Servimos com o que tínhamos em nossas mãos!
O relato abaixo foi escrito quando o coração da autora ainda ardia com a dor da despedida de uma comunidade isolada no interior do Amazonas. Vale a pena ler, compartilhar e orar por este povo igualmente amada pelo Pai! O relato mostra que o isolamento com o restante do mundo é uma realidade e a causa de muito sofrimento. Mas a igreja está lá e portanto não estão isolados do povo de Deus!
Hoje, 12 de abril de 2013, sexta-feira estamos saindo da Comunidade São José do Arara, uma entre as 50 comunidade ribeirinha do município de Caapiranga, interior do Amazonas.
Já estamos navegando há duas horas e meia pelo “furo” como são chamados aqui os atalhos que são encontrados no meio da mata quando o rio enche. No entanto quando chega o período de seca esses comunitários ficam isolados, não é possível sair deste grande lago, onde fica a comunidade em embarcações maiores do que uma pequena canoa.
Os mais de 1.000 comunitários que moram por aqui tem uma vista maravilhosa, vivem a beira de um lago do Rio Manacapuru. As belas paisagens, porém não amenizam as dificuldades que enfrentam.
Na agricultura o cultivo da Malva é o que traz para algumas famílias um pouco de dinheiro, porém pelas dificuldades de escoamento, ficam sujeitos a uma oferta muito baixa no preço do quilo. Esse também não é um cultivo fácil, a malva cresce em regiões de alagamento e a sua colheita se torna muito difícil e insalubre. Muitos já falam em deixar de plantar, mas ainda não sabem como sobreviver sem ela.
Nesta semana passamos os dias servindo-os com o que tínhamos em nossas mãos…
Por meio da parceria Uni Evangélica, Asas de Socorro e Terra dos Homens foi possível chegar aqui com uma equipe grande de profissionais da área de saúde, uma médica e duas acadêmicas de medicina, três médicas voluntárias que vieram de Portugal para estar com Asas de Socorro por 03 meses, e a Socorro, médica de Manaus, muito companheira e voluntária. Sempre que pode ela está conosco.
A Equipe Odontológica veio com um odontólogo, o professor e seis acadêmicos. Todos com muita disposição.
Além deles a equipe que o coordenador Fábio (Uni Evangélica) trouxe foi composta por um acadêmico de Farmácia; dois de Fisioterapia; cinco de Enfermagem; cinco acadêmicos de várias áreas que atuaram na Escola de Saúde( programa proposto pela Uni evangélica que trabalha com oficinas, abordando temas como Água, DST/HIV, Álcool e Tabaco e Cuidado com os dentes); 3 Pesquisadores (Biólogos e Agrônomo).
Asas de Socorro foi representada aqui pela Equipe de Manaus, Marco Manzano que esteve nos dois primeiros dias, Luce Janes que foi a coordenadora geral da clínica, Christiam e eu que trabalhamos com as oficinas do Claves, exposição do filme “Socorro” e contato com os professores da escola pública. O Ronaldo que veio de Santarém para nos dar suporte na esterilização e na montagem dos equipamentos de odonto, o nosso querido Reginaldo (funcionário da Base Manaus) que além de comandante do Barco de Asas foi o faz tudo. . Veio conosco também a Raquel Braun, ela veio para Manaus como voluntária e dedica este ano da sua vida para ajudar na base, nesta viagem ela esteve o tempo todo na farmácia auxiliando o acadêmico Heitor e as agentes de saúde na distribuição de medicamentos. E eu não poderia deixar de mencionar, o meu marido, Juraci que além de me fazer companhia foi o eletricista dos barcos, o padeiro, e o ajudante.
A tripulação do Barco Serguem Silva, cedido pela Visão Mundial também foi uma bênção nas nossas vidas nessa semana. O Comandante Admilton (Igreja Presbiteriana) e o Isaque, também marinheiro da Visão Mundial nos serviram e nos guiaram com segurança.
O biólogo Dione Inácio da Uni Evangélica foi apelidado de Doutor Bactéria, ele coletou água de vários pontos do rio e diretamente nas casas, improvisou uma estufa e fez a análise de tudo isso. Dessa forma foi possível mostrar para os comunitários de São José do Arara os resultados e sugerir-lhes medidas práticas de como cuidar melhor da água e consequentemente da sua saúde.
O agrônomo e professor Roberto gastou os seus dias dedicados a conhecer a realidade dos agricultores. Visitou suas roças, coletou amostras de solo, conversou com o grupo de produtores de malva e se impressionou com o trabalho sub-humano na colheita. Munido das informações que colheu e do que viu irá propor algumas alternativas de cultivo e projetos que juntos poderemos construir e buscar incentivos e fomentos.
Encontramos aqui algumas pessoas preciosas, dedicadas ao serviço do mestre…
O pastor Hernani da igreja Batista Bíblica, ele e sua família (esposa Elma e quatro filhos) estão trabalhando como missionários aqui. Sua pequena igreja que está em construção e tem 35 pessoas congregando e sendo discipuladas. Outro contato foi com o casal Luzivânia e Mário Jorge. Ele é natural da região, um dirigente da igreja Assembléia de Deus. Ela trabalha com jovens e mulheres na igreja. Os dois são um exemplo de dedicação. Recentemente, atendendo a um pedido do seu próprio pastor, tornou-se um vereador, eleito pela comunidade. Posso afirmar que se todo político fosse como ele o nosso país estaria muito melhor.
Alguns fatos me impressionaram e até me emocionaram:
Na segunda a noite fomos procurados por (07) sete homens, vieram como representantes da comunidade, o pastor da Igreja Batista, o pastor da Igreja Deus é Amor, representantes da Igreja Assembléia de Deus, o coordenador da Igreja Católica, e o gestor da escola. Assim que o Marco perguntou o que eles queriam o professor Marcio se tornou o porta-voz do grupo e a sua pergunta foi: “ Nós queríamos saber se seria possível Asas de Socorro fazer um pólo permanente aqui na nossa comunidade. Durante seis meses do ano ficamos isolados, nem o recreio (barco de passageiros) consegue entrar aqui. Quase nunca vem um médico em nossa comunidade, e prestar socorro para alguém com problemas de saúde é praticamente impossível”
Outro momento emocionante foi o agradecimento de um professor da escola. Assim que encerramos um encontro com eles, ele nos agradeceu dizendo que era mesmo uma caridade o que havíamos feito por suas crianças durante esses dias e que eles se sentiam privilegiados de ter a gente lá.
No final da tarde, ao sair de uma das salas de aula a funcionária da limpeza disse assim para mim e para o Christian “ Era tão bom se essas oficinas acontecessem sempre… quem sabe assim os curumins (crianças) pegavam gosto pela escola, eles faltam muito e quase não tem incentivo.” Durante esses 05 dias as crianças foram dispensadas todos os dias mais cedo da escola por falta de merenda.
A dona Mariulza emocionada ao despedir também me fez chorar, ela disse: “ não sei se vocês vão voltar mas eu vou ficar aqui a esperar, já estou com saudades, nunca fomos tratados assim com tanto carinho e amizade”
As crianças grudaram nas moças e rapazes e até na última hora procuravam dar as mãos como que a segurar-lhes mais um pouquinho.
É assim que estamos fazendo a viagem de volta, ainda estamos navegando no furo, não encontramos o grande rio, mas todos estão com o coração cheio de emoções misturadas, impactados pelas experiências aqui vividas, pelos encontros de alma com pessoas que aprendemos a amar, felizes por ter doado um pouquinho dos nossos dias e horas e deixado um pouquinho de nós e do amor de Deus com aqueles vivem no meio da Amazônia.
Eunice Bueno Cunha é Superintendente de Projetos de Asas de Socorro. Este ano tem dividido seu tempo entre atividades de coordenação a partir de Anápolis, GO e visitas aos campos no estado do Amazonas. Conheça mais sobre o trabalho da instituição.
Denize
E’ emocionante ver o que nosso Deus faz atravez de quem se coloca disponivel!! Deus seja louvado, e abençoe os ribeirinhos.
Verônica
Fico sempre emocionada ao ler um artigo como este. Ficamos recolhidos no conforto de nossos lares e igrejas, nem imaginamos que tem pessoas doando suas vidas em prol do Reino de Deus.
Parabéns Eunice, que Deus possa continuar abençoando este lindo trabalho juntamente com todos os voluntários.
elsie
Prezada Verônica a Rede Mãos Dadas agradece o seu contato. Nós é quem agradecemos por ter você lendo os nossos artigos. Um forte abraço,