O Evangelho apolítico?
Semana 8: Lucas 3.1-6
Fazia quinze anos que:
- Tibério era o Imperador romano.
- Nesse tempo Pôncio Pilatos era o governador da Judéia,
- Herodes governava a Galiléia,
- o seu irmão Filipe governava a região da Ituréia e Traconites,
- e Lisânias era o governador de Abilene.
- e Anás e Caifás eram os Grandes Sacerdotes.
Foi nesse tempo que a mensagem de Deus foi dada, no deserto, a João, filho de Zacarias. E João atravessou toda a região do rio Jordão, anunciando esta mensagem:
“Arrependam-se dos seus pecados e sejam batizados, que Deus perdoará vocês. Isso aconteceu como o profeta Isaías tinha escrito no seu livro:
‘Alguém está gritando no deserto: Preparem o caminho para o Senhor passar! Abram estradas retas para ele! Todos os vales serão aterrados, e todos os morros e montes serão aplanados. Os caminhos tortos serão endireitados, e as estradas esburacadas serão consertadas. E todos verão a salvação que Deus dá.’” (NTLH)
Será que Lucas precisa realmente ser mais explícito que isto? O fim do exílio político de Israel com a chegada do rei messiânico precedido pela vida do seu servo (João) aconteceu dentro dum contexto político específico! Ou os seis referenciais políticos não eram suficientes para deixar isto claro? Eu sei, eu sei, já tratei deste assunto bem recentemente (Semana 4: O imperador Augusto). Mas não é culpa minha. A leitura do Evangelho de Lucas nos força a voltar para este assunto. Por mais difícil que seja para alguns de nós reconhecerem, a vinda de Cristo era um confronto político. Fé e política naquela época, diferente de que muitos pensam hoje, se misturava. Melhor dizer que ainda não haviam se distinguido tão nitidamente. Daí? Que isto tem a ver com uma simples devocional? Somento isto…
Se Jesus veio para fazer uma diferença, não somente uma diferença no meu interior, mas também no meu exterior, o que inclui o mundo (social, econômico, político, etcf.) que me cerca, eu preciso assumir esta mesma dimensão da fé que Jesus viveu. A fé autêntica não se limita a minha privacidade. A fé essencialmente, na sua origem e nos seu propósito, é pública.
Oração:
Pai bondoso, ensina me a ser um discípulo cuja fé transborde em e transforma o mercado, a academia, o escritório, o meio ambiente e a política. Em nome de Jesus. Amém.
Eduardo
O que é que as seis afirmativas acima têm (ou guardam relação com) com o a afirmação de que a Sua vinda aconteceu dentro dum contexto político relevante?
Se se tomar, para efeito de ilustração, três figuras religiosas de destaque em diferentes momentos da história universal e buscar seis ‘marcadores’, ter-se-á a mesma relevância convencional: um pouco mais, um pouco menos, e sempre localizada.
É forçar, a meu juízo, imaginar que Lucas (se foi realmente ele o autor do livro que leva seu nome e de Atos) está pontuando esses ‘marcadores’ como se estivesse elaborando alguma coisa como uma História Universal de Eusébio.
Essa sim, faz sentido como abordagem pioneira, tratando cronologicamente do aparecimento e desenvolvimento do Cristianismo dentro de um determinado período.
Ou, quem sabe, as investigações de Heródoto (meio fantasiosas), ou de Tucídides (aplicando métodos críticos, cruzamento de dados, fontes, etc.).
Agora, se se jogar Lucas para o pano de fundo do Velho Testamento e aplicar por lá a relevância de profecias (e cumprimento) com ‘marcadores’ nos dias do Império Romano, ainda assim constituirá um simples corte histórico (visão de Lucas). E mais, de pequena monta.
Imagino que aquele que lesse Lucas cerca de 30 anos depois dos fatos narrados (e os seus ‘marcadores’), não faria a menor ideia de que estava lendo alguma coisa circunscrita a um mundo, àquela época (Palestina), rigorosamente insignificante.
Não entendo, à luz do escrito, essa ideia novel do articulista aqui, com a conclusão do último parágrafo.
Junto-me aos demais na oração, mas assim, como quem não está entendendo muito os ‘volteios’ do raciocínio. Talvez não seja para entender mesmo, mas para orar.
Tim Carriker
De fato, não entendeu. Os “marcadores” não foram meus. Quem fez foi o autor do Evangelho, que leva o seu leitor, ao longo da sua narração, e reparar a sua personagem principal, Jesus, como figura que agia não numa espefa meramente “espiritual”, mas altíssimamente política, tendo como momento climático o aparecimento desta personagem diante dos poderes políticos contituídos e sendo condenado pelos mesmos, e isso por um crime explicitado como político (“rei”).
Eduardo
Concordo com você, isto é: se há aqueles que conseguem reproduzir apenas ‘o som das palavras’ mas não entendem o seu sentido quando articuladas em um conjunto de ‘marcadores’ em Lucas (aliás, diga-se de passagem, ‘supostamente Lucas’); ou se no conjunto dos ‘marcadores’ reproduzem apenas sons didáticos, que foi exatamente o que você fez com o seu artigo, eu entendo então que há sim um ‘mercado ávido’ e legítimo por práticas que confortam a alma e dão àqueles que carecem de uma palavra tipo ‘self-help’ um enorme apoio.
Tim Carriker
Por sinal, por “marcadores” me refiro a um fenômeno linguístico amplamente reconhecido. Quanto mais a repetição mais a sua significância como ferramento literário de ênfase…