Este foi o artigo mais acessado em 2023 pelos leitores da Rede Mãos Dadas. Nele, aprendemos sobre a importância da oração com o profeta Neemias. Queremos que, assim como Neemias, você também seja dependente da oração e que esta prática seja frutificada em seu novo ano.

 

INTRODUÇÂO

Neemias foi um judeu que viveu durante o desterro do povo de Israel para a Babilônia. O relato preservado para nós no Antigo Testamento mostra como ele foi usado por Deus para liderar um movimento de reconstrução dos muros de Jerusalém. Ele revela que este homem alinhava seu coração com a vontade de Deus e queria agradá-lo. Ao ser confrontado com as notícias do seu povo, em sua terra natal, vivendo em humilhação e desgraça, ele age. E o que ele faz serve como exemplo para nós hoje. Mas tudo começa com a oração.
Leia Neemias 1.1-11 A.

A – Caráter do líder

A realidade de Neemias, relativamente confortável na fortaleza de Susã, e a notícia sobre a miséria e desprezo vivida por seus compatriotas em Jerusalém, causam um grande impacto em Neemias. Sua reação revela alguns traços de caráter:

Quem? Neemias, uma comitiva de judeus liderada pelo irmão Hanani, Rei Artaxerxes, rei do Império Persa

Quando? Anos 446 B.C – 4 meses antes do “ano novo”.

Onde? Susã, um palácio de inverno do Império Persa.

Qual era o problema? Os judeus que restaram em Jerusalém após o exílio, viviam em miséria e desprezo.

Qual era a importância de um muro? Os muros das cidades antigas ofereciam proteção e dignidade. Uma cidade sem muros de proteção estava sujeita a invasões e saques sucessivos.

Qual era a situação daqueles que estavam sem muro? Desprotegidos, humilhados, desprezados, vivendo em miséria

Qual era a situação de Neemias? Protegido numa grande fortaleza e designado como oficial na corte do rei persa.

1. Se entristeceu profundamente porque foi capaz de ter empatia por seus compatriotas.
Ele poderia facilmente ter se esquivado da situação apresentada. Como um oficial importante atendendo ao rei, ele poderia ter raciocinado que não podia misturar as coisas. Tinha responsabilidades com esta terra e também com a sua família. Era inteligente, fiel e tinha conquistado aquele lugar de prestígio no exílio.

2. Revelou que sua fé no Senhor Jeová não era intelectual apenas, mas viva e operante.
Empatia e fé viva ocorrem juntas em muitos casos. Como um homem de ação ele se volta para o Senhor, jejuando e orando. Como um servo do Senhor, ele reconhece sua responsabilidade para com seus compatriotas necessitados.

B. A oração do líder
Depois de quatro meses gastos em luto, oração e jejum, finalmente Neemias se prepara para expor para o rei o seu problema. A oração registrada em Ne 1.5-11 acontece no final destes quatro meses. A oração revela as principais convicções teológicas deste líder. Sua formação teológica é demonstrada por várias menções contidas no livro de Deuteronômio.

1. A oração tem endereço certo
Neemias se dirige ao “Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível.” Senhor, JEOVÁ, aplica-se somente ao Deus histórico, revelado a Abraão, Isaque e Jacó. Mas, “Deus dos céus,” e “Deus grande e temível” era uma saudação comum ao deus Marduque, considerado pelos babilônios como o deus protetor da cidade da Babilônia. A próxima parte da saudação (Ne 1.5) lança fora qualquer dúvida sobre com quem Neemias deseja falar: “que guardas a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos!” (Ne 1.5, veja Deut 7.9). O Deus a quem Neemias dirige a sua oração é fiel e compassivo. Ele se importa com os que estão desprotegidos e fracos.

2. A oração tem confissão
“Faço confissão dos pecados dos filhos de Israel, os quais temos cometido contra ti. Eu e a casa de meu pai pecamos” (Ne 1.6). Ele não tenta se desculpar ou remeter a culpa às gerações passadas. Da queda de Jerusalém até Neemias, existe um espaço de 142 anos. Ele poderia ter pedido perdão pelos pecados de seus antepassados. Mas ele não entra no jogo de distribuir culpa para outros. Ele leva a sério a palavra de Deus registrada no Pentateuco e reconhece seu próprio fracasso em obedecê-la. Ele reconhece que ofendeu a Deus pessoalmente.

3. A confissão tem coração
Neste momento ele poderia seguir um de dois caminhos: o legalista ou o relacional. Numa relação legalista o ser humano tenta manipular a situação, usando a esperteza e manobras para obter o favor da deidade. Um jogo estratégico de astúcia, que envolve a mente mas não o coração. No entanto, Neemias escolhe o caminho relacional. Ele desejava servir ao Deus vivo, num relacionamento real, baseado em amor e numa experiência profunda com Deus, o Todo-Poderoso que transborda em graça e misericórdia. Ele se dirige a Deus como um servo com o qual o Senhor já tem uma longa história: “Eles são teus servos e o teu povo que resgataste com a tua grande força e com a tua forte mão” (Ne 1.10).

A confissão revela duas coisas sobre o coração de Neemias. (1) Humildade: ele se identifica com a situação de seus compatriotas, com o seu pecado, com a sua culpa e com o seu sofrimento. Ele assume o papel de um sacerdote para a comunidade tão distante intercedendo por eles. E isto confirma quem ele é: servo do Senhor. Sua posição como um oficial na corte do rei é só isto, uma posição, não a sua identidade. Neemias se identifica com o povo escolhido, apesar da humilhação pela qual este povo passa. E isto revela onde o seu coração está. (2) Coragem: Neemias não agiu por impulso. Foram quatro meses de oração e jejum. Ele não estava se colocando numa campanha superficial. Ele conhecia os riscos para a sua relação com o rei. Poderia, inclusive, perder a vida. Se mostrar triste na presença de um rei poderia ser visto como um insulto. Era uma atitude arriscada. Além disto, ele estava disposto a viajar até um lugar de destruição e miséria, longe da proteção do palácio.

4. A oração tem um pedido prático baseado em uma promessa
Primeiro ele pede para Deus se lembrar das suas próprias palavras fazendo referência a Deuteronômio. “E o Senhor vos espalhará entre todos os povos, desde uma extremidade da terra até à outra; e ali servireis a outros deuses que não conheceste, nem tu nem teus pais; ao pau e à pedra” (Deut. 28.64 – Ne 1.8). Por outro lado, ele se apressa a reiterar a promessa de reconciliação citando novamente o que está registrado em Deuteronômio: “Mas, se vocês se converterem a mim e guardarem os meus mandamentos, e os cumprirem, então, ainda que os seus desterrados estejam nos lugares mais distantes da terra, de lá os ajuntarei e os trarei para o lugar que escolhi para fazer habitar o meu nome.” (Deut. 30.1-5, 12-6 – Ne 1.9).

O pedido prático de Neemias é: faça cumprir a sua palavra. Seja fiel à sua promessa nesta situação, hoje. Ele não estava tentando manipular a palavra de Deus para o seu próprio proveito. Ele estava orando e depositando toda a sua confiança naquelas promessas. Ele estava dizendo, “Senhor, eu sei que o seu caráter não mudou. Faz com que a sua promessa se cumpra agora, nesta situação”.

Em outras palavras ele estava dizendo algo assim: “Nós quebramos a nossa aliança com o Senhor. Nós o abandonamos em troca de outros deuses que nos pareciam mais agradáveis. Longe do Senhor nós perdemos o rumo e acabamos espalhados, em miséria e humilhação. Mas o nosso relacionamento com o Senhor vai além, é mais profundo. Nos arrependemos e confessamos o nosso pecado confiando no fato de que o Senhor é um Deus de misericórdia. Queremos voltar ao Senhor.

Queremos servir ao Senhor novamente. E o problema lá em Jerusalém não será solucionado se o Senhor não nos receber de volta como povo teu”. E ele termina “Estes ainda são teus servos e o teu povo que resgataste com o teu grande poder e com a tua mão poderosa. (…) Faze com que o teu servo seja bem-sucedido hoje e encontre misericórdia diante desse homem” (Ne 1.10,11).

5. A oração integra a fé em Deus (em sua mão poderosa) e a responsabilidade pessoal.
Neemias entrega seu pedido nas mãos de Deus, e, ao mesmo tempo, coloca suas mãos à serviço da missão. A mão poderosa de Deus simboliza o poder de Deus para realizar a sua vontade. Neemias confia na palavra de Deus segundo a qual o seu desejo é o relacionamento restaurado. Na oração de Neemias, ele liga este desejo de um povo restaurado a um pedido pessoal que estará a serviço desta restauração. Neemias vai precisar da intervenção de Deus para obter o sucesso em sua missão. Diante da mão poderosa de Deus, o rei Artaxerxes é apenas “esse homem”.

PARE E REFLITA:

  • Neemias, um homem de ação, gasta quatro meses em oração e jejum. Você considera que este tempo gasto em oração pode ser considerado como uma etapa ativa na história? Ou você tem a tendência de pensar que a oração pode ser feita no caminho para não se perder tempo?
  • Quando um problema reflete a condição espiritual do povo de Deus como um todo, você sente a tentação de nutrir uma vida de oração individualizada, afastando-se dos pecados das nossas comunidades de fé como se eles não tivessem nada a ver com você, individualmente?
  • Com que frequência você se pega orando de forma legalista, tentando manipular palavras ou dizer as coisas certas para obter o favor de Deus?
  • Quando olhamos para a situação das pessoas em agrupamentos subnormais (favelas) no Brasil, que em sua maioria é constituída por crianças e adolescentes, podemos dizer que elas vivem em condições semelhantes aos compatriotas de Neemias. O que você acha que é o desejo de Deus, expresso em sua Palavra, para estas pessoas? O que Deus deseja de nós, enquanto comunidades de fé, já que professamos conhecer a sua Palavra? Como você acha que deveríamos adaptar a oração de Neemias para o nosso contexto? Por quanto tempo deveríamos orar?

 

James Gilbert, é missionário e fotógrafo. Ele atua na Rede Mãos Dadas como consultor em teologia.

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