O ministério integral (parte 4)
Avaliando o ministério da igreja
Cabe-nos agora sugerir técnicas para a avaliação do desempenho das nossas igrejas locais nestes diversos ministérios. Ao fazer isto, nossa única finalidade é preparar o caminho para um planejamento que leve ao aprofundamento e expansão da igreja na nossa região. Não estamos interessados em criticar ninguém, atacar esse ou aquele ministério, essa ou aquela pessoa. O único interesse justificável é a ampliação das bases humanas para a glória maior de Deus.
As técnicas incluem levantamentos quantitativos (análise) através de tabelas, gráficos e estatísticas, e interpretações qualitativas (diagnóstico) dos dados através da sua comparação e a identificação posterior de pontos fracos e/ou lacunas de ministério. A análise quantitativa às vezes assusta o líder espiritual, pois não parece ser uma atividade espiritual, e de fato, em si, ela não é. Entretanto, a análise quantitativa constitui um passo preliminar essencial à interpretação qualitativa, da mesma forma que os exames médicos (a maioria quantitativa) precedem o diagnóstico capaz de identificar uma doença. Portanto, não devemos recuar diante do uso de dados quantitativos. Ao mesmo tempo, sempre cabe um aviso: o uso de estatísticas requer especial cuidado, pois é fácil manipular dados e medir coisas menos relevantes. Exige-se critério no devido uso de dados quantitativos. Com esta ressalva, vamos adiante.
Idealmente, levantamos dados numéricos para cada uma das áreas de ministério mencionadas acima: o discipulado, o treinamento, a proclamação, o testemunho, o acréscimo, a comunhão, o ensino, e o serviço. Para cada um destes ministérios, o levantamento pode ser das seguintes atividades:
1. discipulado | número de líderes na igreja, acompanhamento um-a-um, número e frequência nas sociedades |
2. treinamento | número de eventos de treinamento e frequência, líderes preparados (e.g., professores de ED, seminaristas) |
3. proclamação | pontos de pregação, igrejas organizadas, programas públicos e apresentações especiais na vizinhança |
4. testemunho | projetos e contribuição de ação social, contribuições, envolvimento político |
5. acréscimo | número no rol de membros |
6. comunhão | número/frequência de grupos nos lares, frequência nos cultos, número de confraternizações |
7. ensino | frequência na Escola Dominical, conhecimento teológico e bíblico |
8. serviço | número de visitas nos lares e hospitais, número de visitas, contribuições |
Infelizmente, são raras as igrejas que mantêm um bom registro de todos estes dados. O mais comum é o registro de perdas e ganhos no rol de membros e da frequência na Escola Dominical. Algumas igrejas mantêm registros da frequência nos cultos. Estes são registros absolutamente mínimos. Quem sabe, como incentivo deste curso, a sua igreja começa a manter mais registros, e registros mais precisos para melhor avaliação posterior do crescimento da igreja. Por enquanto, vamos trabalhar com os registros “mínimos”: rol de membros, frequência na Escola Dominical, e frequência nos cultos. Estes dados podem ser adquiridos idealmente em registros oficiais da igreja. Na ausência de tais registros, a segunda opção seria o uso de entrevistas para estabelecer os dados. Sempre evite a mera estimativa sem base em registros ou entrevistas. Os passos para o levantamento e ilustração dos dados vêm a seguir. Começamos com a construção de gráficos de linha. Depois passaremos a construir gráficos de barra:
Variações na Participação na Igreja
Primeiro, registre os dados gerais da igreja: nome, endereço e telefone; data da pesquisa; nome e telefone do pesquisador; nome, título, posição na igreja e telefone de contatos.
Segundo, estabeleça a extensão do período estudado. É comum limitar a pesquisa a um período de cinco ou de dez anos. Isto é útil para a comparação com outras igrejas. Quando este não é o caso, o critério para estabelecer a extensão pode ser mais local: por exemplo, o período de existência da igreja quando nova, ou o período dum pastorado. De modo geral, é melhor que a extensão não passe de dez anos, pois provavelmente os acontecimentos mais distantes terão menor efeito no desempenho atual da igreja. Pode usar fichas para colher as informações.
Terceiro, utilizando o papel milimetrado nas primeiras duas páginas do anexo, preencha os dados para cada um dos três registros na escala vertical. Utilize régua e lápis (não caneta). A primeira página do anexo serve de modelo para a segunda página onde você preencherá os dados da sua igreja.
Quarto, estabeleça uma escala horizontal para o gráfico (na segunda página do anexo) começando em baixo com o número menor registrado e subindo o máximo possível até o número maior registrado.
Quinto, marque com um ponto a interseção do número com o ano em que foi registrado e ligue os pontos com linhas sólidas e retas. Pronto, o primeiro gráfico está completo.
Finalmente, queremos comparar o crescimento destas três áreas com o crescimento demográfico da região da igreja. Para isto, precisaremos de dados da prefeitura ou do IBGE. Por exemplo, atualmente a taxa de crescimento para todo Brasil na última década foi de 16%. Neste caso, multiplique o número do primeiro ano por 116% e marque o ponto deste valor acima do décimo ano. Faça um linha pontilhada entre este ponto e o número do primeiro ano, para ilustrar o crescimento demográfico comum.
OBSERVAÇÃO: Alterações drásticas precisam de especial indagação. Por exemplo, houve um “limpeza” no rol de membros? Ou houve uma transferência maciça devido à organização duma nova congregação ou uma divisão na igreja?
Agora estamos prontos a identificar com mais precisão os anos de maior e menor crescimento ou declínio. Para isto, analisaremos as taxas de crescimento anuais no rol de membros, e na freqüência na Escola Dominical e no culto. Os passos são os seguintes:
Variações na Taxa de Crescimento
Vamos começar com um gráfico das taxas de crescimento no rol de membros. Primeiro, subtraia o número do ano anterior do número do ano posterior. Por exemplo, suponha que em 2000 sua igreja tinha 425 membros comungantes e não comungantes e em 2001, cresceu para 475 membros. A diferença, portanto é um acréscimo de 50 membros (475 – 425 = 50).
Segundo, divida esta diferença pelo número do ano anterior (50 425 = 0,12). Para transformar este valor em porcentagem, simplesmente multiplique por 100 (100 x 0,12 = 12%). Portanto, a taxa de crescimento em 2001 é 12%.
Terceiro, calcule a taxa de crescimento anual para cada um dos anos analisados, preenchendo o valor na tabela da quarta página do anexo. A terceira página serve de modelo.
Finalmente, faça um gráfico de barra na quarta página do anexo, conforme o modelo na terceira página do anexo.
Agora, poderá fazer gráficos para as taxas de crescimento na frequência na Escola Dominical e nos cultos na quinta e na sexta página do anexo.
Com o gráfico de barra podemos identificar com mais clareza os anos de maior variação relativa no crescimento da igreja nas suas diversas atividades. Quanto à variação no rol de membros, falta ainda especificar que tipo de perda e ganho houve. Para isso precisamos fazer um outro tipo de gráfico de barra.
Tipos de Aumento e Perda no Rol de Membros
O fluxo no rol de membros (ganho e perda) é de três tipos: biológico, por transferência, ou espiritual. Cada tipo é medido da seguinte forma:
Biológico | Transferência | Espiritual | |
Ganhos | batismos de criança | carta para a igreja | batismo com profissão de fé |
Perdas | mortes | carta da igreja | exclusões disciplinares |
O gráfico é semelhante ao gráfico das taxas de crescimento anuais com as seguintes diferenças. Utilize a oitava página do anexo, seguindo o modelo da sétima página.
Primeiro, a subida e descida na escala não é medida em porcentagens, mas sim em números absolutos.
Segundo, todos os ganhos e perdas dum ano constam na mesma barra para aquele ano.
Terceiro, cada tipo de perda e ganho parte da mesma ordem do eixo zero. Por exemplo, comece com os ganhos biológicos (batismos de crianças), partindo do zero e subindo o número de lugares do ganho biológico daquele ano. Depois parta do zero para baixo o número de lugares da perda biológica (mortes) daquele ano. Agora faça o mesmo com os ganhos e perdas por transferência, não partindo do zero, mas partindo de onde terminaram os ganhos e a perdas biológicos.
Comparando este gráfico com o gráfico das taxas de crescimento anuais, podemos perguntar o motivo de maior ou menor crescimento. Por exemplo, é possível que um declínio grande num ano se deva a uma transferência grande de membros para implantar uma nova igreja. O que parecia negativo num gráfico (taxa negativa de crescimento), no outro (tipo de ganhos e perdas) tem um motivo positivo.
Temos agora melhor condição de arriscar um diagnóstico. Mas antes disto precisamos de mais informação, em forma de narrativa.
A Narrativa do Histórico da Igreja
Não é a toa que o médico, quando possível, procura conhecer o histórico do paciente. Assim descobre padrões de comportamento do corpo que ajudam a prever o desenvolvimento futuro. Queremos fazer o mesmo. Algumas dicas se seguem:
Primeiro, queremos realizar uma breve análise demográfica, de duas a três páginas. Aqui consta o desenvolvimento demográfico da cidade e do bairro. Pode incluir a faixa etária, escolaridade, renda per cápita e situação social e religiosa da região. Procure identificar a “personalidade” do bairro. Que tipo de movimento existe lá. Quais instituições, indústrias ou comércio existem por perto. Por que as pessoas vão para lá, ou permanecem lá?
Segundo, existem fatores mais globais, ou seculares ou eclesiásticos, que precisam ser registrados? Por exemplo, houve calamidades naturais ou econômicas que poderiam ter influenciado o crescimento da igreja? Ou houve campanhas e programas do presbitério, sínodo, ou supremo concílio que influenciaram significativamente o movimento na igreja local? Registre estes dados.
Terceiro, queremos narrar um pequeno histórico da igreja, digamos de três a cinco páginas. Para fins de analisar o crescimento da igreja, não estamos interessados em registrar tudo que aconteceu na história da igreja, muito menos homenagear certas pessoas ou famílias. Tal procedimento poderá caber a uma história mais elaborada da igreja. Nossa tarefa é mais específica. Queremos narrar os eventos, os programas, e as lideranças que influíram positiva ou negativamente no crescimento da igreja. Claro que a narração das influências negativas, conforme a igreja, pode ser extremamente delicada e o narrador precisará de prudência. Mas não dá para fugir. Dificilmente se trata uma ferida não identificada. Se o narrador não é uma pessoa vista e aceita como uma pessoa “de dentro”, convém pedir para diversos líderes opinarem sobre possíveis motivos por perdas significantes, e simplesmente registrar estas opiniões.
Finalmente, queremos pensar um pouco sobre o futuro. Afinal de contas, depois de todo nosso trabalho, o que podemos sugerir para melhorar? As perguntas fundamentais, ao meu ver, são estas: O que fizemos (eventos, programas, metodologias, estilos de liderança, etc.) de melhor nos últimos anos que precisamos continuar? Onde estão os nossos pontos fracos e como podemos corrigi-los ou, pelo menos, minimizá-los? Então, é só fazer um planejamento, com muita oração, de projetos e alvos para os próximos anos. Se assim for, e com a graça de Deus, o crescimento futuro deverá superar a média dos últimos anos.
(a ser continuada…)