“Caras como eu estão ficando velhos” [Titãs]
— Por Klênia Fassoni
Por razões óbvias, li É Preciso Aprender a Envelhecer antes de ser impresso.
E por ter sido impactada, divido alguns comentários com vocês. É uma leitura envolvente, e interessa a leitores de diferentes idades. Para nós que nos aproximamos da aposentadoria ele traz uma contribuição ainda mais rica. Há bons motivos para lê-lo:
– primeiro, o autor. Paul Tournier é amoroso com os leitores, conhecedor e simpático às lutas internas que todos nós temos. Ele escreve este livro aos 73 anos, não omitindo a “dureza” da velhice, mas tratando-a como algo natural que ele próprio experimenta
– o conteúdo: é sobre a vida em todas as suas fases. Ele enfatiza no decorrer do livro: seremos na velhice o que somos hoje, ou, a vida que teremos é fruto das escolhas que fazemos hoje. Há um longo texto com o sugestivo título “Cultivemo-nos!”
– ele aprofunda o conceito de “segunda ocupação”. Para Tournier, a maturidade (ou a aposentadoria formal) não é apenas uma etapa da vida para desfrutarmos do lazer e do descanso. É oportunidade de nos “expandirmos”, isto é, aprender novas coisas, exercer novas tarefas, continuar sendo guiados pelo sentido da vida
– ele demonstra que o assunto “envelhecimento” é apenas o ponto culminante na montanha da vida; a nossa angústia real é com a “incompletude” da vida
– na primeira parte, embora os dados sejam desatualizados [Tournier escreveu este livro em 1971], fica evidente o seu empenho em advogar em favor dos velhos (assim como crianças, doentes mentais, os ‘fracos’) para que estes tenham seu lugar na sociedade como pessoas de direito. O fundador da “medicina da pessoa” era também um lutador pela justiça.
Algumas frases:
“As forças diminuem e podem aparecer doenças, mas o coração, a capacidade de amar e a necessidade de dar sentido à própria vida estão intactos.”
“A vida tem uma única direção. Suas leis são iguais para todos e caminha sempre para frente. Uma vida normal flui harmoniosamente, sem passos para trás, nem saltos bruscos. Preparamos a nossa velhice quando, ao longo da vida, tomamos atitudes positivas.”
“A dor do inconcluso é privativa da condição humana e inata no eterno desgarramento que experimentamos entre nossa aspiração ao absoluto, ao ilimitado e as barreiras – internas e externas – contra as quais nos chocamos sem que possamos evitar.”
“Jogar o jogo do velho na juventude ou do jovem na velhice, comportar-se como solteiro sendo casado, fingir amor a alguém que se detesta ou pretender uma coragem que não se tem, são situações que deixam um mal estar e (demonstram) o descompasso consigo mesmo, com a própria verdade.”
Boa leitura.