Nunca livres de riscos
[Dallas Willard]
É absolutamente essencial à natureza de nosso desenvolvimento pessoal rumo à maturidade que nos aventuremos a correr riscos, pois apenas o risco produz o caráter. Essa verdade se intensifica ainda mais quanto à caminhada com Deus. Discordo, nesse ponto, de pessoas bem sábias, como A. T. Pierson, que acredita que a orientação de Deus impede que corramos riscos:
“Uma grande regra para os que querem ser realmente dirigidos pela coluna de nuvem e de fogo de Deus é não dar um passo sequer seguindo a orientação de sua própria vontade ou sem o mover claro do guia celestial. Embora a direção seja nova e o caminho pareça repleto de dificuldades, não há nenhum risco, já que somos guiados apenas por Deus. Cada novo passo precisa de autorização específica e especial da parte dele, e a orientação de ontem não é suficiente para hoje”.1
Esse texto é belo e útil, exceto pelo que diz sobre os riscos. Sobre isso, não é cem por cento exato quanto ao que significa viver com as palaras de Deus em nossa vida. A imaturidade de muitos cristãos de hoje se deve à atitude expressa nesse trecho com relação aos riscos como a única verdade sobre ouvir Deus falar.
Depois de adotar essa atitude, passamos a tentar usar nossa habilidade para ouvir a Deus como artifício para garantir-nos uma vida livre de perigos. Quando não funciona – e é certo que não funcionará -, começamos a acusar a nós mesmos, as outras pessoas e até mesmo o próprio Deus por sermos um fracasso. Essa reação explica em parte por que Deus continua sendo a maior decepção da humanidade. Quem de nós não tem uma queixa contra ele? Na verdade, não precisamos arriscar-nos por vontade própria, mas nunca estaremos livres dos riscos, pelo menos neste mundo. Nem deveríamos tentar nos isentar deles.2
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Dallas Willard era filósofo e escritor cristão. Faleceu nesta quarta-feira, dia 08, vítima de câncer.
Notas:
1. A. T. Pierson, George Mueller of Bristol (Nova York: Baker & Taylor, 1899), p. 196.
2. Este texto é um trecho do capítulo 09 do livro “Ouvindo Deus”, publicado em 2002 pela Editora Ultimato em parceria com a Textus. O livro está fora do catálogo.