Pode incomodar como o vício em cigarro, abalar relacionamentos como a dependência alcóolica e causar dívidas como a dependência química. Ainda assim, o “vício” em internet não parece ser um grande problema para a maioria das pessoas. Claro que exageramos na abertura deste post, mas levados às últimas consequências, o descontrole no uso dessa ferramenta pode mesmo causar estragos. E perceba que não é tão difícil encontrar pessoas que administram vários perfis no Twitter, têm mais facilidade em relacionar-se pelo Facebook do que pessoalmente ou que se esforçam – e endividam-se – para ter a última (ou alguma) versão do iPhone…

Na enquete mais recente, perguntamos se o leitor de Ultimato era um viciado em internet e… vejam só: 26% reconhecem que são internetholics. 48% afirmam ainda manter esse costume sob controle, mas que correm o risco de tornar-se um viciado. 26% só utilizam a internet como ferramenta de trabalho, enquanto apenas 2% (em números absolutos, uma única pessoa) disse que não costuma usar a internet frequentemente. Claro que precisamos levar em conta que essa enquete foi feita na própria internet, utilizando o nosso site e o Facebook…

Mas e você? Qual é a sua relação com a internet? Aproveite a oportunidade para ler a entrevista abaixo, na qual a jornalista Márcia Casali conversa com Uriel Heckert, médico psiquiatra e Membro Pleno do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC).

 

1) O senhor conhece alguém, ou já ouviu, que sofra de infoxicação?

Uriel: Sim, este é um mal que vai se tornando cada vez mais frequente. Já atendi, por exemplo, uma jovem que passou 3 dias e 3 noites “plugada”, com privação de sono e alimentação. As consequências para a saúde só podem ser desastrosas. Não podemos negar que isso representa total submissão da liberdade pessoal a um desejo que se torna dominante. Sabe-se hoje que cerca de 10% dos que usam computadores, redes sociais, telefones celulares e equipamentos do gênero já estão ou se tornarão dependentes desses recursos tecnológicos.

2) Existem sintomas?

U: Já se caracterizou um novo distúrbio da ansiedade, denominado nomofobia, expressão derivada do inglês “no mobile”. Tal diagnóstico se aplica a pessoas que ficam desesperadas em situações nas quais não têm disponível algum dispositivo de comunicação. O uso de tais recursos torna-se compulsivo, numa verdadeira escravidão a tecnologia. O apelo é tão forte que se sobrepõe aos relacionamentos pessoais, às tarefas de trabalho e às próprias necessidades fisiológicas.

3) Qual a melhor forma de tratamento?

U: Como acontece em situações semelhantes, o primeiro grande passo é a tomada de consciência da real situação. A tendência geral é que a pessoa negue a sua condição de dependência, iludindo-se quanto ao autodomínio, que tudo faz porque assim prefere, que pode mudar o comportamento se assim o desejar. Sabe-se que isso é uma negação que só serve para retardar a busca por mudanças. Grupos de ajuda mútua, entre pessoas que experimentam esta ou outras formas de dependência, mostram-se muito efetivos. Psicoterapia pode ser necessária e até recursos psiquiátricos. O aconselhamento, especialmente aquele de base cristã, pode apontar outros interesses e motivações, estimulando escolhas mais sábias para a vida.

4) E para quem é viciado em internet, podemos falar que isso está relacionado a algum distúrbio mental?

U: Trata-se, antes de tudo, de uma patologia da liberdade, daquelas condições que nos tornam menos humanos. Não podemos negar que esta é um das contradições trazidas pela Modernidade e que expressa muito bem a miserabilidade da condição humana: tudo que se conquista e serve de benefício para a Humanidade, acaba sendo usado de forma nociva e prejudicial. Vale lembrar o alerta que desde o princípio receberam nossos ancestrais: “O teu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo” (Gênesis 4.7).

5) Tenho um sobrinho de apenas 3 aninhos que nem foi alfabetizado e já sabe entrar na internet e procurar os jogos e desenhos que gosta. Minha irmã estipulou dia e hora para ele navegar. Essa é uma boa saída para os pais?

U: Sim. Por um lado, não se pode viver sem dominar os recursos da tecnologia. Por outro, cabe aos pais estipular limites, acompanhar cada passo dos filhos, discutir com eles os conteúdos que estão acessando, sempre apontando princípios sólidos e norteadores para a vida. As crianças e adolescentes têm como direito fundamental contar com pais presentes e vigilantes, que os eduquem para o bom uso dos recursos que têm a mão.

6) Conheço um jovem de 24 anos que não trabalha, não estuda e fica em média 8h no computador. É normal virar a noite diante da tela falando com os amigos, paquerando, vendo vídeos. Nesse caso, o que a pessoa deve fazer?

U: Um dos sintomas da dependência da tecnologia é exatamente essa preferência absoluta pelo consumo da mesma, mesmo em detrimento de outros interesses e necessidades. Tomar consciência da situação, desejar mudar e buscar ajuda são os passos a seguir.

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