A arte de escutar os de dentro de casa: o diálogo pleno entre as diferentes gerações
Por Débora Vieira
É realmente possível falar de uma comunicação plena dentro de casa? Pensando nos dias atuais, em pessoas de gerações diferentes? Aquela experiência de poder falar e ser realmente compreendido, aquele espaço seguro para rir e chorar quando preciso ou simplesmente conseguir resolver questões do dia a dia sem maiores problemas, com todos falando a mesma língua. Como isso pode de fato acontecer em uma família real? Afinal, todos aqui sabemos que um lar com crianças ou adolescentes é bem propenso a falas mais enérgicas, discussões e, não raro, mal entendidos. As diferenças entre as gerações podem gerar conversas frustrantes e muitos pais ou cuidadores acabam não sabendo, muitas vezes, como criar um ambiente de paz.
Na teoria, a boa comunicação precisa de três fatores primordiais: 1. o falar, 2. o escutar e 3. a mensagem em si. Se um deles estiver com problemas, todo o processo comunicativo é comprometido. Hoje vamos pensar sobre o escutar. Por que? Porque dos três, é o fator que talvez seja mais complexo. (Mais pra frente, em outros textos, podemos tratar do “falar” e da “mensagem” na Comunicação. Há muito para se meditar neles também!)
Vamos então pensar sobre escutar os de dentro de casa. Nossa língua portuguesa diferencia o escutar do ouvir. É interessante pensarmos sobre isso aqui. A palavra “ouvir” vem do latim audire: “perceber o som”. A palavra “escutar” vem do latim auscultare: “ato de dar atenção ao que se ouve”. O ouvir requer simplesmente a percepção auditiva – o processo mecânico de perceber sons e ruídos. Ouvir é, também, uma atitude passiva – o som é simplesmente recebido pelo ouvido sem necessidade de esforço ou atenção consciente. E por último, o ouvir percebe apenas a mensagem em si – sem consideração pelo contexto ou emoções envolvidos. Sabe-se que algo foi dito ou exposto, ponto. Escutar é outra coisa. É um processo ativo que requer atenção consciente e esforço para entender e interpretar a mensagem. Há muita coisa para se interpretar ao escutar algo: o tom, o ritmo, as pausas e as emoções transmitidas pela pessoa que está falando… Podemos, assim, dizer que escutar se concentra não apenas na mensagem, mas principalmente na pessoa que está falando, considerando suas necessidades, sentimentos e perspectivas. Escutar é algo ativo, é preciso trabalhar. Ouvir é passivo: somente “está lá”.
Escutar alguém dentro de casa, de outra geração, com vivências e experiências diferentes, requer muita intenção. Intenção de ser realmente um receptor de um conteúdo novo, um captador de uma nova realidade. Quanto mais conteúdo e informação se tem sobre um problema, mais condições se tem de resolver aquele problema. Por isso a Bíblia diz que a sabedoria está ligada ao escutar: “Escutem, pois a Sabedoria chama! Ouçam, porque o entendimento levanta a voz!” (Provérbio 8:1) Aquele que busca a sabedoria, busca desenvolver o ouvido do coração, quer apreender e captar o possível da vida. O escutar não é passivo. O coração e a mente aprendem a trabalhar muito neste processo. A boa comunicação familiar demanda trabalho, intenção.
Se faz necessário lembrar aqui que algo novo e diferente não é compreendido plenamente de cara. É preciso tempo. É preciso espaço. É preciso querer aprender. E para ter tudo isso é, sim, preciso paciência. Que, aliás, é outra coisa que somente os sábios, segundo o livro dos Provérbios, conseguem ter: “A pessoa paciente acabará se tornando sábia, mas quem perde a paciência e é precipitado mostra que não tem juízo” (Provérbios 14:29) Por isso também a Bíblia diz que o verdadeiro amor é paciente (1 Coríntios 13:4). Percebe? Para adquirir sabedoria é preciso escutar. Para escutar é preciso ter paciência. E ao ter paciência acabamos por desenvolver o verdadeiro amor. Não há como pegar atalhos, esse processo demanda tempo. Tempo em família. Tempo investido nos de dentro de casa. Escutar é a arte que colore uma cultura de amor no lar. Amor com tom, ritmo, pausas, e andamentos… cheios de significado! É possível aprender sobre outra geração, escutando, realmente, sobre ela!
Para fechar, veja este quadrinho, presente do Ilustrador Dirceu para a Rede Mãos Dadas, que resume tão bem nosso texto. Depois, responda rapidinho a enquete abaixo:

Sobre a comunicação entre a mãe e o filho: