Semana 3: Jó 1.14-22
… veio um mensageiro a Jó e lhe disse [perdeu para do rebanho e alguns empregados] … Falava este ainda quando veio outro e disse [perdeu mais rebanho e empregados] … Falava este ainda quando veio outro e disse [perdeu ainda mais rebanho e empregados] … Também este falava ainda quando veio outro e disse [perdeu todos os seus 7 filhos e 3 filhas] …. Então, Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e lançou-se em terra e adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR! Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma. (Revista e Atualizada)
Reflexão
É muito difícil imaginar a perda de Jó. Mas muitos de nós já tivemos perídodos da vida que foram “nuvens escuras”, momentos quando não sentimos nada “abençoados” por Deus. Por isto, a reação inicial de Jó pode surpreender, pelo menos, a princípio. Pois, mais adiante veremos que Jó começa a demonstrar a sua grande tristeza e aborrecimento e a soltar aquelas perguntas dífíceis de quem sofreu tamanha perda.
Não sei o que se passava neste momento no íntimo do seu coração, mas ele reagiu da maneira certa. Não ficou paralizado com o susto (“se levantou”), expressou aberta e publicamente o seu profundo lamento (“rasgou seu manto, rapou a cabeça”), não jogou a culpa em Deus, mas o adorou, e talvez especialmente importante para nós latinos, não se julgou merecedor de nada. Mas, o seu comentário final levanta uma ambiguidade. Jó afirma, “O Senhor o deu e o Senhor tomou, bendito seja o nome do Senhor!” A ambiguidade surge porque, no versículo 12, Deus havia concedido a Satanás o poder sobre as posses de Jó. Então, quem tomou tudo do Jó? Deus ou Satanás? Os teologicamente espertos diriam que foram os dois, Deus e Satanás. O último aprontou os detalhes, o primeiro deixou. Tudo bem, é isso mesmo. Mas nós fazemos esta avaliação de modo frio, sem sentir na pele a perda. E Jó não. Para ele, se Deus é o único e verdadeiro Deus, em última análise a nossa “sorte” está nas suas mãos. Por enquanto, Jó ainda não lida com a maldade da desgraça que lhe ocorreu. Mas isto vai acontecer. É só aguardar o capítulo 3.
Talvez isto seja uma das maiores dificuldades da teologia da prosperidade. Quando Deus permite a vinda de desgraças na nossa vida, a teologia da prosperidade simplesmente cai por terra. A vida simplesmente não funciona assim. O perverso também prospera e o justo sofre. A tentação de querer explicar o por quê é muito grande, mas, sinceramente, embora eu possa dizer algumas coisas, nenhuma das minhas “explicações” é completa. [Domingo passado, eu fiquei frustrado porque não consegui explicar a passagem tão bem quanto queria, e a minha amada esposa me lembrou, “nem sempre precisa ou pode explicar”].
Os sofrimentos de Jó e os nossos são assim. Não há boas explicações. Por certo o evangelho da prosperidade encabeça a lista de explicações furadas. Mas, mesmo que a resposta inicial de Jó possa parecer ainda superficial (pois terá que trabalhar bem mais a sua reação), confesso que não há melhor maneira de começar: “O Senhor o deu e o Senhor tomou, bendito seja o nome do Senhor!” E isso no meio de muito choro e lamento. E sabendo que teremos que dizer, sentir, e reagir, muito mais…
A dor explicada não é assimilada, nem curada, pode até corroer mais. A dor, por definição, tem que ser sentida.
Graças te damos, sim, SENHOR, por toda boa dádiva na nossa vida. Livra-nos do mal e santifica-nos na dor. Bendita seja o teu santo nome. Amém.