Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça…
Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça, porque serão fartos (Mt5.6)
Jesus usa uma imagem bastante forte para ilustrar a gana do discípulo pela justiça: Fome e sede. O espírito do discípulo alimenta-se da justiça com a mesma gana que o corpo precisa de água e pão. A fome e sede de justiça são uma condição espiritual, um modo de ser natural dos discípulos de Jesus Cristo.
As faces da justiça
Jesus disse: “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus…” (Mt 5:20). “Guardai-vos de fazer a vossa justiça diante dos homens, para serdes vistos por eles” (Mt 6:1)
Assim, há um tipo de justiça pela qual o discípulo não deve ter apetite. Todos sabemos que os escribas e fariseus zelavam por um tipo de justiça superficial, legalista e meramente punitiva. No texto de Mateus 6:1, alguns tradutores preferem usar “boas obras” ou “esmola” no lugar da palavra “justiça”.
Neste caso, a justiça do religioso traduz-se em benevolência ao necessitado. Todavia, mesmo que dar esmolas ou fazer boas obras possam também representar atos de justiça, essas atitudes aqui aparecem apenas como instrumentos de propaganda pessoal: serem vistos pelos homens. Jesus está condenando este tipo de justiça. Então, de que justiça Ele está falando?
A justiça de Deus
No Antigo Testamento, a justiça de Deus é apresentada como um ato da sua exclusiva graça. Ela é entendida dentro do conceito de redenção e salvação, e não apenas da punição e condenação. Assim, aquele que é salvo o é por causa da justiça de Deus e o que é condenado, o é por causa do seu próprio pecado. Percebe-se um caráter punitivo da justiça como consequência das atitudes dos ímpios. O Antigo Testamento apresenta Deus muito mais como o salvador dos humildes, marginalizados, oprimidos – os “fora da lei”. O justo na Bíblia é entendido como alguém alcançado pela graça de Deus sem as obras da lei.
A justiça das relações humanas é meritória (recebe-se aquilo que merece), legalista e punitiva. A justiça divina, por outro lado, é também redentora. Justiça e salvação chegam a ter o mesmo sentido.
Precisamos resgatar o conceito da graça de Deus como favor de um Deus soberano, para com pequeninos que nada podem lhe dar em troca. Assim, todo orgulho e toda jactância são banidos, não havendo mérito ou justiça própria em ninguém.
Para falar a respeito da justiça de Deus, Paulo recorre a um texto antigo de Davi: “Assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado”. (Rm 4.6-8.)
Segundo Paulo, justo é aquele que é justificado por Deus de todos os seus pecados. Essa é a justiça primária da qual os que Jesus chama de felizes têm fome e sede. Eles reconhecem que não possuem nenhum direito na relação com Deus. E por isso, sentem-se famintos e sedentos de uma justiça que é, antes de tudo, paciente, misericordiosa, cheia da graça de Deus. Essa justiça alimento o discípulo de sonhos e esperanças. Ele sente fome e sede de ver os pobres de espírito herdando a nova sociedade alicerçada na santidade de Deus.
Por Carlos Queiroz
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