Diante do convite para falar aos irmãos da Fraternidade Teológica Latino-americana (FTL-BR), que realizava consulta nacional sobre o tema “teologia e arte”, pensei em fazer uma espécie de anatomia de minha incipiente experiência pessoal, na seara da arte e adoração.

Pensando em fazer uma reflexão pessoal, evitei os livros. Com isso, corro o risco de dizer o que já foi dito, ou carecer de consistência. Paciência.

Meu propósito é encontrar em meu próprio coração um sentido, uma razão, que integre a arte e a adoração num sistema razoável (o “culto racional” do apóstolo Paulo).

Adiantando a conversa, esse sistema harmonizaria os seguintes conceitos:

    1. ◦o bem, envolvendo o Criador e a sua criação;
    2. ◦o belo, o sublime e o inefável;
    3. ◦a gratidão, adoração e culto e
    4. ◦o louvor e a arte, exteriorizações do coração.
  1. Minha tese, exposta no primeiro pensamento, a seguir, é que esses conceitos são indissociáveis na adoração. Sempre que um deles está presente, encontramos os outros, de alguma forma. E se algum deles falta, temos uma adoração deficiente. É o que encontro, olhando para minha experiência. Resta saber se é uma experiência generalizada e generalizável. Daí eu ter aproveitado uma “consulta” da FTL para apresentar o tema, com uma pergunta implícita: “isso é assim com vocês?”.

Como sabemos que as palavras (e os conceitos que elas representam) são mediadoras da realidade, ao ponto de termos nossa consciência atrelada à linguagem, a tradução de realidades internas em conceitos pode ajudar-nos a compreender as razões do nosso próprio coração. Foi esse o pressuposto que me animou a aproveitar a oportunidade para socializar questões, de forma estruturada.

Bem, o caminho adotado foi uma espécie de exploração de significados, em busca de palavras mediadoras. Uma tentativa de olhar para dentro, para meu próprio coração e, dali, retirar definições suficientemente genéricas para serem compartilhadas. Para tanto, organizo meu relatório de viagem em sete pensamentos ou proposições. Vamos a eles.

1. Aprouve ao Criador que o coração humano fosse capaz de decodificar o bem como belo e, assim, aprendesse a expressar gratidão, esteticamente.

Acredito que ao homem foi dado expressar-se afetiva, emocionalmente, “de todo o coração”. Nessa aptidão emocional reside a capacidade artística. O dom da estética. Talvez por isso, o incenso do choro e as flores do louvor exalem perfumes tão gratos a Deus, a ponto de convidá-lo a passear no meio deles.

Desenvolvo um pouco mais meus termos, pois considero esse primeiro pensamento a base para os demais.

Aprouve ao Criador — Essa capacidade provém de Deus. Na forma de dom ou talento, ele a distribui, conforme sua sabedoria e propósitos eternos. Penso que tudo começa com um Deus que implanta no coração do homem o dom da estética. Refiro-me, então, ao coração como a sede metafórica das emoções e dos afetos. A arte, a meu ver, é a capacidade de perceber e expressar o belo emocionalmente. Eis um verso bíblico esclarecedor:

    1. ◦Disse mais o Senhor a Moisés: Eis que chamei pelo nome a Bezalel… e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício, para elaborar desenhos e trabalhar em ouro, em prata, em bronze, para lapidação de pedras de engaste, para entalho de madeira, para toda sorte de lavores” (Êx 31:1-5).
  1. Decodificar o bem como belo — Essa associação entre o bem e o belo é, a meu ver, a mais remota predisposição humana para a arte. E se todo bem provém dele, faz-se ele mesmo o bem maior, estando ele mesmo na origem do senso estético humano. Mas saliento que, por enquanto, essa predisposição se manifesta potencialmente, pois o bem e o belo ainda são externos ao homem. Nesse momento teórico, ele apenas é capaz de percebê-los, de decodificá-los e de gozá-los ou fruí-los. Veja alguns versos sobre isso:
    1. ◦Tributai ao Senhor a glória devida ao seu nome; trazei oferendas e entrai nos seus átrios; adorai o Senhor na beleza da sua santidade (1 Cr 16:29).
    2. ◦Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo (Sl 27:4).
    3. ◦Naquele dia, o Renovo do Senhor será de beleza e de glória; e o fruto da terra, orgulho e adorno para os de Israel que forem salvos (Isaías 4:2).
  2. Esses versos nos levam a considerar que, se Deus é o bem maior, há de ser percebido pelo coração humano como a beleza maior, por força dessa associação inevitável. Então, sob o impacto do bem, nosso coração experimenta a estética — o belo.

Expressar gratidão esteticamente — Por que a gratidão se inclui nos processos psicológicos da estética? Porque não estamos falando de psicologia, apenas, mas também de teologia. E a gratidão aparece, a meu ver, como elemento essencial na percepção de Deus. Sem gratidão, não temos olhos para Deus. E, sem vê-lo como ele se nos apresenta, tornamo-nos esteticamente deficientes. Ao ponto de o apóstolo Paulo dividir a humanidade entre aqueles que o reconheceram como Deus e lhe deram graças e aqueles que se embruteceram, e fizeram sua arte representar aves, quadrúpedes e répteis (Rm 1:23).

Veja como o apóstolo unifica esses conceitos, em Cl 3:16b: “…louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração”. Numa só frase, ele fala de louvor, de arte, de gratidão e do coração, ao nos ensinar sobre como viver a vida normal da igreja; como vivenciar o mistério da nova e sobrenatural sociedade engendrada no coração do Pai, antes da fundação do mundo, viabilizada pelo Filho e potencializada pelo Espírito.

O coração humano tem fome e sede do bem. E só se sacia quando se alimenta de Deus, que é verdadeira comida e bebida da alma. Quando se depara com um, confunde-o com o outro, e experimenta o sublime. E tudo isso lhe causa imenso prazer; o prazer de um banquete estético. (Um pensamento divertido: eis a origem da arte culinária.)

2. Quando o bem (o belo, o sublime) e a gratidão se encontram, no jardim do coração humano, este, buscando representar o inefável, extravasa-se, emocionalmente, em adoração, culto e louvor, por meio da arte.

Quero me fixar, inicialmente, na idéia do extravasamento. A imagem que me ocorre é a de uma erupção vulcânica. Penso, também, negativamente falando, numa explosão colérica, num acesso de raiva. Diante da percepção do bem, decodificado como belo ou sublime (veja as definições adiante), o fenômeno acontece no coração e se manifesta em doçura, cores, perfumes, sons harmônicos e poesia. Um extravasamento próximo da arte. Ilustro o fenômeno com a poesia do salmista:

    1. ◦A voz do Senhor faz dar cria às corças e desnuda os bosques; e no seu templo tudo diz: glória! (Sl 29:9)
    2. ◦Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda (Sl 23:5).
    3. ◦Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele tem feito maravilhas; a sua destra e o seu braço santo lhe alcançaram a vitória (Sl 98:1).
    4. ◦Ó Senhor, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade (Sl 8:1).
  1. Imagino encontrar nesse louvor o extravasamento daquele que se depara com as obras do Senhor ou, por meio delas, contempla o próprio Deus. Não penso em uma manifestação artística, necessariamente, mas sim em sua condição emocional. Esse extravasamento não é, necessariamente estético, mas está muito próximo dele.

Talvez seja tempo de algumas definições que nos permitam perceber como certas palavras usadas se interligam no que chamei de sistema de significados. Recorro, agora, ao dicionário. Quando não encontro, defino, eu mesmo, meus termos.

  1. •Bem (H = Dicionário Houaiss)
    1. ◦tudo que leva ao aperfeiçoamento espiritual do ser humano;
    2. ◦o próprio Deus, enquanto manancial eterno e perfeito de tudo o que é propício ao progresso das criaturas e finalidade desse progresso.
  2. •Belo (H)
    1. ◦Qualidade atribuída a objetos e realidades naturais ou culturais, apreendida primordialmente através da sensibilidade (e não do intelecto), e que desperta no homem que a contempla uma satisfação, emoção ou prazer específicos, de natureza estética;
    2. ◦de elevado valor moral; sublime.
  3. •Sublime (H)
    1. ◦que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual;
    2. ◦elevado, augusto; superlativamente belo, esteticamente perfeito;
    3. ◦o que há de mais elevado nas ações ou nos sentimentos; o máximo de perfeição ou beleza; grandiosidade, poder, força incomparável.
      1. ■Isaías 33:5 – O Senhor é sublime, pois habita nas alturas; encheu a Sião de direito e de justiça.
      2. ■Isaías 52:13 – Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exaltado e elevado e será mui sublime.
      3. ■Isaías 57:15 – Porque assim diz o Alto, o sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos.
      4. ■Filipenses 3:8 – Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo.
  4. •Gratidão
    1. ◦Reconhecimento por um benefício recebido (Aurélio).
    2. ◦Um fenômeno racional/emocional; o sentimento de gratidão.
    3. ◦O dom da gratidão e a capacidade de agradecer (inclusive, pelo dom do reconhecimento).
    4. ◦Produz ou expressa harmonização íntima com o que Deus é e faz. Adoração
    5. ◦Expressão do coração (alma), está ligada com gratidão e muito próxima da arte, pois acontece na dimensão do sublime.
    6. ◦Do sublime para a arte, basta a capacidade de percepção e expressão emocional.
  5. •Louvor (H).
    1. ◦Elogio, baseado em fatos e em crenças;
    2. ◦objetiva o reconhecimento, a homenagem, a honraria;
    3. ◦enaltece os méritos de alguém e demonstra gratidão, agradecimento.
  6. •Arte
    1. ◦Capacidade de perceber e/ou expressar, emocionalmente, o belo; seja por mimetismo, seja por criatividade;
    2. ◦dom pelo qual o artista representa, imita, cria e recria o belo.
      1. ■Êxodo 31:6b-11 – …e dei habilidade a todos os homens hábeis, para que me façam tudo o que tenho ordenado: a tenda da congregação, e a arca do Testemunho, … eles farão tudo segundo tenho ordenado.
  7. •Inefável (H)
    1. ◦Indizível, indescritível; que não se pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força, beleza;
    2. ◦que causa imenso prazer; inebriante, delicioso, encantador.
    3. ◦Delicioso (H)
      1. ■Que permite fruição estética;
      2. ■que encanta por sua beleza.
  8. O comentário inicial que apresento às definições acima é que existe uma estreita interligação entre esses termos. Eles se reúnem no jardim do coração humano. Ao perceber o bem em sua forma extrema, esse coração o decodifica como sublime (que Houaiss define como “superlativamente belo, esteticamente perfeito”). Daí fazer o dicionário a ligação entre o sagrado e o sublime. E o texto bíblico chama a Deus de “o sublime” e estende o significado também ao seu Filho. Mas o sublime, muitas vezes é inefável. Ou seja, indescritível, em sua força e beleza. Então, o coração humano se extravasa em gratidão, louvor e adoração. E o faz por meio da arte. E percebe que tudo é delicioso.

3. A vida cristã na igreja, cheia do Espírito, é fortemente alimentada por manifestações singelas e espontâneas de arte, que harmoniza a adoração, o belo e a vida comunitária.

Em Ef 5:18-20, Paulo conclui suas recomendações sobre a vivência comunitária da nova sociedade que Cristo inaugurou com a recomendação de que nos enchamos do Espírito. E adianta o resultado: “falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai…”

O Apóstolo está propondo um modo de vida comunitário a ser vivido cotidianamente, permanentemente — a vida normal da igreja. E esse modo de vida envolve (ou consiste em):

    1. ◦falar uns com os outros com salmos;
    2. ◦entoar, louvar de coração ao Senhor;
    3. ◦hinos e cânticos espirituais,
    4. ◦com ações de graças por tudo.
  1. Paulo insere nas relações eclesiásticas o belo, o emocional, o coração, a gratidão, como elementos normais, saudáveis, necessários à saúde espiritual da igreja. Como que a dizer que essa dimensão do coração favorece a saúde da igreja; como que a dizer que a arte, em todas as suas formas, é elemento importante na vida espiritual da igreja de seus membros.

4. Quando a palavra de Deus nos exorta, instrui, admoesta ou consola, por meio da igreja, esse processo é ungido de boas emoções (oriundas da gratidão do coração), que se materializam em expressões artísticas, tais como louvor a Deus: salmos, hinos e cânticos espirituais.

Paulo se detém a equilibrar o intelecto, a razão e as emoções, que se expressarão esteticamente.

    1. ◦Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração (Cl 3:16).
  1. Desta vez, ele explicita a necessidade do aprendizado, do conselho e da sabedoria, associados à gratidão, a cujo reino pertencem o louvor que acontece no coração; ou seja, a adoração.

O que há de comum entre as passagens de Efésios, anteriormente citada, e de Colossenses? Minha resposta seria:

1.    o coração como sede do genuíno, da adoração (“de coração”);

2.    arte, como componente da vivência da espiritualidade;

3.    louvor e gratidão, como elementos complementares, inseparáveis;

4.    a associação entre vida relacional e arte (salmos, entoando, hinos e cânticos espirituais);

5.    a indissociabilidade entre a proximidade do Sublime, a gratidão (harmonia afetiva com o Criador) e a expressão emocional (adoração, louvor, arte).

5. Só um coração grato adora a Deus com inteireza; em caso de indiferença, ressentimento ou culpa, o louvor pode perdurar por algum tempo, mas termina por reduzir-se a louvor vazio de conteúdo.

Tudo começa com um coração grato a Deus; emocionalmente harmonizado com o que ele é e faz:

    1. ◦Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis (Rm 1:21-23).
  1. A harmonia leva à adoração, ainda no âmbito do coração:
    1. ◦Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração (Dt 6:4-6).
  2. Surge, então, o louvor, seu veículo, sua manifestação. A arte, então, se manifesta, como representação externa do sublime. Se, no entanto, a harmonia desaparece, se o ressentimento surge, então, a adoração se esclerosa.
    1. ◦Com isso, desgostou-se Jonas extremamente e ficou irado. E orou ao Senhor e disse: Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal. Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver. E disse o Senhor: É razoável essa tua ira?
    2. ◦Então, perguntou Deus a Jonas: É razoável essa tua ira por causa da planta? Ele respondeu: É razoável a minha ira até à morte (Jn 4:9).
    3. ◦Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mt 15:8).
  3. 6. Por que Deus nos proíbe de adorar ídolos, mas não usa a palavra louvor?

Porque o louvor já é exteriorização. O perigo (que contamina o homem) está no coração.

    1. ◦Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem (Ex 20:5).
    2. ◦Filho meu, atenta para as minhas palavras; aos meus ensinamentos inclina os ouvidos. … Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida (Pv 4:20-23).
    3. ◦Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem (Mt 15:18).
  1. Gostaria de começar a “passar a régua” nesses pensamentos, traduzindo-os em “razões do coração”. E começo perguntando: qual é a razão que um coração tem para adorar? Minha resposta seria a gratidão, termo que englobaria todos os sentimentos que nos harmonizam com o Criador: amor, admiração, respeito, veneração, temor etc., provenientes de uma “concordância” íntima e sem reservas com tudo o que ele é e faz (apesar da dor). Usei, anteriormente, as palavras “harmonia”, “harmonização”.

Nesse mesmo diapasão, a razão para não adorar seria o ressentimento, que englobaria todos os sentimentos que nos desarmonizam com o Criador: indiferença, amargura, inconformismo, revolta, ódio, medo etc. Ocorre-me o elemento neutro, a indiferença, que também pode ser encaixada no “não lhe deram graças”, porque também são indesculpáveis.

Dessa forma, a adoração flui emocionalmente, no coração, e o louvor lhe dá razão, sentido e expressão.

7. “Entrar no quarto” é mergulhar na dimensão sublime do sagrado, onde o inefável se apresenta ao coração. Ali, as experiências da expressão, da oferta e da transformação serão vivenciadas.

    1. ◦Mateus 6:6 – Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.
    2. ◦João 4:23 – Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.
  1. Quando Jesus nos recomenda a “entrar no quarto”, está nos ensinando o caminho para a experiência do sublime: o belo possível na experiência da percepção e expressão emocionais. O quarto é lugar de experiências profundas e duradouras. Eu diria estruturadoras da vida. E essas experiências, que defino como sendo expressão, oferta e transformação, em outro texto[1], hão de se constituir em matéria-prima da vida espiritual do cristão. Por conseguinte, trarão seus componentes de adoração. Fecha-se, assim, o círculo com nosso tema, pois sabemos que a adoração é em muito, uma experiência estética, pois é convívio com o Sublime e extravasamento do inefável.

A expressão é o processo pelo qual transformamos em consciência fatos, percepções, sensações, sentimentos etc, da nossa vida. Ao transformar em palavras e imagens nossas experiências cotidianas, apropriamo-nos delas. E, no quarto, o processo se reveste da dimensão do sagrado, da presença de Deus.

A oferta é o momento em que nos posicionamos a respeito. É o momento do “eu” se apresentar. E a transformação é o que decorre desse momento na presença de Deus. É a dimensão do milagre. Resumo tudo em um único verso bíblico.

    1. ◦Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte; congregar-vos-ei de todas as nações e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei para o exílio (Jr 29:13-14).
  1. Conclusão

Concluo reapresentando minha tese inicial, agora com uma redação devocional.

Aprouve ao Criador que o coração humano fosse capaz de traduzir o bem em belo e, assim, pudesse adorá-lo também por meio da arte. Por isso, quando entramos no quarto para apresentar-lhe nossos corações, em louvor e ações de graças, colocamo-nos na iminência de vivenciar a experiência mais emocionante que um filho da Adão pode suportar: a percepção da presença inefável e amorosa do Sublime. Nesse momento, compreensivelmente, nosso cálice transborda.

[1] Ver meu livro: Louvor, Adoração e Liturgia, Viçosa, Ultimato.

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