Lições de um torcedor na Copa do Mundo
Por ter recebido convites-cortesia de uma empresa participei, juntamente com minha esposa e alguns familiares, da abertura da desta Copa do Mundo. Relato, a seguir, alguns fatos que considero significativos, bem como, algumas reflexões a respeito:
1. Apesar das greves e protestos nos dias que antecederam a abertura da copa, com algumas poucas exceções, tudo funcionou normalmente. As linhas de metrô, o trem expresso da CPTM aqui em São Paulo, por exemplo, poderiam ser comparados aos meios de transporte disponíveis nas grandes cidades do mundo.
Reflexão: Tomara que fique como legado dos investimentos da Copa para servir a população brasileira e não apenas como vitrine para atrair um maior fluxo turista.
2. No percurso do trem expresso, de apenas 19 minutos, presenciei um clima de confraternização entre croatas e brasileiros que continuou nas dependências da arena, durante o jogo, e mesmo após a conclusão da partida, com os torcedores de ambas as nações tirando fotos e trocando camisas entre si.
Reflexão: Esta foi uma aula prática sobre a distinção entre INIMIGOS e OPONENTES. Ambos divergem em seus pontos de vista, ao defender posições antagônicas. Porém, somente entre OPONENTES existe um clima de confiança e lealdade que transcende as diferenças e permite o respeito às opiniões contraditórias. Já entre INIMIGOS, dada a baixa confiabilidade, as relações resvalam para o fanatismo e a rivalidade estereotipada chegando muitas vezes a eventuais manifestações de violência.
3. O trajeto desde a saída da estação do trem até a entrada da arena é de 900 metros. Ao longo deste caminho presenciei pessoas de diferentes nacionalidades com cartazes escritos em inglês e espanhol anunciando que necessitavam de ingresso para o jogo inaugural. Fiquei a imaginar o esforço que estas pessoas fizeram para viajar de seus países até chegar a São Paulo, sem a certeza de que poderiam entrar. E, ainda, o quanto que teriam que pagar caso aparecesse algum oportunista oferecendo o tão almejado ingresso.
Reflexão: Correlacionei esta situação com a parábola das virgens loucas que não levaram azeite de reserva para suas lâmpadas. Ao irem comprar, perderam a oportunidade de participar das bodas do Cordeiro. Lembrei-me, então, do alerta: “Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora que o Filho do homem há de vir”. (Mateus 25.13).
4. Foi emocionante participar de um acontecimento que teve início na Copa das Confederações e se repetiu na abertura desta Copa: o fato da torcida brasileira continuar cantando o hino nacional, juntamente com os atletas de nossa seleção, mesmo após a interrupção do acompanhamento musical, limitado a 37 segundos, conforme o protocolo da FIFA.
Reflexão: Se já foi emocionante cantar em uníssono o hino nacional brasileiro num coro de mais de 50 mil vozes, fico a imaginar como será emocionante quando todos reconhecerão Jesus, cujo nome está acima de todo nome, para que ao nome dele se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. (Filipenses 2.9-10)
5. Quando a Croácia inaugurou o placar, a torcida croata ficou numa euforia que contrastou com o clima de apreensão da torcida brasileira que era maioria entre os 62.000 expectadores presentes. O troco veio quando o Neymar empatou o jogo, ainda no primeiro tempo, e nos dois gols do 2º tempo, culminando com a vitória final por 3 x 1. À noite, ao assistir o vídeo da partida, tive uma emoção completamente diferente após o gol da Croácia, pois já sabia o resultado do jogo.
Reflexão: Os cristãos, muitas vezes, enfrentam adversidades momentâneas que podem trazer preocupação transitória. No entanto, Cristo nos adverte: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16: 33). Diante deste quadro, imagino Satanás e seus “torcedores” procurando tirar proveito de situações em que eles estão levando vantagens (vide Salmos 73). A nós, cristãos, cabe a certeza de que, em Cristo, somos mais que vencedores.
6. Quando o Brasil empatou o jogo, a presidente Dilma, que estava presente à partida, apareceu nos telões da arena comemorando o gol do Neymar. Imediatamente, ecoou um coro de xingamento ao seu nome. Recordei que, por ocasião da Copa das Confederações, ela foi vaiada ao ler o discurso de abertura. Posteriormente, tomei conhecimento, através da imprensa que, para evitar a reincidência de tal dissabor, o cerimonial decidiu que nem a presidente Dilma, nem o presidente da FIFA fariam pronunciamentos na abertura desta Copa do Mundo.
Reflexão: Considerei uma lamentável demonstração de falta de respeito ouvir um coro de milhares de torcedores brasileiros gritando palavras de baixo calão, expondo a presidente à execração pública, com a agravante da repercussão internacional pela mídia. Como contraponto, lembrei-me de ter assistido no Pacaembu, décadas atrás, a um jogo amistoso entre a equipe dos atletas de Cristo e outra formada por jogadores de várias equipes também profissionais. Durante a partida, a torcida, composta em sua maioria de cristãos, começou a entoar o refrão: “Biro-Biro, Jesus te ama”. Na sequência, todos os demais jogadores da equipe adversária aos atletas de Cristo também foram mencionados seguido do mesmo refrão.
Ao contrastar as referidas manifestações, lembrei-me do texto: “… A boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6.45)
• Américo Marques Ferreira é consultor de empresas e organizações, e sócio diretor da AMF Parceria. Américo gosta de escreve a partir de situações cotidianas.
Artigo escrito no dia 12 de junho de 2014.