Semana 26: Lucas 7.35

Mas aqueles que aceitam a sabedoria de Deus mostram que ela é verdadeira. (Nova Tradução na Linguagem de Hoje)
Mas a justiça da sabedoria de Deus foi confirmada por todos os seus filhos. (Sociedade Bíblica de Portugal)

Não é fácil traduzir este versículo. A segunda versão acima, pouco conhecida no Brasil, é melhor. Uma tradução bem ao pé da letra seria: “Mas a sabedoria é vindicada por todos os seus filhos”. Idéia estranha, não? Dá para entender a dificuldade de uma tradução clara. Entretanto, a passagem paralela, Mateus 11.19, já ajuda: “Mas a sabedoria é vindicada pelas suas obras”. E de fato, “filhos” tem esta ideia na cultura judaica antiga, a ideia de fruto. Só falta esclarecer mais uma coisinha. Que quer dizer “vindicada” ou “justificada” (dikaióō)? Essencialmente é “tratar ou ser tratado como justo ou certo” ou semelhantemente, “ser inocentado” ou “ser reto”. As ideias são próximas. Aplicando tudo isso ao versículo acima e ao seu contexto, traduzo assim:

mas conhecerá a verdade autêntica pelos seus frutos

E agora, já faz sentido? Sim e não. Sim, entendemos o que a frase diz. Mas a ideia vai na contramão do conceito contemporâneo do que é a verdade. Para muitos hoje, a verdade/sabedoria não possue personalidade, muito menos moralidade ou “postura”. Ao contrário, ela é acessível a todos, os bons e os maus. Qualquer um pode “dizer a verdade” e não importa muito a maneira que se fala. Por isso, dentro do conceito contemporâneo, pode perfeitamente dizer a verdade de modo grosseiro e ácido enquanto mantem pelo menos um ar de erudição. Mas o conceito bíblico de verdade ou de sabedoria é muito diferente. Veja, por exemplo, a personalidade da sabedoria em Provérbios 8.1-39. Ou até mesmo no Evangelho de Lucas, “Por isso é que a sabedoria de Deus diz: “Vou mandar-lhes profetas e apóstolos, mas eles mataräo e perseguiräo alguns deles.” (11:49 SBP)”. Na Bíblia, a verdade ou a sabedoria tem personalidade e é conhecida não pela vitória de palavras e sim pela qualidade dos seus frutos.

Lucas 7.35 se encontra entre a rejeição pelos fariseus e escribas, tidos como espertos nos versículos 30-34 e a história do falso fruto de um fariseu que convidou Jesus para jantar, usando de subterfúgios de “piedade”, nos versículos 36-50. A lição salta à vista, pelo menos para que tem olhos para ver.

A todos os queridos leitores, quem concordam e quem discordam com as minhas pontuações, e acima de tudo a mim mesmo: tomemos o devido cuidado na busca pelas verdades e a sabedoria de Deus. Que haja bondade entre nós (a lição da última devocional) para que a “nossa” sabedoria seja vindicada.

Oração

Ó Deus, cria em mim um coração puro e dá-me uma vontade nova e firme! (sl 51.10 NTLH)

  1. É, deveras, uma mudança e tanto esse artigo!

    De um estilo de hermenêutica neotestamentária do tipo alegórico visível em postados anteriores para um atual mais aproximado e apropriado ao texto, quiçá, jogando mais luz sobre o contexto, com menos ‘opiniologia’, certamente torna-o mais atrativo. Pelo menos a mim!

    Esse postado último do Doutor deixa ao largo aquele eixo de ruminações pessoais, isto é, frequentemente alegóricas, e passa à uma obediência mais exegética, mais acadêmica. Me contento como leitor. A melhora é visível!

    Todavia, noto que, infelizmente fui censurado, até o momento pelo menos, pela não publicação de meu comentário como réplica a certos gracejos travestidos de bondade social.

    Eu aceitaria de bom grado a sugestão dada a mim, pelo menos, como leitor, quanto ao devido cuidado que se há de ter na busca pelas verdades e a sabedoria de Deus, sobretudo à sugestão do Doutor para que haja bondade entre os leitores. E admito, entre os articulistas.

    O que não exclui, evidentemente, a crítica pontual a postados passados e futuros.

    Infelizmente o Doutor, além de censurar, manteve seu comentário infeliz à crítica pontual feita por mim ao postado PREDISPOSTOS À BONDADE, mantendo o dele, o que invalida, certamente, a bondade decantada aqui e a sabedoria que, a julgar pelos conhecimentos cristãos que o Doutor carrega na fé, não tem aquele valor condizente ao pedido.

    Ancorado o blog no Portal, aquiesço. Direito assiste ao hospedeiro a censura ou, na melhor das hipóteses, faculta-lhe a moderação pela publicação ou não.

    Mantida a não publicação, porém, o Doutor vai ter que ficar com o barrete da hipocrisia que certamente encarnaria, de modo espetacular, na atitude que Jesus condenou.

    • Não censuro, querido. Apenas ando ocupado. Da última conversa para hoje, estava em São Paulo para o Fórum de Ciências Bíblicas patrocinado pela SBB, palestras em Ft. Lauderdale, Flórida e nos últimos dias até o fim de semana que entra, reuniões intensas do dia inteiro durante uma semana de deliberações denominacionais em Pittsburgh. Veja só a hora do dia que me sobra para dar atenção para ti. Apenas esclareço que não disfarço as minhas bondades sociais, quer aceite quer não e por isso, não vejo razão de insistir nisto. Um abraço fraterno…

  2. O Doutor julga ter a presunção da verdade e não gosta de ser criticado, algo tão natural e saudável na democracia, mas que o Doutor pela linhagem PCA provavelmente não gosta.

    Conheço bem esse universo azeitado pelo passe livre da confissão estreita.

    O Doutor e suas atividades (alguém pediu?), como bem se diz, me fez lembrar de Venceslau Braz (associação pela barbicha rala).

    Durante o governo Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente apático. Vivia pescando (ou escrevendo abobrinhas). Quando foi alçado à Presidência da República, o jornalista Emílio de Menezes comentou: “É o único caso que conheço de promoção por abandono de emprego.”

    O Doutor não é apático na escrita, e a julgar pelos comentários postados, trata-se apenas de ‘exegese por abandono’. Aquela em que o trabalho laborioso, se feito, seria para os entendidos, e a embromação para os tolos.

    Realmente não há disfarce. Serve-lhe o barrete!

    É preciso tomar cuidado com o preconceito porque ele impede que se entenda o essencial.

    O preconceito tem essa característica de chamar alguém por nomes que podem muito bem soar diáfano e culturalmente banal, mas que no fundo traz uma injúria; leve, só para não passar do ponto e da medida.

    O agressor quase nunca sabe por que agride, mas está certo de que o outro sabe por que está sendo agredido. Se chamado a se explicar pela via do artigo, tartamudeia ou apresenta agenda.

    Guarda o desejo, Doutor, a categoria servir-lhe-á a outros propósitos. A mim não. Vou ao artigo e nos escritos.

    Se alguém não pode provar que está certo, qual a razão de pedir que outrem prove que Zé das Couves está errado?

    Por que alguém resolveria torturar a exegese de um texto até que estes confessassem o que o sujeito está saracoteando com branduras?

    Que coisa esquisita (para não dizer estranha)!

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *