Semana 50: Lucas 13.6-9

Uma parábola: a figueira estéril

Então Jesus contou esta parábola: — Certo homem tinha uma figueira na sua plantação de uvas. E, quando foi procurar figos, não encontrou nenhum. Aí disse ao homem que tomava conta da plantação: “Olhe! Já faz três anos seguidos que venho buscar figos nesta figueira e não encontro nenhum. Corte esta figueira! Por que deixá-la continuar tirando a força da terra sem produzir nada?” Mas o empregado respondeu: “Patrão, deixe a figueira ficar mais este ano. Eu vou afofar a terra em volta dela e pôr bastante adubo. Se no ano que vem ela der figos, muito bem. Se não der, então mande cortá-la.”

Versículo 6. Não há mudança de audiência da passagem anterior. Jesus estava falando com as mesmas pessoas. Sem nenhuma introdução, Jesus narra uma história sobre uma figueira plantada no meio duma vinha, uma prática comum em Israel (Jl 1.7, 12; Is 5.1-7; Rm 11.17ss). Em conjunto a vinha e a figueira são símbolos de paz (Mq 4.4; Zc 3.10). Também, em Oséias, a figueira, em suas primícias, é símbolo de Israel como um povo puro, inocente e responsável (9.10). Ao contrário, a figueira estéril é símbolo de Israel idólatra. Mas parece-nos que Jesus teve especificamente Miquéias 7.1-7 em mente, porque cita Miquéias 1.6 poucos versículos antes, em Lucas 12.53. Em Miquéias, os líderes infiéis, desonestos e de todo jeito maldosos são representados por videiras sem uvas e figueiras sem figos. Com certeza, isto estava tanto na cabeça de Jesus quanto daqueles que ouviram a sua narração desta história. Além disto, o jeito que a parábola da vinha é usada em Isaías 5.1-7 e também por Jesus em Lucas 20.9-16 nos indica que a parábola da figueira estéril se referia especificamente à crise da liderança infrutífero dos mestres da Lei e dos chefes dos sacerdotes (veja Lc 20.19) e não mais aos judeus de modo geral.

Na parábola, o dono da vinha e o seu empregado conversam juntos sobre a sua figueira plantada no meio da vinha. Tipicamente a figueira crescia três anos antes de dar fruto. Depois, durante os próximos três anos o fruto era considerado proibido, de acordo com Levítico 19.23. O fruto do quarto ano de fruto, isto é, do sétimo ano de vida da figueira, era considerada puro, e era oferecido ao SENHOR (Lv 19.24). O nosso dono da vinha provavelmente estava procurando este fruto do quarto ano de fruto ou do sétimo ano da vida da figueira. E havia três anos que procurava este fruto, que não vinha. Logo, podemos deduzir que já fazia nove anos que a figueira fora plantada e nada de fruto! Já chega. Está na hora de descer o machado.

Versículo 7. Jesus estava dizendo que os líderes do povo não davam o bom exemplo. Não davam o fruto, e o fruto, conforme Lucas 3.8-9, era o fruto do arrependimento. Os líderes precisavam voltar para Deus. Se não, o povo permanecerá na espera sem fim da chegado de Deus.

Mas tem mais. A figueira e os líderes religiosos que a figueira representava, além de não dar fruto, sugavam o solo. Isto é, desgastava os escassos nutrientes do solo que poderiam sustentar alguma outra plantação. Não só não ajudavam como atrapalhavam o crescimento do povo. Eram verdadeiras sanguessugas ou chupa-sangues. Precisavam ser arrancados pela raiz, a maneira tradicional em região árida de remover uma árvore.

Versículos 8-9. Mas surpreendentemente, Jesus narra a oferta da graça de Deus. O empregado pede mais um ano para afofar o solo e adubar bem. Isto é diferente da parábola em Isaías onde não há nenhuma oferta da graça de Deus. Lá, a única resposta para a figueira infrutífera é o julgamento de Deus. Mas a narração por Jesus é diferente. Ainda há possibilidade de reparo. Algumas observações:

Primeiro, ao pé da letra versículo 8 diz, “E, respondendo, diz…” (não “disse”). O verbo está no tempo presente, uma mudança repentina do tempo passado usado até então. Assim, Jesus traz a lição desta parábola para os dias de hoje.

Segundo, a palavra koprion, traduzida como “adubo” (NTLH), “estrume” (RA, SBP) ou “esterque” (RC) ocorre apenas aqui em todo o Novo Testamento. Os dicionários dizem que não o tipo de linguagem apropriada para discursos religiosos. Eu sei que você consegue pensar numa palavra mais irreverente que corresponde a esta ideia. Lembrem-se que Jesus está se referindo à liderança, ou melhor, à falta de liderança dos mestres da Lei e dos chefes dos sacerdotes. Assim, a sua ilustração não deixa de ter uma característica trágico humorística, como se estivesse dizendo algo assim, “estes líderes ainda não estão liderando direto. Ainda não produziram fruto. Quem sabe jogando um pouco de (——) neles, melhora alguma coisa.”

Terceiro, no original aramaico evidentemente há uma trocadilho entre a palavra “arrancá-la” (fsūqīh) e “perdoá-la” (shbūqīh). Assim, o empregado roga para o “perdão” da figueira e não que seja “arrancada”. Também, o empregado não define este prazo especificamente como sendo de “o ano que vem” (v.9, NTLH) mas deixa o período indefinido como “por um tempo” ou “para o futuro” (exatamente como a mesma frase em 1Tm 6.19).A ênfase claramente na misericórdia de Deus e não no seu juízo.

Finalmente, uma condição é colocada. Depois de dois atos de tentativa de redenção (afofar a terra e pôr bastante adubo), se ainda não há fruto, a ordem é de “cortar” a figueira (literalmente “arrancá-la do solo). Ou seja, o juiz há de vir. Não há como adiá-lo indefinidamente. Um dia virá. E o juiz vai procurar fruto.

Conclusão

Chegamos no final da parábola e não há conclusão. Jesus deixa os seus ouvintes no ar, suspenses. O dono das terras concordou com o adiamento da sentença? E a figueira, reagiu positivamente? Chegou a produzir fruto? Não sabemos! E isto, certamente porque estas perguntas são destinadas para nós, como nos casos do massacre no templo e da tragédia da queda da torre que matou 18 pessoas. Nós nos arrependeremos? Voltaremos para Deus? E nós, pastores, presbíteros e diáconos, líderes de células e professores de escola dominical, sugamos a terra ao nosso redor dos nutrientes destinados para a vinha. Ou produzimos belos frutos consagrados para Deus?

Ou preferimos cogitar a razão das desgraças ao nosso redor pensando que isto ocorre por causa do pecado dos outros? Em fim, quando pensa em erro, em falha, em pecado, pensa em quem? Pensa inicial e principalmente nos outros. Ou consegue pensar em si mesmo?

Volte para Deus. Este é o primeiro passo na vinda de Deus para sua vida e se nós, como povo de Deus, conseguirmos, em conjunto, voltar para Deus, nos arrepender, Deus certamente voltará para Deus e abrir as portas no céu para nós. Basta uma coisa só: voltarmos para Deus.

Oração

Aceite-nos, ó Deus, pessoas falhas, ganosas e egoístas que somos. Reconcemos o nosso erro. Somente o SENHOR é o nosso norte. Transforme-nos. Em nome de Jesus. Amém.

Observações técnicas provenientes principalmente do livro de Kenneth Bailey. A poesia e o camponês. São Paulo, Vida Nova: 1985.

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