Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas — Dt 6: 6-9.

Quando teu filho, no futuro, te perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos que o Senhor, nosso Deus, vos ordenou? Então, dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó, no Egito; porém o Senhor de lá nos tirou com poderosa mão — Dt 6: 20, 21.

 

Infant Grabbing Man's FingerPassadas as emoções da Páscoa, resta-nos viver “em Canaã”. Marcados por esses eventos formadores de identidade — tanto os do Egito quanto os de Jerusalém —, já não podemos viver como servos, pois agora Deus nos quer povo dele. Livres para adorá-lo.

É assim que nossa identidade cristã se funda e se edifica em um fato e em uma história. O fato é a libertação da servidão, seja do Faraó, seja do poder da morte; e a história é o legado — e o testemunho vivo — dessa experiência de salvação, transmitido de geração em geração.

Os textos acima nos mostram como o povo judeu passava, por força de mandamento, aos seus filhos essa experiência, ao ponto de torná-los parte da aliança entre Deus e Abraão. A incorporação desses fatos à sua própria biografia fazia deles herdeiros da promessa, membros da aliança.

Esse mecanismo de tradição permanece. Ainda hoje vivemos a experiência pessoal e íntima da “saída do Egito” e da longa “caminhada a Canaã”. Uma experiência comunitária, que se exercita e se concretiza — como concreto — no caráter de um filho, de uma filha.

Juntamente com a experiência de libertação, precisamos manter o legado do caminho; a herança do que aprendemos no deserto: experiências de fé recebidas dos mais antigos para ser transmitidas e vividas junto com os nossos filhos.

Encerradas as emoções simbólicas da Páscoa, resta-nos passar aos mais novos um fato e uma história. Não apenas narrativas, mas vivências.

As novas gerações ficarão intrigadas com os caminhos que percorreremos; com as escolhas que faremos; com os valores que adotaremos e aos quais nos apegaremos; com os limites éticos que livremente nos imporemos. Ficarão intrigadas com nossa obstinação em nos fazermos povo, em andarmos juntos, em sermos família e igreja. Ainda que sozinhos na repartição, na sala de aula, empurrando no carrinho do supermercado, permaneceremos igreja.

Então, nossos filhos nos perguntarão: o que significa esse jeito de viver? E lhes diremos: somos um povo; povo de Deus. Já fomos escravos; mas o Senhor nos libertou com poderosa mão.

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