DTranscrevemos aqui o final da reflexão de Jorge Henrique Barro sobre criança e urbanidade contido no livro Para Falar de Criança. É leitura obrigatória para aqueles que lamentam o fim dos espaços livres percorridos pelas crianças de ontem, vedados e perigosos às crianças de hoje. Aprecie:

Vimos como as praças surgiram e se devolveram, passando a ter diferentes significados de acordo com as épocas. É certo que as gerações mais antigas lembram-se das praças com nostalgia. Mas também é certo que a geração atual mal a conhece pessoalmente. A vida urbana vai nos conduzindo para o sectarismo e individualismo. O futuro de nossas praças será para os animais fazerem suas necessidades, com donos que nem se prestam pelo menos a levar um saco plástico para retirá-los? Será um espaço paisagístico, verde, de passagem, mas sem vida humana? Será um espaço transformado em feiras regionais?

Minha posição foi clara: que a praça seja um espaço ordenado e controlado, mas aberto a todos por ser pública. Isso não significa que as pessoas podem fazer com a praça o que bem entendem por ter esse caráter público. Para a construção e desenvolvimento desse espaço ordenado e controlado é de vital importância se pensar e agir em parceria, com o poder público, as associações, federações e confederações de moradores do bairro, além das instituições, fundações e empresas. Juntos somos mais; juntos podemos mais. Se as praças não forem revitalizadas e re-conceitualizadas, restarão os espaços institucionais construídos por adultos privados e pagos, sendo mais uma vez uma forma excludente de convivência social.

O cantor cantou:

 “Houve um dia aqui uma praça

Onde tantas crianças cantavam

Houve um dia aqui uma praça

Onde os velhos sorriam lembranças

Houve um dia aqui uma praça

Onde os jovens em bando se amavam

E os homens brincavam trabalho

Um trabalho sem desesperança

Digo, meu filho, que esse jardim

Era viço da vida vingando

Digo, meu filho, que esse jardim

Era o brilho dos olhos despertos

Digo, meu filho, que esse jardim

Era o branco dos dentes brilhando

E a festa da vida seguia

Pelo franco dos gestos libertos

Digo fresca memória que aqui não havia

Do medo este cheiro

Digo de fresca memória que aqui não havia

De estátuas canteiros

Houve um dia aqui uma praça,

Uma rua, uma esquina, um país

Houve crianças e jovens e homens

e velhos, um povo feliz”

(Memória, Gonzaguinha)

O profeta profetizou:

Assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda nas praças de Jerusalém sentar-se-ão velhos e velhas, levando cada um na mão o seu arrimo, por causa da sua muita idade. As praças da cidade se encherão de meninos e meninas, que nelas brincarão (Zc 8.4-5, grifo nosso).

E aqui estamos nós no tempo e nos espaço: entre o “houve um dia aqui uma praça” e o “ainda nas praças/as praças da cidade se encherão”. No passado, a saudosa memória. No futuro, a esperança. E no presente, as praças das cidades como espaços de bons tratos da infância? Respondo como o cantor:

Depende de nós

Quem já foi ou ainda é criança

Que acredita ou tem esperança

Quem faz tudo pra um mundo melhor

Depende de nós

Que o circo esteja armado

Que o palhaço esteja engraçado

Que o riso esteja no ar

Sem que a gente precise sonhar

Que os ventos cantem nos galhos

Que as folhas bebam orvalhos

Que o sol descortine mais as manhãs

Depende de nós

Se esse mundo ainda tem jeito

Apesar do que o homem tem feito

Se a vida sobreviverá

Depende de nós

(Depende de nós, Ivan Lins)

Depende de nós se queremos que as praças das nossas cidades sejam espaços de bons tratos da infância!

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O texto acima foi retirado de um dos capítulos

do livro Para Falar de Criança publicado pela Editora Diálogos. 

Para saber mais detalhes ou adquirí-lo clique aqui.

  1. Muito boa reflexão.
    Leciono num dos bairros mais violentos do Recife, o Coque, fica no centro da Capital. Não há praças, e as que existem foram tomadas pela violência.
    Construir uma cultura de Paz no mundo, a começar dentro das famílias, dentro das escolas, no bairro, nas praças, a partir do Príncipe da Paz-Jesus que disse: Deixem as crianças virem a mim. O bom trato com as crianças começa com as próprias crianças sabendo o quando são amadas e especiais para Jesus, o quanto elas podem ser agentes de paz neste mundo de guerras.
    É uma luta e uma construção de toda comunidade e os seguidores do Evangelho-Jesus têm contribuição profunda neste processo.
    Paz e bem.

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