Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5.7) 

 

Misericórdia é refluxo do amor de Deus

Os escritores bíblicos expressam, da melhor forma possível, o quanto conheciam da misericórdia de Deus. Deus é apresentado como aquele que se compadece e acolhe. Ele é o Pai misericordioso, compassivo e assaz benigno (Salmos 51 e 103). O povo de Deus é desafiado e animado a usar da mesma misericórdia para com o seu próprio povo e com o estrangeiro. Jesus falou a seus discípulos da compaixão exercida pelo bom samaritano, ajudando um homem caído na estrada, e enfatizou a atitude do bom samaritano como sendo um referencial de misericórdia (Lc 10.37).

O discípulo se reconhece alcançado pela misericórdia de Deus. Paulo, depois de descrever a condição de pecado da humanidade, diz: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou… nos deu vida” (Ef 2.4,5).

O discípulo, tendo sido alcançado pela graça de Deus, torna-se gracioso — cheio de graça para com os outros. A graça ou misericórdia brota como virtude interior, bem- aventurança que nasce nas entranhas da alma. Por essa razão o discípulo de Jesus se compadece sem pressão externa. Usar de misericórdia não é uma tarefa árdua e pesada para ele. A misericórdia faz parte de sua essência espiritual; flui como um rio. O discípulo não perdoa para ser perdoado; perdoa porque foi perdoado e porque reconhece o quanto Deus tem sido misericordioso para com ele. Conseqüentemente, usa de misericórdia para com o outro. A misericórdia, na vida do discípulo, é refluxo do amor recebido de Deus.

Assim o discípulo percebe-se como suporte da dor e do sofrimento do outro. Enquanto luta pela justiça, sente-se motivado a orar e abençoar publicanos e pecadores, e até inimigos. Como disse Dietrich Bonhoeffer, “o misericordioso empresta a honra própria ao descaído e toma sobre si a sua vergonha. Procura a companhia dos publicanos e pecadores, e suporta prazerosamente a vergonha de sua companhia” (1984; 61).


Misericórdia e poder do Espírito

O foco do discípulo não está voltado para a ação ou a reação das pessoas. Ele age com base na sua relação com Deus. Paulo faz referência à misericórdia como dom do Espírito Santo que deve ser exercido com alegria (Rm 12.8). Em virtude disso, o discípulo encontra força sobrenatural para, livremente, se compadecer, inclusive do ímpio. Ele se compadece não só por entender que o ímpio é uma pessoa enganada por si mesma, pelos esquemas de desumanização, engodada pelo Diabo; mas, acima de tudo, por desfrutar da graça preciosa do Espírito Santo. Sob esta graça, o discípulo consegue usar de misericórdia a despeito das possíveis maldades do inimigo. Diante de um discípulo de Jesus, o inimigo sedento e faminto será saciado e alimentado: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber” (Rm 12.20).

Convém ressaltar ainda que quem usa de misericórdia não deve criar expectativas de recompensa por agir assim. Jesus usou de misericórdia, orou por seus algozes — e recebeu como afronta a crueldade da cruz. O discípulo é misericordioso em virtude da herança que recebeu do Pai celestial.

Felizes, portanto, os misericordiosos. Felizes, primeiramente, por terem resgatado em suas vidas o valor sobre-humano da misericórdia. E felizes, finalmente, como disse Bonhoeffer, “porque têm por Senhor o Misericordioso”.

 

Por Carlos Queiroz

 

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