Seleção Brasileira da Copa de Rua perde uma estrela
Nesta sexta-feira, às 6:00 da manhã, uma amiga bateu na minha porta. Estava desesperada porque seu filho tinha sido baleado. Um membro do tráfico local tentou executá-lo mas, felizmente não foi bem sucedido. O rapaz está agora no hospital e não sabe para onde ir quando sair de lá! Até quando vamos aceitar que o tráfico de drogas interrompa a vida de nossos adolescentes e jovens? Veja a história de Rodrigo Kelton, assassinado aos 14 anos.
É com grande tristeza que a Copa do Mundo de Crianças de Rua notifica nossos apoiadores e parceiros da trágica morte de Rodrigo Kelton da seleção masculina do Brasil, em Fortaleza. Nossa solidariedade vai para a família de Rodrigo e nossos parceiros em O Pequeno Nazareno, que trabalharam tão duro para prover uma vida longe das ruas para Rodrigo. Ele morreu no dia 13 de fevereiro, durante uma visita à casa de sua família em Fortaleza. Era seu aniversário de 14 anos.
A história de Rodrigo é a típica de uma criança de rua. Nasceu em 2000 em Fortaleza, CE na mais completa pobreza. A família de Rodrigo se tornou uma família fragmentada por conta da pobreza e da dependência de seus pais em drogas. Com isto, Rodrigo e seu irmão mais velho Raphael começaram a gastar mais e mais tempo nas ruas.
Foi em 2009 que o agente social Antônio Carlos de O Pequeno Nazareno conheceu Rodrigo nas ruas e apresentou-o à organização. Rodrigo adorava jogar futebol e jogos de computador, e ele estava se destacando em suas responsabilidades como um jogador em seu caminho para a Copa do Mundo de Crianças de Rua.
A equipe do O Pequeno Nazareno viu a Copa de Rua como uma forma de manter Rodrigo focado em um futuro melhor. A fim de fazer parte da equipe, Rodrigo teve que frequentar a escola e se comportar. A ideia era trabalhar arduamente para construir a auto-estima de Rodrigo e ficou claro para eles que, quando ele estava na presença das outras crianças – e, especialmente, no campo de futebol – ele tornava-se um líder.
De acordo com Bernardo Rosemeyer fundador do O Pequeno Nazareno:
“O convite para participar da Copa do Mundo de Criança de Rua fez uma grande diferença na vida de Rodrigo. Ele aceitou o desafio de deixar as drogas e ele não perdeu nenhum treino. O envolvimento de Rodrigo e a perspectiva da viagem para o Rio foi uma luz em uma vida marcada por muito sofrimento.”
Foi uma batalha longa e difícil mostrar para Rodrigo que ele poderia ter um futuro longe da vida de rua, e, finalmente, foi uma batalha que Rodrigo e a organização não foram capazes de vencer. Em 13 de fevereiro, Rodrigo e seu irmão Raphael estavam andando para a casa de sua família quando os traficantes de drogas se aproximaram deles e os atacou. Rodrigo foi baleado e morto instantaneamente e Raphael foi baleado duas vezes, mas sobreviveu, devido ao mau funcionamento arma. A razão do ato foi de vingança por um assalto que Rodrigo tinha realizado muitos anos antes, no território dos traficantes. Sua morte foi usada para servir de exemplo para sua família e para a comunidade.
Infelizmente, Rodrigo é o segundo jovem que O Pequeno Nazareno perdeu este ano para as ruas. Em janeiro, Isaquiel Silva, que tinha acabado de completar 18 anos foi baleado e morto em um ataque aleatório enquanto dormia na rua.
No funeral de Rodrigo os meninos da Seleção do Brasil carregaram o caixão de Rodrigo e oraram com sua mãe. Ela disse aos meninos para manterem os treinos e jogar por Rodrigo, como se ele estivesse na equipe. Jogar era o que ele amava. Ela tinha assistido a vários treinos ficando muito animada com a perspectiva de Rodrigo viajar para o Rio. Desde que começou a treinar, este foi o tempo mais próximo que filho e mãe tiveram em muitos anos e foram os últimos meses mais felizes da vida de Rodrigo.
Bernardo Rosemeyer: “O passado voltou para assombrar Rodrigo antes que a semente de uma nova vida pudesse ter brotada e dar os frutos de uma vida com dignidade.”
Existem alternativas reais para este ciclo violento da vida nas ruas. Em todo o mundo a Copa do Mundo de Crianças de Rua é uma parceria com projetos que desenvolveram essas alternativas e no Rio 2014, não só comemoraremos o jogo que Rodrigo tanto amava, mas também apresentaremos o desafio das ruas para que os direitos e o futuro das crianças possam ser garantidos.
Nenhuma criança deveria ter de viver nas ruas.
Texto publicado originalmente: Streed Child Word Cup Rio 2014
Petrúcia de Melo Andrade
É muito triste continuarmos assistindo, escutando ou lendo histórias trágicas de crianças e adolescentes. Muitas vezes ficamos presos nos efeito dessas situações, mas, devemos refletir nas variadas causas de desigualdade social que contribui para efetivação de tantas vidas ceifadas precocemente. Não dá para responsabilizar somente a família.
Necessitamos urgentemente trabalhar na linha do enfrentamento as desigualdades.