A Flip, a literatura e os evangélicos. Não necessariamente nessa ordem
A Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) é um sonho de consumo para quem gosta de livros. E não é apenas por conta dos livros. As ruas, o quebra-queixo e o encontro da serra com o mar fazem de Paraty um auxílio luxuoso à Festa, que completou 12 anos na primeira semana de agosto.
Em meio à indecisão do quê e quem acompanhar naqueles dias, começo a desconfiar da multidão. Estariam todos atrás de livros? Seriam leitores à paisana? Ao sentar para ouvir uma exposição deliciosa sobre o homenageado – Millôr Fernandes –, me pergunto quantos leram um haicai do guru do Méier. Bem, afasto o complexo de Ló e sigo a disputar espaço, em pé e no meio da rua, para ouvir um ou outro autor-celebridade sobre literatura, sexo, educação, mulheres, política e, claro, sobre o futuro do livro.
Na Flip, não faltam mesas para leitores de muitos talheres. O livro é um detalhe. Aliás, acabo me lembrando de outra feira, em 2008, quando apoiamos uma espécie de “Flip Evangélica”, também em Paraty. Foram quatro dias de retumbante fracasso. Durante o dia era possível ouvir uma ou outra mosca passeando pelos estandes do pavilhão de exposição. À noite, na praça ao lado da feira, a multidão se acotovelava para ver a celebridade gospel da hora. Evangélicos, nem sempre nos damos bem com as feiras literárias. Melhor, depende da “feira”, depende da “literatura” e depende dos “evangélicos”. Misturar os três e acertar a medida é um desafio.
E por falar nisso, na Flic (Feira Literária Internacional Cristã), ao contrário da Flip, são poucas mesas e muitos livros. Este ano, de 18 a 20 de setembro, em São Paulo, a Flic acontece em dobradinha com o Salão Internacional Gospel e algumas dezenas de editoras e celebridades cristãs mostram ao respeitável público o que têm feito de bom ou nem tanto. Ultimato também vai esperar o seu leitor por lá. Você é nosso convidado para experimentar o melhor doce de leite do Brasil. Não, não mudamos de ramo; continuamos publicando a revista Ultimato e um monte de livros.
Foto: André Conti
Eduardo
Será sempre um fracasso feira de livros com o olhar da FLIP. Os seus dois últimos parágrafos explicam.
A FLIP não são para os descolados. Pouco importa se estão lá para comprar, ler, ouvir. A FLIP é a explosão de ideias na forma de livros e debates. É a exposição do que a mente humana produz — de bom e de ruim — em um espaço de tempo e sob a batuta de um arranjo empresarial para produzir ideias.
A FLIC é diferente. É uma exposição para mostrar que todo mundo pode vestir azul (pensa a mesma babaquice), variando apenas a tonalidade ou o degradê.
Imagina o assunto sexo na FLIP e o mesmo assunto na FLIC!
Gostei de sua honestidade — “… quando apoiamos uma espécie de “Flip Evangélica”, também em Paraty.” — porque você não falou do fracasso, mas do fracasso evangélico em ser o que ele quer ser, um gigante com pés de barro.
E não tenho nada contra evangélicos. Minha esposa o é e tenho por ela o maior respeito pela qualidade de seus atributos como mulher cristã. Mas até ela na sua simplicidade sabe perceber que existe um limite até onde a mente evangélica vai.
Um exemplo clássico, clássico porque eu ouvi mais de uma vez de gente muito inteligente e muito evangélica: “é impossível em nossa fé [evangélica] o debate para valer porque corremos o risco de perder. E se o debate for sobre um artigo de fé desses fundantes, se perdemos deixamos de ser o que somos, cristãos e especialmente evangélicos”, arrematou ele.
Eis aí uma boa explicação do fracasso da FLIP na FLIC de Paraty. O povo sabe quando é marketing e propaganda, ainda que bem intencionadas.
Adelaide Souza
Celebridades cristãs?
Haian
Eu desisto de feira de livros evangélica. Eu estive na Flic em duas edições e foi um fracasso. Em SP eles nunca tiveram publico. Também é um evento sem graça, sem sal a impressão que dá é que fazem uma feira para alimentar os seus egos. O tal Areté é uma papagaiada são sempre os mesmos ganhadores.