Sempre considerei uma informação óbvia que os anjos cantam. Temos muitos hinos tradicionais e cânticos mais modernos que dizem isso explicitamente. Assim, também imaginei que o “coro celestial” cantou, ao anunciar aos pastores a vinda de Jesus. 

Ocorre que, desta vez, ao meditar sobre o assunto, procurei o texto específico, em Lucas 2, e não encontrei o verbo cantar, mas, sim, dizer. Surpreso, resolvi pesquisar. Deve ser questão de tradução, pensei. Seguem os versos que fazem alguma alusão ao assunto e meu brevíssimo comentário. 

Jó 38:7 – Sobre que foram firmadas as suas bases, ou quem lhe assentou a pedra de esquina, quando juntas cantavam as estrelas da manhã, e todos os filhos de Deus bradavam de júbilo?

  • As estrelas da manhã, ou  estrelas da alva, que cantavam, são uma referência a seres angelicais, sem dúvida. Mas não, exatamente, a anjos. Concluo isso de todos os comentários examinados. 

Lucas 2:13-14   Então, de repente, apareceu junto ao anjo grande multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens de boa vontade.

  • A multidão da milícia celestial dá ideia de exército, e não coro; e eles louvam a Deus, “dizendo”, não, exatamente, “cantando”.

Lucas 15:7 – Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.

  • Não se trata de “festa no céu”, que pode evocar a música que o Pai preparou para a volta do filho pródigo. Fala de “alegria no céu”. Alegria sem música? Festa sem música? Bem, não se menciona nem a palavra “música” nem o verbo “cantar”.

Ap 5:8-12 – Logo que tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E cantavam um cântico novo, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação; e para o nosso Deus os fizeste reino, e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra. E olhei, e vi a voz de muitos anjos ao redor do trono e dos seres viventes e dos anciãos; e o número deles era miríades de miríades e milhares de milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor.

  • Os versos falam de “seres viventes e de anjos”. Os quatro seres viventes cantavam, juntamente com os anciãos. Na segunda parte, onde todos estão juntos ao redor do trono, eles não cantam; eles “dizem”.

Ap 15: 2-4 – E vi como que um mar de vidro misturado com fogo; e os que tinham vencido a besta e a sua imagem e o número do seu nome estavam em pé junto ao mar de vidro, e tinham harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos. Quem não te temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois só tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos.

  • Aqui, canta-se o Cântico de Moisés e o Cântico do Cordeiro. Com uma mesma letra (razão porque não dá para saber se são dois cânticos ou um só), com acompanhamento de harpas. Mas quem canta são aqueles que tinham vencido a besta. Estão no céu, diante de Deus, mas não são anjos. 

1Co 15:52 – num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados.

Ap 8:6-13 – Então os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se para tocar. primeiro anjo tocou a sua trombeta, e houve saraiva e fogo misturado com sangue, que foram lançados na terra; e foi queimada a terça parte da terra, a terça parte das árvores, e toda a erva verde. segundo anjo tocou a sua trombeta, e foi lançado no mar como que um grande monte ardendo em fogo, e tornou-se em sangue a terça parte do mar. E morreu a terça parte das criaturas viventes que havia no mar, e foi destruída a terça parte dos navios. O terceiro anjo tocou a sua trombeta, e caiu do céu uma grande estrela, ardendo como uma tocha, e caiu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas. O nome da estrela era Absinto; e a terça parte das águas tornou-se em absinto, e muitos homens morreram das águas, porque se tornaram amargas. O quarto anjo tocou a sua trombeta, e foi ferida a terça parte do sol, a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas; para que a terça parte deles se escurecesse, e a terça parte do dia não brilhante, e semelhantemente a da noite. E olhei, e ouvi uma águia que, voando pelo meio do céu, dizia com grande voz: Ai, ai, ai dos que habitam sobre a terra! por causa dos outros toques de trombeta dos três anjos que ainda vão tocar.

  • Uma palavra sobre as trombetas do Apocalipse. São muitas ocorrências de anjos tocando trombetas. Entretanto, não me parece que sejam ocasiões musicais, e sim sinalizadores de momentos importantes. São toques que desencadeiam movimentos e ocorrências. Pode-se dizer, portanto, que os anjos tocam pelo menos trombeta.

Minha conclusão (s.m.j.) é que há, sim, música no céu. E não é pouca. O céu é um lugar onde ocorrem os fenômenos da alegria, do júbilo, do louvor e da música, em formas instrumentais e vocais. Ou seja, há cânticos no céu. Entretanto, não encontrei evidências inequívocas de que os anjos cantem. Podemos dizer, com alguma certeza, que além dos seres humanos, entidades celestiais (“estrelas da manhã”, “filhos de Deus” e “seres viventes”) tocam e cantam. 

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