A esperança que não desaponta
O que há em comum entre os textos de 1Coríntios 13,13 e Romanos 5,5? Não vale dizer que é o autor. Nem que, nos dois casos, o versículo tem o número do capítulo. Lamento, mas tem que ler.
Uma dica: a resposta fica mais fácil se você ler a partir do verso 1º.
Minha resposta-spoil: a esperança. Está nos dois.
Em 1Co 13 ela aparece como uma das virtudes que restarão quando tudo tiver passado (v.8). Já em Romanos, ela surge como uma espécie de alegria por sabermos quem é no nosso Deus (v.2), o que nos mantém firmes na graça à qual tivemos acesso, pela fé.
Mas você poderia dizer que sua resposta foi o amor. E se valesse todo o parágrafo, você ainda incluiria a fé (no que você estaria cheio de razão).
Chama-me a atenção, entretanto, a situação em que a esperança aparece. Ela parece ter personalidade: frágil, vulnerável, dependente. Como uma criança, que precisa de cuidados constantes. Ou como uma samambaia, que viceja na sombra e sofre ao sol ardente. Parece que a fé e o amor foram designados por Deus para cuidar dela, para que ela não seja aniquilada (ICo 13,8 e 10).
Reparo que em Rm 5 ela é resultante de uma guerra. A “esperança da glória de Deus” está envolvida com luta, garra e têmpera (tribulação, perseverança e experiência). Já em 1Co 13 ela sobrevive ao aniquilamento graças à fé e ao amor, seus cultivadores.
Já se perguntou, irmã(o), por que tanto cuidado com a esperança? Acho que há muito a descobrir, com essa pergunta. Mas, de pronto, fica claro que ela é preciosa. Talvez vital. Sem ela, talvez não sobrevivêssemos às lutas. Pior, não nos levantaríamos da cama, pela manhã. Não abriríamos as janelas.
Mas Deus lhe deu duas fontes de vida e proteção: a fé, que a nutre com a dimensão do sagrado, com a perspectiva do milagre, com as possibilidades infinitas da presença de Deus; e o amor, que tudo vence, que tudo espera, que a tudo sobrevive, e perdura, e se levanta de novo, e enfrenta dores, traições e injustiças.
Que coisa! Por um lado, a esperança adquire força e fibra com “exercícios de desespero”; por outro, ela repousa e se recompõe nos abraços de amor de Deus, que em nossos corações é derramado pelo Espírito Santo (Rm 5).
Nem toda esperança tem essa energia vital. Há aquelas que nos desapontam (Rm 5,5). É por isso que precisamos aprender, com fé, sobre tribulações e também sobre esse amor-presença de Deus. O que nos tornará inabaláveis em tempos de pandemia é sabermos que nada nos separará do amor de Cristo. Nada.