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Jesus e as crianças

Trechos da entrevista publicada na Revista Ultimato – Edição 317

Jesus é um adulto que nunca deixou de ser criança e uma criança que cresceu sem abandonar a beleza da infância, mas agregando a ela sabedoria.

Mesmo grávida de nove meses e com um menino de 1 ano e meio a tiracolo, a jornalista Rita Mucci, casada com Rodrigo Santos, não perdeu a oportunidade de entrevistar o conhecido pastor evangélico Ariovaldo Ramos, durante o evento Ultimato 40 anos — Encontro de Amigos, realizado em Viçosa, MG, em julho de 2008.

Como Deus vê a criança?

Quando Jesus chama uma criança para perto de si e diz que se não nos tornarmos uma criança não entraremos no reino (Mt 18), ele está dizendo que vê na criança o melhor do ser humano; que ela tem muitas características que não deveríamos perder, mas que perdemos com o tempo. Em boa parte do capítulo 18, Jesus está nos advertindo para que não deixemos que as crianças percam tais características, pois esta perda vai afastá-las do Pai. Primeiro, a criança tem um deslumbramento em relação à criação, a Deus, a certeza de que o universo é muito mais do que aquilo que os nossos olhos podem perceber. Segundo, Jesus sugere que as crianças têm uma espécie de comunhão com os anjos, porque ele diz que os anjos das crianças vão constantemente diante dele, dando a impressão de que existe uma interação entre as crianças e o mundo espiritual, que, como adultos, não percebemos mais. Perdemos essa sensibilidade para com Deus. Terceiro, a criança tem a consciência de carência, de necessidade do outro, aquela sensação de que a solidão não é boa. Em qualquer situação de abandono ela chora, pois sabe que não pode ficar sozinha, que ninguém nasceu para ficar sozinho. Isso é algo que vamos desaprendendo, principalmente porque, no mundo moderno, somos estimulados o tempo todo ao individualismo.

Como os adultos podem voltar a ser crianças, se o mundo exige deles o contrário?

Esse é o milagre da salvação, a obra maior do Espírito Santo. Quando entregamos nossa vida a Jesus, o primeiro sinal que aparece é a alegria no Espírito Santo, essa alegria infantil. Encontramos Jesus e somos encontrados por ele. Quando a igreja, a comunidade, começa a perder essa alegria da comunhão, é algo assustador. Tenho a impressão que Jesus desejava criar uma grande cooperativa, e a igreja é a cooperativa de Deus. Cada um trabalha com seus talentos, as capacidades que o próprio Espírito comunica — investimentos que ele fez em cada um de nós — e todos trabalham por todos, de maneira que ninguém fica desamparado; quem colhe em abundância não acumula, para que quem colheu menos não passe necessidade. Assim deve ser a comunidade, um lugar onde a pessoa possa sentir-se em casa, entre irmãos, entre amigos. Temos de ajudar a igreja a recuperar a alegria da comunhão, da amizade. O suíço Hans Burki, que foi da ABU, dizia que “O reino de Deus é antes de tudo um reino de amigos”. Se perdermos isso, perdemos o reino de Deus. É na infância que se aprende que, não importa quantos brinquedos se tenha, não tem graça ficar sozinho com os brinquedos. É isso que Jesus veio nos trazer de novo, a graça da vida, da comunhão, que a criança tem muito enquanto não é atrapalhada pelos adultos. Ser criança é o grande milagre do Espírito Santo. E o bom de estar mais perto dele é que ele nos leva a esse equilíbrio entre a alegria e a espontaneidade da criança e a prudência da sabedoria. O contraponto é a sabedoria e não essa coisa do adulto. A sabedoria é suficientemente aguda para a pessoa perceber quando está em um ambiente enfermo, onde tem de amar, mas não pode se deixar contaminar. Precisamos aprender a preservar a infância envolvendo-a com sabedoria; ela não mata a infância e ao mesmo tempo não se expõe a riscos desnecessários.

Como a igreja deveria agir com relação à criança?

Primeiro, a igreja precisa priorizar a criança. Estamos ali por causa delas, pois estamos construindo um novo paradigma da humanidade, e a melhor forma de fazer isso é educá-las já nesses novos padrões. Assim, elas serão melhores do que nós, pois muitas coisas que o Espírito Santo precisou tirar de nós não precisará tirar delas. Nossa prioridade seria ajudá-las a irem mais longe do que conseguiremos ir. Lamentavelmente, a igreja vê as crianças como um problema, um estorvo. Temos o pensamento equivocado de que elas só dão trabalho, não trazem nenhum retorno. Não temos considerado que é um privilégio tê-las entre nós, porque elas serão formadas já na nova comunidade, a comunidade do pacto. O Senhor mandava circuncidar os filhos ao oitavo dia, e isso significava que eles já nasciam no pacto, dentro de outra sociedade, de outra filosofia, aprendiam a ser gente de outra maneira. A igreja é uma nova humanidade, e quanto mais investirmos nas crianças, mais a comunidade terá a forma que precisa ter. Em geral vamos perdendo essa visão da criança, caindo no “conto do sistema”, que é um conto individualista. Quando vou para a comunidade, tenho de aprender que agora faço parte da construção de outra sociedade, e que cada criança é a possibilidade de a próxima geração ser melhor apresentada e melhor realizada do que a atual. Para isso, é necessária uma forte visão comunitária de que estamos construindo uma nova forma de nos relacionarmos como gente, sendo a criança o nosso alvo principal. Herdamos um vão e fútil procedimento, como afirma Pedro, mas não precisamos repassá-lo, porque somos libertos por Jesus. Nossas crianças serão criadas na graça e sabedoria diante de Deus e dos homens.

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