Cinco livros que todo pensador cristão deveria ler em 2015
Por Ricardo Q. Gouvêa
Perguntaram-me quais os livros lançados no Brasil recentemente que considero os mais importantes a serem lidos. Não uma lista de clássicos, aos quais devemos sempre retornar, mas dos lançamentos recentes que merecem atenção por seu impacto, pela sua relevância. Eis aqui a lista, não de livros com os quais eu concordo inteiramente ou que eu recomendo que sejam aceitos como verdadeiros, mas sim que exigem do pensador cristão profunda reflexão e uma resposta. Toda lista é pessoal e idiossincrática, e esta não é diferente, mas espero que seja útil.
1. Os Cristãos e os Desafios Contemporâneos (John Stott. Editora Ultimato, 2014).
Esta tradução é talvez o principal lançamento do ano no Brasil, pois, mesmo tendo sido escrito há cerca de trinta anos, continua inteiramente atual e útil. John Stott (1921-2011), já falecido, continua sendo a voz do equilíbrio e da moderação, tão importante de se ouvir neste tempo de extremismos teológicos e de fanatismo religioso entre evangélicos. Os livros de Stott sempre foram um bom antídoto contra o hipercalvinismo. O livro aborda as grandes questões éticas e políticas de nosso tempo a partir da Bíblia e da cosmovisão evangélica.
2. Protestantismo e Ditadura (Silas Luiz de Souza. Fonte Editorial, 2014).
Um dos mais lúcidos e equilibrados professores de teologia presbiterianos do Brasil, o autor nos convida aqui a refletir criticamente sobre nossa história recente. Um texto útil neste tempo em que as igrejas estão começando a entender a necessidade de reconhecer os equívocos do passado, e de humildemente pedir perdão por seus pecados. Denominações ao redor do mundo têm aprendido esta virtude, como, as Igrejas Reformadas Holandesas, por exemplo, ao aceitarem a Confissão de Belhar, escrita no contexto do Apartheid, como símbolo de fé. Assim também devem fazer as denominações evangélicas brasileiras no que concerne aos seus equívocos do passado, alianças políticas de questionáveis a injustificáveis, como no caso da ditadura militar.
3. A Formação da Cristandade: Das Origens na Tradição Judaico-Cristã à Ascensão e Queda da Unidade Medieval e A Divisão da Cristandade: Da Reforma Protestante à Era do Iluminismo (Christopher Dawson. Editora É, que é uma subdivisão da É Realizações. 2014).
O famoso historiador católico inglês teve suas imperdíveis obras-primas lançadas no Brasil este ano pela “É”, que já havia disponibilizado, do mesmo autor, Progresso e Religião (2012), e tem feito um trabalho editorial inapreciável, disponibilizando em língua portuguesa textos essenciais de pensadores católicos, como a obra do francês René Girard (1923-), por exemplo, e agora, Christopher Dawson (1889-1970). Tomara que cause algum impacto.
4. Crença e Evidência: Aproximações e Controvérsias entre Religião e Teoria Evolucionária no Pensamento Contemporâneo. (Organizadores: Clarissa de Franco e Rodrigo Petrônio. Editora Unisinos, 2014).
Esta obra traz vários artigos de autores especialistas no diálogo entre religião e ciência, lidando com uma das questões cruciais deste diálogo, que é a teoria da evolução de Darwin e toda a ciência desenvolvida a partir dela, incluindo a sociobiologia e várias hipóteses filosóficas sustentadas por esse paradigma. Em um tempo em que charlatões são levados a igrejas para falar sobre o assunto, congressos desonestos de jaez apologético dão a entender que estão abertos ao diálogo, este livro é altamente recomendável para quem está interessado no assunto, pois é um oásis de seriedade acadêmica, diálogo honesto e propriedade científica e teológica.
5. O Amor Vence: Um Livro sobre o Céu, o Inferno e o Destino de Todas as Pessoas que Já Passaram pela Terra. (Rob Bell. Editora Sextante, 2012).
Um dos mais populares e controversos dentre os autores evangélicos contemporâneos, Bell merece atenção. A tradução brasileira de Love Wins: A Book about Heaven, Hell, and the Fate of Every Person Who Ever Lived (Harper, 2011) foi lançada em 2012 e já circula há mais tempo que as demais obras acima listadas, todas de 2014. Foi incluído, todavia, porque continua sendo um dos livros mais impactantes e relevantes hoje no ambiente das controvérsias teológicas evangélicas, tendo gerado um grande debate sobre o inferno e o céu e outras questões escatológicas que prossegue a todo vapor. Recomendo, para quem puder, obras complementares que poderão servir como apoio ou antídoto: Erasing Hell: What God Said About Eternity and the Things we Made Up by Francis Chan and Preston Sprinkle, 2011. É a resposta conservadora mais difundida nos EUA. Há também obras acadêmicas sérias sobre assunto: Inventing Hell: Dante, the Bible and Eternal Torment By Jon M. Sweeney; The Formation of Hell: Death and Retribution in the Ancient and Early Christian Worlds by Alan E. Bernstein; e The History of Hell (Harvest Book) by Alice K. Turner.
- Ricardo Quadros Gouvêa é pastor da Igreja Presbiteriana do Bairro do Limão (São Paulo) e professor do programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Carlos Caldas
Ah que maravilha! Os textos do Prof. Ricardo Quadros Gouvea são uma sempre bem recebida lufada de ar fresco nos oxigenados porões da pretendida “reflexão” evangélica brasileira que quer ter monopólio das mentes e corações do povo evangélico brasileiro, que se pretende erudita, mas que de reflexão não tem nada, só tem repetição. Parabéns ao pessoal da ULTIMATO por dar espaço ao Ricardo Gouvea, exceção piedosa e pensante neste meio! Que bom que ele indicou John Stott, exemplo de equilíbrio e moderação, mas que fundamentalistas brasileiros rejeitam. Que bom que ele indicou “Protestantismo e ditadura”, tema ao qual os evangélicos ainda fecham os olhos e fingem que nada aconteceu. Que bom que ele denunciou ‘charlatões são levados a igrejas para falar sobre o assunto, congressos desonestos de jaez apologético dão a entender que estão abertos ao diálogo” (quanta enganação meu Deus do céu! quanto charlatão ganhando dinheiro em igrejas por aí com palestras fajutas, que fingem erudição…). Que bom que ele teve coragem de indicar Rob Bell, já conhecido no Brasil por trabalhos ótimos como “Jesus quer salvar os cristãos”. Parabéns Ricardo! Parabéns ULTIMATO!
Marlon Silva Marques
As indicações do dr. Ricardo Quadros Gouvêa me são sempre bem-vindas. John Stott tem sempre o seu lugar reservado na minha biblioteca. Tenho muitos livros dele, mas ainda falta outros tantos para saboreá-lo cada vez mais. O livro de Stott indicado ainda não tenho, porém o saboreei um pouco numa livraria. Como é de praxe no reverendo anglicano, é sensacional! Não conheço o rev. Sílvio Luiz de Sousa. Talvez o conheça por meio do livro indicado. O livro do Chistopher Dawson já havia visto e também havia me interessado muito. Certamente o terei em breve. Confesso que não me interessei pelo livro organizado por Clarisse de Franco e Rodrigo Petrônio. Já li o livro do Rob Bell mencionado e, embora discorde do seu universalismo, vejo uma grande abertura de mente a quem o lê no tocante a amar as pessoas mais do que o intuito de meramente lhes passar uma informação meio que fundamentalista do céu e inferno.
Graça e Paz!
Celso de Medeiros Costa
Aos Doutores /
(ao texto imediato do Dr. R. Quadros Gouveia e
ao bilhete mediato do Dr. C. Caldas Filho);
bom-dia.
1- Tem sido bom ler/ouvir o primeiro.
2- Segue na mesma linha o derradeiro.
3- Conservador continuo este mineiro.
Pra paz:
Ex-aluno do Dr. Ricardo, no CPPGAJ, e
quase aluno do Dr. Carlos, no mesmo:
(Tripas/tri-Paz: 565/438).
DENIS B CARVALHO
Parabéns pelas indicações e pelo comentários.Gostaria muito de contactar por e-mail o professor Gouveia, pois trabalho com Psicologia Cognitiva da Religião e filosofia do processo e gostaria de trocar algumas ideias.
Eduardo
Se eu babar publicam?
DENIS B CARVALHO
Fique tranquilo, caro Eduardo. O Ultimato é democrático: publicou seu veneno endereçado a pessoas que você não conhece, mas que ousaram discordam de ti. Talvez sua baba contenha menos veneno…