“A gente se escondia no quintal, para ele não levar a gente”.

“Mamãe dizia assim: — Mariana, diz pra ele que você não quer ir”.

“Eu me lembro que só de pensar como seria eu estar com meu pai, passeando num shopping e tomando sorvete, eu me sentia traidor de minha mãe. Por isso, eu disse ao oficial de justiça que ele havia tentado fazer coisa feia comigo”.

“Aos vinte anos, encontrei nas coisas da minha mãe dezenas de cartas que ele me escrevera e descobri que muito do que eu sabia (e pensava) sobre meu pai era mentira. Mas como uma criança pode desconfiar da própria mãe?”.

“Como eu gostaria de ter tido um pai; mas minha mãe matou meu pai dentro de mim. E eu sinto uma imensa culpa porque acho que colaborei com ela”.

A síndrome da alienação parental está sendo reconhecida pelos juízes, pelos psicólogos e já merece um projeto de lei, em tramitação na Câmara federal. Trata-se de um processo pelo qual o genitor que, após a separação, fica com a guarda da criança, consciente ou inconscientemente destrói, na mente dessa criança a imagem do outro. Atualmente, isso é feito mais pela mãe, porque ela tem ficado com a guarda da criança em 90% dos casos (mas isso está mudando, e já se conhecem casos em que o pai, que ficou com a guarda do filho, usa esses recursos de alienação).

É comum um genitor se vingar do outro, tentando matá-lo no coração do filho comum. Para isso, vale-se de silêncios, de palavras depreciativas, de reações sem palavras, ao ser mencionado o nome do outro etc.

Ouvi um homem dizer que esperara seu pai para o seu primeiro jogo de futebol. Mas ele não veio. A mãe lhe disse: “não fica triste, Zé, você sabe que seu pai é muito ocupado. Quem sabe ele vem num próximo jogo? Mas ele gosta muito de você, pode acreditar”. Anos mais tarde, ele descobriu que seu pai não havia sido comunicado, pela mãe, daquele jogo e de muitos outros eventos. Questionada, ela disse que havia esquecido de dar os recados dele.

Muitos pais influenciam a percepção que a criança tem do outro genitor no sentido de produzir ódio, desprezo, repulsa ou indiferença. Repetem conceitos depreciativos, avaliações caluniosas, relatos de fatos inexistentes (que explicam fatos existentes) e interpretações unilaterais de ocorrências e experiências vividas com aquele outro genitor. O resultado é a implantação de memórias falsas, que se afirmarão como verdadeiras na mente da criança. Em alguns casos, essas “memórias” se fixarão como lembranças pessoais, como se, de fato, tivessem sido presenciadas pela criança.

Estudos recentes tentam avaliar os danos dessa “morte em vida” do pai ou da mãe. E começam a descobrir que os prejuízos emocionais são imensos.

Nesse ponto, eu fico a pensar se não temos feito algo parecido, no tocante à relação de nossos filhos (de sangue ou de alma) com seu Pai Celestial. Por atitudes, comentários desairosos (muitas vezes habilmente dirigidos ao pastor da igreja), desleixos, questionamentos, “orações” difamatórias, maus exemplos etc. O fato é que, se quisermos matar o Pai dessas crianças, saberemos como tentar, mesmo que não haja uma “separação formal” entre nós. O mundo nos tem ensinado essa arte.

Meu medo é estar fazendo isso sem perceber. Quero estar atento, em temor. Que eu ame o “Pai de meus filhos” ao ponto de jamais ser preciso ouvi-lo dizer: Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te argüirei e porei tudo à tua vista (Sl 50:21).

Por outro lado, me conforta pensar que esse Pai não precisa de autorização judicial, com dia e hora marcados, para visitar seu filho.

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