Por Cácio Silva

Numa tentativa de nos aproximarmos mais do exemplo de Cristo, creio que devemos reconsiderar alguns pontos da nossa prática missionária. Como prática missionária, refiro-me a toda ação da igreja em função da expansão do reino de Deus, seja através de um missionário de carreira no outro lado do mundo ou através de um recém-convertido do outro lado da rua.

Nossa ação missionária deve visar vidas, e não apenas almas. Um evangelho que prepara as pessoas para morar no céu, mas não lhes dá diretrizes para viver de forma digna aqui na terra, está no mínimo truncado. Um evangelho integral visa a necessidade de redenção espiritual do homem, mas também os seus anseios existenciais. O seu comportamento moral, mas também a sua estrutura emocional. Os seus conceitos religiosos, mas também seus valores familiares. A sua vida na igreja, mas também no trabalho. Sua vida na família, mas também na sociedade. Um evangelho integral visa o homem na sua integralidade e não apenas na sua espiritualidade.

Nossa ação missionária deve visar também o social, e não apenas o eclesiástico. Evangelização não exclui ação social e vise-versa. Nosso trabalho social não é apenas um meio para a evangelização, mas uma parte integral da expansão do reino. Um evangelho integral toca o céu, mas também a terra; o espírito, mas também o corpo. Contempla a fome pela Palavra, mas também a fome pelo pão; a doença espiritual, mas também a doença física; a educação cristã, mas também a educação secular. Além de denunciar o pecado moral, devemos denunciar, de forma profética, o pecado sociopolítico, como a corrupção e a injustiça social. Devemos lutar pelo cumprimento das leis legítimas e pela substituição das espúrias. Nosso envolvimento com a sociedade não deve ser seletivo, pelo qual evitamos certos problemas enfrentados pela mesma, por não serem “espirituais”. O império das trevas está entremeado nas estruturas sociais e, por isso, os valores do reino de Deus devem confrontar de forma libertadora estas estruturas.

Nossa ação missionária deve visar o planeta e não apenas o homem. Uma abordagem integral envolve também a conscientização por questões como ecossistema. O que nasce de novo tem a consciência transformada. Quem matava não mata mais, quem roubava não rouba mais e quem adulterava se torna fiel ao seu cônjuge. Quem poluía as águas, não deveria poluir mais. Quem jogava o seu lixo na rua, não deveria jogar mais. Quem poluía a atmosfera, não deveria poluir mais. E até o indígena que desmatava a floresta de forma desordeira, não mais deveria desmatar.

Nossa ação missionária deve dar respostas socioculturais e não apenas impor proibições. Onde quer que ministremos, seremos confrontados por questões delicadas. Em sociedades pós-modernas enfrentaremos questões como homossexualismo, aborto, sexo livre, relações extraconjugais tidas como normais, sonegação de impostos, drogas e conflitos políticos. Em sociedades tradicionais, como no mundo islâmico, questões como direito à vingança, machismo e legalismo. Em sociedades tribais, questões como poligamia, desvalorização da mulher e guerras tribais. Numa abordagem missionária, questões como estas não podem ser ignoradas e muito menos subestimadas. Ou seja, não podemos fazer de conta que não existem, ou que o povo as resolverão com naturalidade, nem podemos simplesmente impor proibições. Precisamos dar respostas bíblicas relevantes, que façam sentido para o povo. Isto também faz parte da missão integral, que não aborda apenas o religioso, mas também o cultural.

Para a nossa missiologia ser relevante neste século, não poderemos fazer vista grossa a questões como a má distribuição de renda, menores em risco, dependentes químicos, pessoas acometidas de doenças como aids e câncer, prisioneiros, órfãos e analfabetos. Não poderemos ignorar os sertões nordestinos, as favelas dos grandes centros urbanos e os grupos indígenas.

Estamos vivendo no Brasil um tempo de despertamento missionário. Nas palavras do missiólogo brasileiro Manfred Grellert, estamos no “avivamento tupiniquim”. Louvado seja o Senhor pela crescente consciência e envolvimento social das nossas igrejas. Muito já foi e tem sido feito nesta área. Mas ainda tem muito a ser feito e podemos fazer muito mais. Somos uma igreja forte, temos um contingente missionário atuante e servimos a um Deus que possui todo poder. Creio que fomos chamados, como igreja brasileira, para impactar toda esta geração com um evangelho integral, que contempla o homem na sua integralidade. Qual será a sua participação?

Cácio Silva é pastor presbiteriano e missionário da Missão AMEM/Projeto Amanajé, juntamente com sua esposa Elisângela, entre indígenas na Amazônia

  1. Acho interessante certos posicionamentos, porém fico a pensar durante muito tempo fomos ensinados e orientados não sei por quem a pensar e agir justamente ao contrario de tudo isso que estar sendo pregado neste últimos tempos e é justamente sobre esses vai e vem que me questiono, uma hora dizem e ensinam que não somos desse mundo e como tal não temos nada ou melhor não devemos nos envolver e misturar com “ eles” outra hora ensinam a missão integral ou seja somos parte e devemos fazer tudo que tiver ao nosso alcance para mudar ou melhorar as desigualdades sociais, finalmente alguém pode estabelecer um ponto final nesta história???

  2. A Missão Integral da igreja, sempre esteve no V.T e no N.T, Deus nunca separou as três dimensões do homem e nem tão pouco Jesus. O plano perfeito de redenção da humanidade, sempre abordaram corpo, alma e espírito. A má exegese bíblica, é que dividiu o homem nessas três dimensões, e a igreja com uma má interpretação das Escrituras ficou só cuidando do espiritual. Mas Jesus andou nesta terra, e ele demonstrou que devemos alcançar a humanidade nas três dimensões, o homem é um ser tricotômico. E a Trindade caminham juntos para o Cristianismo de Libertação, como diz Ed René Kivitz. Se eles andam, nós devemos andar da mesma maneira.

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