à beirada dele). E, chegando lá, é ensinada às crianças uma das mais valiosas lições para suas vidas: reconhecer Aslam! Sim…
“Está também em nosso mundo? – perguntou Edmundo. – Estou. Mas tenho outro nome. Têm de aprender a me reconhecer por esse nome. Foi por isso que os levei a Nárnia, para que, conhecendo-me um pouco, venham a conhecer-me melhor”.
Desta forma, acabam as aventuras de Edmundo e Lúcia em Nárnia (não antes que esta abraçasse Ripchip) – com muita coragem e anseio pelo País de Aslam.
***
O PRÍNCIPE CASPIAN
Não seria medonho se um dia, no nosso mundo, os homens se transformassem por dentro em animais ferozes, como os daqui, e continuassem por fora parecendo homens, e a gente assim nunca soubesse distinguir uns dos outros?
Publicado em 1951, é o quarto livro na ordem sugerida de leitura. Narra a história de Caspian, cujo trono foi usurpado por seu tio Miraz e cuja vida está em perigo. Sabendo disso e tendo recebido a trompa mágica de Suzana do doutro Cornelius, fê-la soar. Nesse mesmo instante, Pedro, Edmundo, Susana e Lúcia -que estavam esperando o trem, sentem beliscões, pisadas em seus pés e, é claro, magia!
Em seguida já se encontravam nas ruínas de Cair Paravel, muito embora tenham demorado a reconhecer o lugar, que estava abandonado, pois seus habitantes – animais falantes, anões, dríades – foram obrigados a esconder-se do rei tirano. A história testa a lealdade dos seres de Nárnia em meio às circunstâncias adversas e mostra como a dureza dos corações impede de perceber os sinais do caminho verdadeiro e até mesmo de ver Aslam; como aconteceu quando as crianças procuravam o caminho e Lúcia dissera ter visto o próprio Leão, porém os outros não podiam vê-lo – sequer acreditavam no que ela dizia, com exceção de Edmundo, que sabia bem como a irmã optava sempre pela verdade. Recebendo coragem de Aslam, Lúcia compreende por fim que, embora as coisas houvessem de ser difíceis, “as coisas nunca acontecem duas vezes da mesma maneira “ e o Leão estaria sempre com eles.
Com ênfase na ousadia e fé, neste livro temos pela primeira vez o nome de Ripchip, o rato mais corajoso e sagaz de toda a Nárnia; também é o fim das idas de Pedro e Suzana para lá. É claro que por fim, o Príncipe Caspian recupera seu trono e as crianças voltam à Inglaterra. As dríades, ninfas, árvores retornam à a vida, como nos tempos mais felizes de Nárnia e os animais falantes não mais precisam esconder-se. E se perguntassem a Aslam como seria se as coisas não houvessem tido êxito, bem, ele diria: “Dizer o que teria acontecido? Não, a ninguém jamais se diz isso”.
***
A CADEIRA DE PRATA
Em letras grandes, estampadas no mundo ou no céu (não sabia dizer ao certo), estavam as palavras: “DEBAIXO DE MIM”.
Então deram-se as mãos e, concentrando toda a sua força de vontade para que algo acontecesse, viram-se de repente à beira de um alto precipício, muito acima das nuvens, na terra encantada de Nárnia. A Cadeira de Prata foi publicado em 1953, sendo o sexto livro na ordem de leitura, muito embora sua ordem de publicação seja a quarta. Nesta aventura, Aslam chama Eustáquio e a colega Jill, através do portão dos fundos da escola, para procurarem pelo Príncipe perdido, Rilian, filho de Caspian. Jill fica encarregada pelo Leão de recordar-se dos sinais que indicariam o rumo para conseguir resgatar o príncipe, mas assim que chegaram, perderam o primeiro sinal; e durante a jornada, perderam outros. Escondidos de Caspian e seu braço direito, seguiram ajudados primeiro pelas corujas e então pelo muito pessimista, paulama Brejeiro: “mas não tem a menor importância se esquecerem” seu nome; porém eu diria que vale a pena lembrá-lo. Seguiram pelas terras do norte, quase virando refeição de gigantes; então chegaram às terras debaixo da terra, onde encontraram o príncipe – enfeitiçado.
O autor destaca como o mal pode ser tão agradável aos olhos, a ponto de cegar o ser humano para sua verdadeira missão; em contrapartida ensina lealdade e o faz brilhantemente através de Brejeiro, que, enfrentando a Feiticeira Verde no exato momento em que usava um dos seus encantamentos, persuadindo a todos de que Nárnia era apenas uma brincadeira de suas mentes, disse: “Somos apenas uns bebezinhos brincando, se é que a senhora tem razão, dona. Mas quatro crianças brincando podem construir um mundo de brinquedo que dá de dez a zero no seu mundo real. Por isso é que prefiro o mundo de brinquedo. Estou do lado de Aslam, mesmo que não haja Aslam. Quero viver como um narniano, mesmo que Nárnia não exista. “. Ao que o príncipe acrescenta num futuro próximo: “Isso quer dizer que Aslam será nosso guia, quer nos reserve a morte ou a vida.”
A proteção que Brejeiro deu às crianças foi louvável e bem, sua fé o tornou capaz de resistir a um feitiço e até quebrá-lo. Ao voltarem, embora Jill estivesse envergonhada frente ao Leão por não ter recordado todos os sinais, as crianças recebem o belo consolo de Aslam: “Não pensem mais nisso. Não me zango o tempo todo. Vocês cumpriram a missão que lhes foi confiada”. O príncipe Rilian retornou ao encontro de seu pai, após vencidos os encantamentos da terrível Dama do Vestido Verde e sua Cadeira de Prata, com boas doses de verdade e bravura; tornando-se grato às suas novas amizades.
***
A ÚLTIMA BATALHA
Lembre-se de que todos os mundos chegam ao fim. E uma morte nobre é um tesouro que ninguém é pobre demais para comprar
“A Última Batalha” foi o último livro a ser publicado (1956) e também é o último na ordem sugerida de leitura. O livro narra a vida do último rei, Tirian, em uma luta entre o mal e a verdade; tendo como principal fato o surgimento de um falso Aslam e sua influência sobre a Terra de Nárnia. O falso Aslam, que na verdade era um jumento coberto com pele de Leão, fora influenciado pelo macaco Manhoso a passar por isso, sob a desculpa de “tornar Nárnia melhor”. Acontece justamente o contrário, pois o macaco passa a se aliançar com os calormanos e a prejudicar tanto os animais falantes – transformando-os em animais de carga – como as árvores e dríades.
Desta forma, a fé dos personagens é colocada à prova, tal qual seu conhecimento sobre o verdadeiro Aslam. Lewis traz à tona a inconstância das criaturas quando não conhecem o caráter de seu verdadeiro Criador; a tal ponto que os seres se inclinam a crer que dois deuses totalmente opostos poderiam ser o mesmo, ainda que isso fizesse parecer mau o Grande Leão.
Em “A Última Batalha”, há a grande luta, o enorme cansaço dos filhos de Aslam, a perseverança, as grandes dores, o belíssimo reencontro, a gloriosa esperança! Juntamente a isso, surge a ênfase sobre a imprevisibilidade da Graça de Deus, que na forma do Grande Leão, recebeu na verdadeira Nárnia os seres que aparentemente menos mereciam e lançou à sua sombra alguns que por dedução entrariam com Ele na glória eterna: “Pois todos encontram o que realmente procuram.”
E assim decorre o último livro das Crônicas de Nárnia, mas “finalmente, estavam começando o Capitulo Um da Grande História que ninguém na Terra jamais leu: a história que continua eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor que o anterior”.