Tenho pensado sobre comunhão. Um tema caro aos cristãos. Tenho pensado sobre a Aliança. Um tema associado. Não há como pensar num e esquecer o outro. Como decorrência, tenho pensado no desafio que a comunhão, dentro da Aliança, representa para mim, hoje. Explico-me.

            Vivemos um delicioso tempo de liberdades. Sem grandes amarras sociais, sem controles, sem censuras, sem intromissões. Vivemos como queremos. Se alguém chegar perto demais, dizemos: “dá licença?!”

           Bem, isso também encerra qualquer conversa mais, hã, “quente” (no sentido de íntima, pessoal). Se dizemos isso para um colega de trabalho, ok, morreu; mas se dizemos isso para um pai, uma mãe, ou um filho, encerramos a conversa, do mesmo modo e preservamos nosso espaço. E ainda restará, como efeito colateral, um desencorajamento a se voltar a esse assunto. Ou mais ainda; um aviso de que não gostamos da, hã, “proximidade” exagerada.

            Esse tipo de “chega pra lá” não era possível, quando eu era criança. Houve muitas mudanças sociais, de lá para cá. Entramos na pós-modernidade, e uma de suas características é essa liberdade meio que suicida. Não a acho ruim. Acho-a perigosa, como um remédio-veneno (a diferença é só de dosagem).

            Se nos acostumamos a viver no nosso espaço; e o fazemos inviolável, fazemo-nos um pouco avulsos, também. Se ninguém pode chegar perto demais, acabo me tornando órfão. E essa orfandade me torna só. Um pouco perdido. Um pouco vulnerável à rapina.

            Pior; se me lambuzo do melado do “dá licença”, perigo perder de vista todo o patrimônio simbólico da Aliança. Ele se vai com o rompimento dos pactos e práticas ligados à comunhão. Trazemos as coisas em comum para uma superficialidade que não nos incomode.

            Nesse momento, ao celebrarmos um casamento, por exemplo, prometemos sem nos comprometer; juramos de dedos cruzados, queremos mais a estética. Ao tomar o pão e beber o cálice, esperamos por bênçãos, sem saber exatamente o que isso significa. Certamente, não significará sacrifícios, pois sacrifícios relacionais não estão entre as bênçãos por nós desejadas.

            Vamos em frente, em nosso cristianismo eclesiástico. Só que, com mecanismos de defesa acionados. Se os irmãos chegarem perto demais, já sabemos o que fazer.

            Ouço Paulo dizer, aos Efésios: “até que todos cheguemos à perfeita varonilidade, à amedida da estatura…”. E trocamos por “até que todos cheguemos à perfeita liberdade, à diversão total…”

            “Gostosuras ou travessuras”, é o nosso lema pós-moderno. Aliança por Haloween. Completamos o kit trocando Natal por presentes e Páscoa por ovos de chocolate. Ai, que delícia. 😉

            Desculpem. Foi um desabafo.  🙂

  1. É sempre um deleite mas também uma chacoalhada ler suas reflexões-desabafos. Fiquei pensando: a Aliança não permite a existência de um “Plano B”. Requer sinceridade e transparência. Afinal, “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 João 4.20).

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