Uma oração de mãe, 70 anos depois!
No dia 07 de julho de 1943, uma jovem senhora de 32 anos vivia o maior drama que qualquer mãe pode experimentar: dar adeus definitivo aos seus filhos. A hora era chegada e Sebastiana Franco Bueno reconhecia que o mal desconhecido que a devastava vencera a batalha. Era hora de dizer adeus.
Sebastiana liderava com seu esposo João Manuel Bueno (Seu Zico), 52 anos, um lar composto por 10 pessoas. Além do marido, viviam com Sebastiana: sua enteada Isa, 20 anos, uma das 4 filhas da primeira esposa de Seu Zico que falecera há muito tempo; Nino, 50 anos, um agregado da família; a babá, Ana Amélia, com 14 anos; e seus próprios filhos, Saulo, 8 anos, Diva, 6 anos, Dalva, 5 anos, Manoel, 2 anos, e a pequena Diná, 7 meses de idade.
A família não era rica mas também não era pobre. Viviam numa pequena cidade do noroeste paulista que se chama Palestina. Esta servia de entreposto comercial para uma economia rural de um Brasil que nós não conhecemos mais. Em plena Segunda Guerra Mundial, o comércio local sentia os revezes econômicos resultantes deste conflito global, sem contudo chegar à escassez vivida nos países europeus. Havia racionamento de óleo, farinha de trigo, açúcar e outros produtos.
Seu Zico era dono de 3 mercearias, sendo uma delas localizada na Rua 1º de Maio, na esquina em frente à rodoviária da cidade. Seus empreendimentos lhe permitiam abrigar sua família numa casa espaçosa, manter alguns empregados, enviar seus filhos para a escola, ter um rádio na sala onde vários vizinhos se congregavam para ouvir as notícias da guerra veiculadas pelo Repórter Esso da Rádio Nacional, a rádio oficial do governo brasileiro sob o comando do então ditador Getúlio Vargas.
Em Palestina tinha apenas uma Igreja Católica, uma Igreja Presbiteriana Independente — na qual Sebastiana participava ativamente—duas escolas com ensino até 4ª série, uma delegacia, um cinema, uma praça com coreto, nenhuma agência bancária e nenhum atendimento de saúde a não ser aquele oferecido pelo Dr. Bento Ferraz. O médico, apesar de várias tentativas, não conseguiu diagnosticar o mal que fazia com que Sebastiana definhasse a cada dia levando-a até a vomitar sangue. A viagem para São Paulo, em busca de recursos mais modernos, também fracassou. Sebastiana tinha piorado, e agora, de volta ao lar, sabia que a hora da partida tinha chegado.
No dia 07 de julho de 1943, ela pediu para a babá, Ana Amélia, dar banho nos filhos, colocar roupas de domingo e ensaiar com eles um hino, o Hino 403 do Cantor Cristão. O título do Hino é “Alegre” e o seu refrão diz:
Eu alegre vou na sua luz,
Pois Jesus agora me conduz.
Desde que me achou
Da morte me livrou;
Ando sempre alegre,
Cristo me salvou!
As crianças foram até ao quarto e cantaram o hino. Ao terminar, Sebastiana orou por cada uma delas, abençoando-as, pediu a Deus que as mantivesse nos seus caminhos e agisse de forma que elas permanecessem na fé. Por fim, ela pegou a bebê Diná no colo, e chorando disse “Esta aqui nem vai se lembrar de mim.” Ana Amélia conta que ela orou novamente pela menininha dedicando-a ao Pai.
Naquela noite Sebastiana foi, usando as palavras do hino cantado pelas crianças, “andar na luz de Deus, que doce comunhão!” E uma nova era se inaugurou na vida das crianças. Uma das estrofes do hino cantado dizia:
No caso de se escurecer
De nuvens todo o céu,
Jesus, bendito Salvador,
É luz que rasga o véu!
Não há como negar o fato de que a infância destas crianças passou a ter mais momentos escuros onde o céu parecia se encher de nuvens. Seu Zico logo se casou de novo, e em tempo o novo matrimônio lhe deu mais três filhos. O amor incondicional do pai pelos 12 filhos dos três casamentos entrava em conflito frequente com o amor inconstante e territorial de uma madastra jovem e, quem sabe, insegura. A memória da mãe nos menores foi se dissipando, sua influência espiritual se enfraquecendo. Embora as crianças ainda frequentassem a pequena igreja, o vínculo não era o mesmo. O pai não frequentava e a madastra, apesar de ser membro, não tinha o mesmo entusiasmo e firmeza que a mãe tivera. Ao longo dos anos foram se formando feridas da alma destas crianças, e em seus corações a saudade da mãe se mesclou com a mágoa da madastra.
Setenta anos depois…
Deus foi fiel à oração de uma mãe. Um a um seus filhos foram se apropriando das palavras do Hino 403 do Cantor Cristão. Diva e Dalva nunca se afastaram da comunhão da igreja. Diva se tornou missionária, Dalva professora e apoiadora fiel do trabalho missionário da irmã. Este ano, Diva completou 50 anos de ministério ininterrupto com a Missão Novas Tribos do Brasil. Destes, 13 dos quais foram dedicados aos Pancararus, indígenas do agreste Pernambucano. Saulo, o mais velho, voltou para o Senhor na sua segunda década de vida, e atuou como presbítero em sua igreja por muitos anos.
A história da pequena Diná prova que o prazo de validade de uma oração pode ser muito longo. Ela voltou a ser conduzida pelo Bom Pastor em 2009, aos 67 anos, alguns meses antes de visitar a ex-babá, Ana Amélia, já com 81 anos, e pela primeira vez ouviu a história de como sua mãe a tinha abençoado antes de morrer. Foi o primeiro relato em sua vida de um gesto de sua mãe dirigido a ela.
E o pequeno Manoel? Ele foi o único a permanecer na Palestina até hoje, escolheu, a seu modo, o caminho do Seu Zico: cristão sim, igreja só de vez em quando. Se Sebastiana ainda fosse viva, não desistiria de interceder por ele bem como por todos os seus netos e bisnetos, em especial por aqueles que ainda não entregaram suas vidas nas mãos daquele que nos conduz de forma a podermos cantar “Eu alegre, vou na sua luz!”
Elsie Bueno Cunha Gilbert, neta de Dona Sebastiana Franco Bueno e mãe de 4 de seus bisnetos.
Haiko Hense
Oi Elsie,
muito obrigado pelo teu relato, confiar que Deus tem uma paciência longa e amorosa nos conforta quando pensamos nos nossos filhos e netos.
Abraços, Haiko Hense
Flávio Sousa
Maravilhoso testemunho!
Marcia Sally
É confortante saber que Deus é absolutamente regente da nossa história. Apesar de triste… Uma história linda!
Ivny
Elsie, você é mesmo uma boa contadora de história… e a história é linda!
Vanilda Costa
Precisamos de mais mulheres como D. Sebastiana. Que não se canse de orar pelos filhos. Como vimos, as orações não tem prazo de validade e isto reforça que não devemos parar de orar pelos nossos..
Isabelle Ludovico
Lindo testemunho! É muito bom ver em pespectiva os efeitos da Graça de Deus nas famílias.
Elias Colle
Hoje sigo na luz de Cristo e sou Ministro do Evangelho de Cristo, porque uma mulher chada Darly orou por mim por muito tempo e hoje ela está na glória me aguardando, pois por intermédio das suas orações a Deus sou servo do altissímo tudo por que Deus ouviu as orações da irmã Darly minha saudosa mãe. E q
Elias Colle
Hoje sigo na luz de Cristo e sou Ministro do Evangelho de Cristo, porque uma mulher chamada Darly orou por mim por muito tempo. Hoje ela está na glória me aguardando, pois por intermédio das suas orações a Deus sou servo do altissímo. Tudo por que Deus ouviu as orações da irmã Darly, minha saudosa mãe. E que Deus continue levantando mulheres como Sebastiana e Darly que oram por seus filhos.
Cilene Franco Gois
Meu nome é Cilene, sou bisneta de Severo Franco, do sul de Minas, e neta de João Vergílio Franco. Essa senhora Sebastiana, teria algum parentesco conosco? maravilhoso testemunho.Sou casada com Pr Nivaldo Gois, que tem um envolvimento grande com Novas Tribos e é um mobilizador da obra missionária. Entrem em contato conosco! Abraços!
Luiz Henrique Barros Cabral
Louvado seja Deus por essa linda história!!!!! Toda honra a Ele, que usou a oração da Sua serva para abençoar a vida de seus descendentes.
Glórias ao Cordeiro!
maria das gracas de paula graciano
Que exemplo de mãe! Foi fiel ao Senhor e serena até seus últimos momentos. Preparou seus filhos para a morte e principalmente para a vida! Que DEUS abençoe nossas famílias,AMEM!
Helena Regina Schwenck
Elsie
É edificante sabermos que Deus ouve e atende as nossas suplicas. Fortalece nosso desejo de colocar diante dEle nossas angustias e aflições, mesmo quando nos sentimos tão impotentes. Amei esta história de vida apesar de triste.
alice bueno dos santos
Oi Elsie… ficou linda a história contada por vc!!! Adorei!!!! sua mãe deve ter ficado muito feliz por vc ter usado seu talento nesta história tão boa e reconfortante de se ouvir !!!! Parabéns! Abraços
marly
A história é linda! Mãe deveria viver sempre… Me senti muito feliz em conhecer alguns personagens, aqui, descritos. Parabéns Elsie.
Maria Diná
Um filho nunca se desvia da luz quando tem uma mãe que intercede por ele como foi no meu caso. Minha mãe me consagrou no altar de Deus, e hoje estou na luz e estou muito feliz por isso. Sigo hoje em dia imitando o gesto nobre de minha mãe, orando pelos meus filhos, Renato e Rafael.Valeu Elsie,
elsie
Tia Diná, a senhora sempre foi motivo de inspiração para mim! Elsie
Augusto César Bueno Legaspe
Prima Elsie (meu avô materno, Lafaytette, era irmão de seu pai, o tio Zico), sua história de vida é muito bonita e emocionante. Que Deus te proteja, ilumine e guarde sempre.
Augusto
elsie
Prezado Augusto, minha mãe fala do Tio Lafayette. Ela vai ficar feliz de reconectar com você. A história dela é muito bonita mesmo e eu fiquei muito feliz de poder contá-la! Elsie
Diva Bueno Cunha
Olá Augusto, que bom conhecer você através do comentário ao artigo escrito por Elsie, minha filha. Fico feliz porque conheci muito o tio Lafaiete e tia Sinhara. Atualmente moro com Elsie, na cidade de Viçosa-MG. Você e sua família vivem em Mogi Guaçu?
Ricardo Ribeiro de Oliveira
Prima Elsie, sou filho de Vânia e neto de Dalva, não nos conhecemos mas é muito gratificante ouvir a história de minha bisavó, que estava nos caminhos do SENHOR e até hoje também seguimos esse caminho juntamente com minha família. Obrigado pela rica informação e Deus abençoe sua vida.
elsie
Ricardo, de fato não nos conhecemos apesar de eu já ter ouvido falar de você pela sua avó. Fico feliz que a história da minha avó, sua bisa, seja capaz de nos reunir novamente, especialmente porque somos frutos da oração dela, não é?
Vânia Ribeiro de Oliveira
Prima Elsie, que história linda, estou emocionada, mas alegre de ver o poder de Deus agindo na vida das pessoas, espero poder te encontrar um dia.
elsie
Oi Vânia, que bom que uma história com a de nossa avó continua a juntar pessoas que estão tão distantes, né? Um dia desses nós precisamos nos re-encontrar. Da minha parte, acho que já fazem mais de 20 anos que não nos vemos!
Sandra Regina Bueno Franco
Oi Elsie!! Pois é minha tia (pois é irmã de meu pai) e madrasta de minha mãe Alda (filha do vô Zico) foi muito importante tanto na conversão de minha mãe que quando ela morreu já era casada com meu pai e morava em Poços de Caldas ( e contava que na noite da morte da vó Sebastiana ela sonhou com o pai (vô Zico que estava recostado no fogão de lenha e dizia a ela: pois é a Sebastiana morreu…!! – acordou e falou ao meu pai: vamos para Palestina que a Sebastiana morreu!! e era mesmo!!. Mas voltando à conversa ela pregou o evangelho a minha mãe e ao meu pai e eles aceitaram a Cristo e morreram firmes na fé!! E assim todos os filhos estão firmes na fé até os dias de hoje!! Essas mulheres maravilhosas e sua fé inabalável!!! Sandra R.B.Franco
elsie
Sandra, não sabia que a Tia Alda tinha sido evangelizada pela Vó Sebastiana! São quantos netos e bisnetos da Tia Alda? Já perdi a conta!
Dalva de Paula Bueno Ribeiro
Elsie, agradeço a Deus pela sua vida e pelo dom que Deus lhe deu para elaborar e publicar a história de nossa família e ação salvadora, fiel Dele para conosco. Também pude relembrar do Tio Lafaiete ao ler os comentários verificar tantos parentes e amigos se unindo reconhecendo o poder transformador de nosso Deus,
elsie
Tia Dalva, faz tempo que quero escrever esta história. Acho que desde 2010. Mas Deus tem a hora certa. Fico feliz que ela tenha este efeito de nos unir em alegria e gratidão a Deus pelos seus preciosos feitos.
Noemi
Linda história! Abençoou meu coração. Realmente, a oração de um justo, pode muito em seus efeitos. Que o Senhor continue abençoando ricamente toda essa família!
yone a.g.frederico
O salmo 105 diz que devemos fazer conhecidos os feitos do Senhor; você está de parabéns por este maravilhoso relato, que nos dá a certeza que o nosso DEUS TODO PODEROSO, se inclina para ouvir as nossas orações e respondê-las no momento certo. Precisamos desses testemunhos para que a fé de mtos seja fortalecida. Deus te abençoe e ilumine no Santo Nome de Jesus.
Ludimila Cardoso
linda história…
Ao mesmo tempo que nos emociona, nos conforta, por ser um retrato do carinho e do cuidado de Deus para com as petições daqueles que o temem…
abraços
Augusto César Bueno Legaspe
Prima Diva, sou filho da Nilza (filha do vô Lafayette). Ela faleceu no ano passado. Moramos em Mogi Guaçu.
A tia Thereza (irmã mais nova de minha mãe) também esta morando aqui. Um abraço a todos vocês.
Silas
Se oracao nao tem prazo de validade, porque oramos todos os dias. Nao deveriamos entao apenas fazer uma oracao e esperar Deus responder ?
elsie
Silas, a Sebastiana orou apenas uma vez, não teve a oportunidade de continuar orando. Se tivesse, acho que teria continuado a orar. Não porque Deus precisa disso para então nos responder. É nós que precisamos continuar insistindo em nossa petições porque nossa memória é fraca e precisamos saber que estamos entregando o nosso pedido a Deus. Da minha parte, sempre que algo me causa ansiedade e preocupação eu a entrego a Deus e isto é feito por meio da oração. Ainda bem que Deus é paciente e não se incomoda com a nossa insistência!
Rodrigo Lara Rocha
Muito bom! Sou Rodrigo Lara Rocha filho de Amador Bueno Rocha e neto da Isa Vilalva e bisneto do João Manoel Bueno (Zico) e sua primeira esposa Leonor Vilalva Bueno. ABS,