Dizem os estudiosos do grego da época de Jesus, chamado “Koinê”, que o “tu me amas?” de Jesus se inicia com a palavra “agapao”, de onde surgiu nosso “ágape”, um amor espiritual. Pedro responde com “fileo”, de onde nos vêm filosofia e filantropia; um amor-interesse, no sentido de amizade. Entendem, esses mesmos, que Pedro, vencido pelo amor de Cristo, muda de fileo para agapao. Tomo essas informações por verdadeiras ao resgatar a dinâmica emocional dos versos 12 a 15. Esse texto deve ser lido no ritmo de “rapp”. (cf. Lucas 22:31 e 32 e João 21)

Veja esse mesmo texto ilustrado em quadrinhos pelo Gade.

1.
Esta é a história de um Pedro,

Chamado Simão,
Ou Cefas, sei não;
Filho de João,
Um homem sem medo,
Um filho de Adão,
Ou melhor, do perdão,
Do medo da cruz,
Vergonha da luz,
De negar Jesus.

Salve, Pedro, Simão!
Pedra e petra serás,
E, quando pensas que não,
Refeito teu coração,
Cordeiros apascentarás
.

2. Era uma vez um Simão,
Filho de João,
Chamado de Pedro,
Que quer dizer pedra,
Ou petros, pra alguns;
Homem sem medo,
E temperamento forte,
Que zombava da morte;
Não sei se era forte,
Ou doido de pedra.

3. Pedro, ou melhor, Simão,
Um homenzarrão,
Pescador valente,
Que zomba do vento,
E dorme ao relento;
Desdenha da dor,
E de qualquer elemento
Que tente se opor
A um temperamento
Que, num certo momento,
Revelasse um tremor.

4. Já vimos que é gente forte,
Acostumado com a sorte
Da vida em perigos,
No Mar da Galiléia,
Onde, junto com amigos,
Desafia a morte,
Sem ter muita idéia
Do dia que raia,
Quando, ao vento do norte,
E ele chegasse à praia.

5. Ao puxar sua rede,
Junto com André,
Pedro, morto de sede,
Pela noite no mar,
Tem uma prova de fé,
Quando, ao se levantar,
Dá com um homem, de pé,
À espera dele, e, sem vacilar,
Lhe ordena que o siga;
E ele o faz sem pensar.

Salve, Pedro, Simão!
Pedra e petra serás,
E, quando pensas que não,
Refeito teu coração,
Cordeiros apascentarás.

6. São três anos, agora,
Seguindo Jesus, seu mestre,
Na cidade ou caminho afora,
Em tempo e fora de hora
Com gente ou companhia eqüestre
Para chegar neste ponto,
Sem eira nem beira,
Tristeza que nem conto,
Ao pé de uma fogueira,
Tendo-o negado três vezes.

7. Ai, Simão Barjonas, coitado!
Por Cristo chamado de Petra,
Agora, nem lembra a pedra,
Na verdade, é um verme, açoitado
Por um remorso insistente
Que grita: que tipo de gente
Faz isso com seu mestre amado?!
Antes tivesse, no entanto,
Calado essa boca covarde
Que o galo escarnece com um canto.

8.
— Vou pescar — diz Pedro a um,

No desconsolo da vida;
— Melhor é voltar para a lida
Do Mar de Cafarnaum,
Pois não sei fazer nada,
Senão pescar meu atum,
Coser a rede furada
(Êta vida danada!)
— Como se aqui na enseada
Eu fosse apenas mais um.

9.
— Mas que maré de má sorte!

— Diz nosso homem de ferro,
Agora sem rumo e sem norte.
Pra quem resolvia no berro
Causas de vida e de morte,
E a gora se vê no vexame
De ter de encarar a mulher
E ser reprovado no exame
Do prato, copo e talher,
Sem um peixe para comer…

10. — Mas que rebuliço é este?!
— Diz ele, vestindo a roupa,
Ao ver a rede esticada,
Cheia de tainha e garoupa
Peixes de dois quilos cada,
Pescados ao lado do barco
Por ordem daquele na areia
Que com dedo, desenha um arco
E que Pedro, assustado, receia
Que seja o próprio Senhor.

Salve, Pedro, Simão!
Pedra e petra serás,
E, quando pensas que não,
Refeito teu coração,
Cordeiros apascentarás.

11. Um desjejum da saudade,
Pois ali todos sabiam
Que, ele, sem barulho ou alarde,
Já preparara, diziam,
Peixe e pão, como antes,
E Simão, de esperança e temor
Cabeça entre os joelhos,
Entre a vergonha e o amor,
Foge dos olhos amantes,
Pra não se ver nos espelhos.

12. — Pedro, tu me amas?
— Quer saber o mestre.
— Mais que a todos os outros?
— Simão, tu me “agapás”?
— Pergunta ele, em Koinê.
Cristo vai fundo porque
O amor reacende as centelhas.
— Mestre, eu te “filéo”, não mais.
— Responde, contrito, Simão.
— Apascenta as minhas ovelhas.

13. — Simão, me agapás? — Retorna o
mestre.
— “Agapao” já não cabe,
— Pensa depressa. — É incoerente,
Me soa indecente, depois do que fiz;
Vou de “filéo”, mais terreno,
Um amor mais ameno,
Pra quem, por um triz,
Não pega uma pena eterna.
— Tu sabes, Senhor, te “filéo”.
— Apascenta as minhas ovelhas.

14. — Simão, me filéias?
— Pela terceira vez indaga;
Agora, vendo a tristeza
Que, como adaga, se crava
No coração e idéias
Desse homem-pobreza.
— Senhor, da terra e do céu,
Sabes todos os caminhos,
Sabes que te “filéo”!
— Apascenta meus cordeirinhos.

15. Salve Simão, filho de João!
Tua amizade “filéo”, aceita,
Se transforma em perdão,
Receita de uma nova vida,
Agora, sofrida e ungida,
Mas totalmente refeita
A serviço do Mestre,
Em quem agora te espelhas
E a quem, com “agapao” te achegaste.
Morre em paz, meu irmão,
Mártir da cruz que negaste,
Manso pastor de ovelhas.

Salve, Pedro, Simão!
Pedra e petra serás,
E, quando pensas que não,
Refeito teu coração,
Cordeiros apascentarás.

  1. A historia do Pedro nos serve de exemplo. Jesus disse que quando o pastor fosse atacado até os mais chegados fugiriam. Onde foram parar os demais apóstolos. É muito fácil olhar para Pedro só por essa perspectiva.Apesar da sua amarga experiência, ele pode desfrutar do olhar misericordioso do Senhor porque,contudo, permaneceu por perto.Pior é quando nos afastamos da vista do Senhor.

    • Florisvaldo, acho que você está certo. Enquanto estivermos por perto, a porta para o retorno, para a restauração, estará aberta. Isso me lembra João 3, onde Jesus diz que alguns fugiram para as trevas, porque suas obras eram más. Triste, hem?

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