Héber Negrão

MINOLTA DIGITAL CAMERAOs cristãos frequentemente são desafiados através de sermões e testemunhos a ofertar para a obra missionária. Infelizmente a ênfase deste apelo é sempre na área financeira e esquecemos que a obra missionária não é feita somente com o bolso dos cristãos, mas também com as suas mãos. Não aquelas mãos que contribuem – tão difundida no famoso modelo triplo de envolvimento missionário – mas aquelas mãos que colaboram ativamente.

Lembro-me de, pelo menos, dois exemplos bíblicos de pessoas que usaram o que tinha em mãos para se envolverem na obra de Deus. Moisés, ao ser convocado por Aquele que É, tentou se esquivar da tarefa. Quando foi arguido sobre o que ele tinha em mãos, respondeu – imagino que depois de um longo suspiro e com o olhar cabisbaixo – “um bordão” (Ex 4.2). E foi este bordão que Deus usou para fazer maravilhas entre os egípcios. Isso sem mencionar outras cartas que Moisés tinha na manga, como falar fluentemente o idioma egípcio, entendimento da cultura daquele povo e conhecimento dos costumes da corte de Faraó. Moisés recebeu um treinamento de 40 anos para usá-lo por outros 40 anos.

Outro exemplo, talvez mais modesto, é o garoto que saiu de sua casa para passar o dia ouvindo os ensinamentos de Jesus (Jo 6.9). Ele tinha em sua bagagem o lanche para se alimentar naquela tarde: cinco pães e dois peixes pequenos, alguns dizem que foi o primeiro “McFish” da história! Quando solicitado, prontamente entregou o que tinha em mãos para que Jesus alimentasse mais de cinco mil pessoas. Ambos dispuseram-se para serem usados por Deus, cada um com suas limitações, cada um com suas posses.

Não é nenhuma novidade o fato de cristãos usarem sua formação acadêmica e profissional no reino de Deus. Nossas igrejas estão cheias de músicos – sejam eles profissionais, estudantes ou amadores – nas equipes de louvor. Normalmente escolhe-se um profissional da área de administração para cuidar dos bens da igreja e outro da área economia ou contabilidade para cuidar da parte financeira.

Se isso é tão comum no cotidiano da igreja local por que não pode ser comum também quando se trata de missões? O cristão pode contribuir com a obra missionária, não somente ofertando financeiramente, mas também oferecendo suas habilidades profissionais para que ela cresça cada vez mais. Moisés passou 40 anos na “Universidade Federal do Egito” recebendo as habilidades necessárias para tirar o povo de Israel daquela terra.

Tanto missionários quanto agências missionárias, precisam de certos recursos que os profissionais da igreja poderiam suprir sem muitas dificuldades. Os irmãos da área de Marketing e Propaganda poderiam colaborar com organizações missionárias criando seus logotipos, atualizando regularmente seus sites na internet e fazendo vídeos de divulgação. Podem ajudar os missionários melhorando seus métodos de divulgação do ministério e criando vídeos, panfletos, folders etc. Os da área de saúde poderiam entrar em contato com organizações missionárias, colocando-se à disposição para atender seus missionários sempre que eles estiverem com uma necessidade específica.

Os mecânicos poderiam auxiliar na manutenção dos carros dos obreiros a preço de custo; os professores poderiam reservar parte do seu tempo para dar aulas de reforço para os filhos dos missionários¹ se atualizarem na volta para o ensino regular na cidade. Os técnicos de informática poderiam prestar assistência consertando os computadores dos escritórios e dos missionários cobrando somente o preço das peças. As opções são muito variadas e cada membro da igreja pode colaborar com os dons e talentos que Deus lhe deu.

O valor financeiro que você normalmente investe no reino de Deus tem o seu devido custo que pode não voltar para você num primeiro momento. Da mesma forma sua atuação profissional em prol da obra missionária também lhe custará o tempo extra que você investirá e seu próprio material que você usará. Pense em tudo isso como sua oferta profissional para missões.

Na próxima vez que você cantar “dons e talentos, queremos consagrar” pense seriamente na possibilidade de servir missionários e agências missionárias dando uma oferta desse tipo.

Nota:
1. Em muitos casos de ministério transculturais a educação dos filhos dos missionários fica defasada.

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Héber Negrão é paraense, tem 30 anos, mestre em Etnomusicologia e casado com Sophia. Ambos são missionários da Missão Evangélica aos Índios do Brasil (MEIB), com sede em Belém, PA.

  1. Muito interessante e pertinente seu texto Héber. Mas um problema que eu já presenciei diversas vezes e que ainda continue vendo é que quando um profissional se disponibiliza a fazer um serviço voluntário, seja para a igreja ou missão, frequentemente o serviço voluntário fica em segundo plano quando surge um serviço pago para ser feito. Acho importante pensar e desenvolver missionários vocacionados e que possuam uma profissão, pois é o missionário quem conhece realmente as necessidades e pode saná-las com mais propriedade. Claro que a ajuda e colaboração voluntária de terceiros é sempre bem-vinda e precisa ser fomentada, contando que o profissional faça com o mesmo zelo e excelência como se fosse um serviço pago.

  2. Olá Phelipe.

    Muito boa sua colocação. A perspectiva que eu quis apresentar nesse texto é a postura dos cristãos em relação às organizações missionárias, e não o contrário.

    Se algumas agências têm a possibilidade de contratar um serviço, ótimo, mas isso não impede que o cristão ofereça sua contribuição para alguns missionários.

    Concordo com você quando diz que o missionário precisa ter sua formação profissional, mas, convenhamos, ninguém pode dominar todas as áreas. A ajuda dos cristãos profissionais sempre será necessária em alguma ou outra coisa.

    Gostaria que todos pensassem como você: que o serviço oferecido tenha “o mesmo zelo e excelência como se fosse um serviço pago.”

    Grande abraço.

  3. Muito bom, Heber. Re-afirma o que pretendo comunicar em Chapel at GIAL esta sexta. Partindo da parabola dos “talentos” em Mateus 25 (e textos paralelos), vemos uma avaliação justa e cheias de graça da nossa mordomia das capacidades humanas (dadas por Deus) e dons espirituais. Deus os abençoe e continue a guiar.
    Elcio P.

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