Lastro é o peso usado para dar estabilidade a um objeto. Os navios carregam lastro sólido, na forma de pedras, areia ou metais. Hoje em dia, usa-se água, para permitir a redução do lastro quando o navio está carregado. Quando o navio é descarregado, enchem os tanques, para manter a estabilidade, balanço e integridade estrutural da embarcação.

Essa prática antiga produziu uma metáfora muito usada: “o lastro de uma pessoa ou de uma vida”. Diz-se que a experiência se transforma em lastro. Ou seja, esse “peso” passa a dar estabilidade à pessoa. Ela já não “aderna” com facilidade. Suporta as tempestades sem “emborcar”.

Também se diz que a família é o lastro de um jovem. Aqui, a versão moderna de lastro, que é aumentado e diminuído, conforme a necessidade, é figura perfeita. Casa-se com a idéia de que o jovem, pela sua pouca experiência, precisa de mais lastro para enfrentar as crises da vida adulta. As tempestades atingem a todos, mas afundam os barcos mais leves. Também a família pode aumentar ou diminuir seu “peso” sobre um jovem, conforme perceba que ele está “navegando de forma instável”, ou que sua estrutura pode se romper.

Embora adultos tenham, em geral, o lastro da experiência, muitas vezes já não têm a família, ou esta já não funciona como tal. Nesse sentido, tanto adultos quanto jovens precisam saber onde buscar essa segurança e estabilidade para suas vidas.

Gostaria de sugerir uma importante fonte de lastro: a igreja. A segunda família. Com a diferença de que esta nunca desaparece, nunca se desfaz. Nossas famílias de sangue um dia se desintegram, seja por morte, seja porque nos mudamos para longe. Mas a igreja sempre estará lá, à nossa espera.

Sabemos disso. O problema é que tendemos a não considerar a igreja como família. Não aceitamos quando ela “aumenta o lastro” sobre nós. Não nos envolvemos tanto e não permitimos “aproximações exageradas”. E quando mantemos distância, quando permanecemos “visitantes assíduos”, retiramos da igreja esse elemento familiar; retiramos seu poder estabilizar nossa vida para a hora da tempestade.

Sim, a casa edificada sobre a rocha é aquela que se constrói comunitariamente, com vinho e pão. E a imagem de uma construção, aqui, é útil: é algo que não se faz da noite para o dia. Há um longo e penoso processo de assentamento de tijolos com argamassa.

Na hora da tempestade, o “visitante assíduo” pede ajuda. E há de recebê-la, claro. Mas há uma ajuda que ninguém lhe poderá dar, nessa hora: lastro. Não se mexe em lastro de navio, em meio à tempestade.

Quanto a isso, o jovem tem as maiores dificuldades e também oportunidades. Seu lastro é pequeno, por causa da pouca experiência de vida. Mas, se começar agora, jamais chegará à velhice como “a palha que o vento dispersa” (Sl 1: 4).

Jovem, descubra a bênção de envolver-se “até o pescoço” com sua igreja. Com as pessoas da igreja. Sirva-as, com perseverança, alegria e ação de graças. Parta-se como pão. Derrame-se como vinho, sem nada cobrar. Perceba que as brigas entre irmãos e a superproteção dos mas velhos são “coisa de família”. Com o tempo, você se perceberá um navio de grande calado, que não aderna com a tempestade.

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