Por que os administradores de projetos sociais são obrigados a desenvolver estrabismo?
Conversando com a liderança da Rebusca, uma organização que atende a 300 crianças em Viçosa, MG, outro dia, chegamos à conclusão que os líderes de qualquer projeto social são obrigados a manter os olhos fixos em dois grupos muito diferentes ao mesmo tempo. Que grupos são estes?
- O primeiro grupo é formado pela comunidade que apoia o projeto. Pode ser formado por uma igreja, um grupo de igrejas, um grupo de cristãos provenientes de várias igrejas ou até pessoas da sociedade local que querem que as ações do projeto social continuem e causem transformação positiva na sociedade.
- O segundo grupo é formado pela comunidade que recebe as intervenções propostas pelo projeto. Este grupo pode conter crianças ou adolescentes assistidos, suas famílias, líderes comunitários e pessoas da comunidade carente que serão atingidas direta ou indiretamente pelas ações do projeto social.
O grande problema é que os interesses de cada grupo raramente são os mesmos e isto gera a necessidade de manter o olhar fixo em duas dinâmicas diferentes que podem inclusive chegar à uma grande colisão.
Aconteceu num projeto social o caso do voluntário que queria muito fazer uma boa ação e saiu distribuindo kits nas casas de crianças atendidas pelo projeto, sem a aprovação da instituição. O kit, com um valor de 300,00 cada, incluía toalhas, panelas, cobertores, etc. Resultado: para sair da comunidade, foi preciso chamar uma escolta policial porque como sua ação era limitada a 12 famílias, um grupo de pessoas enraivecidas por terem sido excluídas (e sabidamente envolvidas em atividades criminosas) ameaçou saqueá-lo.
Assim, os coordenadores de projetos sociais são às vezes esticados em direções opostas. Precisam manter um olhar atento sobre aqueles que sustentam suas ações e também sobre os anseios e desejos das pessoas a quem o projeto busca ajudar. E para mim, há uma máxima a ser seguida sempre: transformação só acontece quando a dignidade do ser humano é restaurada e afirmada. Que mensagem a minha ação emite para aquele a quem eu quero beneficiar? O que eu quero fazer leva em conta a dignidade do outro? Como?Pensemos nisto antes de agir, e quem sabe o estrabismo dos líderes de nossas organizações possa diminuir um pouco!
Maria Ester Carriel
Temos de ter sempre a certeza de que Uma ONG, um Conselho de Direitos, uma Instituição, enfim uma equipe que se forma para garantia de direitos de nossas crianças e adolescentes tem de ser constituida por representantes de vários segmentos de nossa sociedade. O ECA estabelece Conselhos de direitos configurados como instrumentos de discussão, formulação e deliberação da política social, numa co responsabilidade dos poderes públicos e da sociedade civil para cumprir suas normativas e efetivar seus direitos. Somente assim poderemos mudar uma comunidade… Não existe EU QUIPE e sim EQUIPE….
elsie
Isto é verdade Ester e também o nosso maior desafio. Tudo que demanda a coletividade pode levar mais tempo e a criança não perde tempo crescendo e se formando de acordo com as condições que tiver ao seu redor!
Marta Carvalho
Acredito que a organização que elabora o projeto deva se adequar as áreas necessitadas indicadas pelos conselhos ou pelos próprios indicadores sociais do local. E cabe aos que avaliam os projetos também ter esse olhar pautado nas ações almejadas mediante as necessidades indicadas da criança e do adolescente de seu região.