O divórcio cresceu, no Brasil, de 3,3 por 100 casamentos, em 1984 para 17,7, em 2002, de acordo com pesquisa realizada no Brasil por Eliana La Ferrara, da Universidade de Bocconi e IGIER, Itália, e Alberto Chong, do Banco Inter-americano de Desenvolvimento (BID) [1] .

Essa pesquisa revelou uma correlação significante entre a presença do sinal televisivo da Globo, em particular das novelas, e o aumento dos divórcios.

Analisando os censos do IBGE de 1970, 1980 e 1991, os pesquisadores descobriram que a proporção de mulheres separadas ou divorciadas cresce significantemente quando a programação da Globo se torna disponível na área. Isso fica mais evidente ainda em cidades menores, onde o sinal atinge fração maior da população. “A Rede Globo foi eleita para esse estudo por ser um monopólio virtual, desde 1965, e também o primeiro a investir em novelas”, informam os autores.

A pesquisa concentrou-se na influência das novelas sobre a situação sócio-econômica das mulheres. Seus autores dizem que “as novelas incluem, tipicamente, temas relacionados com a crítica a valores tradicionais e fomentam a circulação de ideias modernas, como a emancipação e o fortalecimento da mulher, seja no trabalho seja em casa”. “Separação e divórcio são reflexos naturais dessas atitudes”, dizem eles.

Inserindo seu estudo em uma série de pesquisas sobre o papel da televisão no desenvolvimento sócio-econômico de países em desenvolvimento, os autores se concentraram em divórcios e separações por serem elementos visíveis e quantificáveis.

O estudo abrangeu todas as novelas da Globo, de 1965 a 2004. Duas variáveis foram observadas, para os personagens femininos de cada novela: (1) se ela era separada ou divorciada e (2) se ela era fiel ao seu parceiro. Os resultados, após o tratamento científico dos dados, revelaram que o relacionamento extra-conjugal feminino manteve-se relativamente constante ao longo do tempo. Cerca de 30% dos personagens femininos das novelas, ao longo desses anos, são infiéis.

Outro achado é que separação ou divórcio eram temas praticamente ausentes das conversas entre os personagens, até meados dos anos 70. Mas cresceram, daí em diante, até chegarem à média de 20%. Os autores chamam atenção para o fato de que esses foram os anos do debate sobre a legalização do divórcio.

Conduzida em mais de 3 mil municípios brasileiros, a pesquisa revela que novos padrões de “normalidade comportamental” podem ser estimulados pelas novelas e podem atingir grupos específicos (como, no caso estudado, as mulheres casadas), a um custo baixo. Podem, assim, ser empregados como ferramentas de políticas públicas. Nesse sentido, os autores esperam estar fornecendo ao BID e aos governos meios de usar mais eficientemente essa poderosa arma.

Lendo um artigo publicado sobre essa pesquisa, procurei pelo segmento evangélico. Mas ele não existe. Não houve essa preocupação. Os autores se concentraram apenas nas mulheres. E de uma perspectiva positiva: “os efeitos do divórcio unilateral sobre a redução da violência doméstica, o fortalecimento da mulher, tanto no lar quanto no trabalho etc.”

Os autores de novelas alegam que não criam nada; apenas retratam a realidade já existente. Mas tenho cá minhas desconfianças que a novela já foi eleita “a menina dos olhos do mercado”, senhor todo-poderoso de nossa sociedade de massa. Repare que ninguém age contra o mercado. Nem mesmo governos socialistas. Quem tentou, perdeu. Aí estão os escombros do muro de Berlim, para atestar.

Se a essa entidade misteriosa não interessar uma família formada por casamentos duradouros e fiéis, entre homens e mulheres, ela será ridicularizada nas novelas, que passarão a mostrar o “sexo sem gênero ou número” como sinônimo de liberdade: lindos casais (ou trios) coloridos, lutando contra a opressão retrógrada pelo direito de existir sob a proteção da lei e, por que não, de Deus.

Se o mercado lucrar com gente avulsa e caótica comprando compulsivamente para esquecer a dor da solidão, “desconstruirá” até a proteção que a Constituição brasileira dá à família. Seu objetivo, enfim, é recriar nossa sociedade à sua imagem e semelhança. Para ser-lhe senhor; “…para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome” (Ap 13:17). E a mídia, em geral serva fiel, já recebeu suas ordens.

[1] CHONG, A., LA FERRARA, E. Television and Divorce: Evidence from Brazilian Novelas [Chong: Inter-American Development Bank; La Ferrara: Bocconi University and IGIER.] <http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=1856109>.

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