Resiliência: o segredo dos incansáveis
Que fatores influenciam as pessoas na infância para fazê-las agirem da forma que agem quando adultas? Será possível prever quais características nas crianças poderiam protegê-las contra as adversidades da vida?
O estudo mais famoso e relevante sobre o que passou a ser conhecido como resiliência foi conduzido pela pesquisadora norte-americana Emmy Werner. Foi um estudo longitudinal que acompanhou todas as 698 crianças da ilha Kauai, Hawai, nascidas no ano de 1955 até os 40 anos.
Resultados surpreendentes
“Aproximadamente 30% dos sobreviventes na nossa população estudada nasceram e foram criados em pobreza; experimentaram complicações pré ou pós natais; viveram em famílias marcadas por discórdia, divórcio ou patologias mentais presentes nos pais; e foram criados por mães com menos de 8 anos de escolaridade. Dois terços (2/3) destas crianças, que tinham experimentado pelo menos 4 destes fatores de risco até os 2 anos de idade, apresentaram dificuldades de aprendizado ou problemas comportamentais ao chegarem aos 10, ou tiveram relatos de delinquência e/ou doenças mentais ao chegarem aos 18 anos.
No entanto, uma em cada três crianças se transformaram em adultos confiantes, competentes e afetuosos. Eles não desenvolveram problemas de comportamento ou aprendizado durante a infância ou adolescência. Eles foram bem sucedidos na escola, lidaram com suas situações domésticas e sociais de forma adequada, estabeleceram alvos educacionais e profissionais para si mesmos. Ao chegarem na idade de 40 anos, nenhum deles estava desempregado, nenhum tinha entrado em conflito com a lei, e nenhum deles precisava de ajuda do governo para se manterem (…) O nível de realização educacional ou profissional deles era igual ou até maior do que o de outras crianças provenientes de situações econômicas e familiares mais estáveis.”*
Fatores que geram resiliência
O segredo destas crianças que se tornaram adultos bem sucedidos a despeito da adversidade passou a ser o objeto maior de investigação, deste e muitos outros que o sucederam. Resiliência, no campo da psicologia, passou a definir a capacidade de recuperação pessoal sem deformações de situações adversas. Pessoas resilientes têm a capacidade de resistir, de não serem destruídos diante de situações dolorosas. Elas têm também a capacidade de construir apesar e a partir da própria adversidade.
A grande notícia é que, ainda que permaneça meio misteriosa, já sabemos o suficiente sobre resiliência para podermos ajudar as crianças a desenvolvê-la. Quais são as crianças melhor preparadas para superar a adversidade?
– Crianças inseridas em redes de apoio social e que contam com uma aceitação incondicional por pelo menos uma pessoa importante em sua vida;
– Crianças que conseguem descobrir um sentido maior da vida e que têm uma estreita ligação com a vida espiritual e a fé religiosa;
– Crianças que conseguem desenvolver habilidades sociais e a capacidade de resolver problemas, e que acreditam ter algum controle sobre a própria vida;
– Crianças cuja auto-estima é positiva, que fazem uma avaliação afirmativa de si mesmas;
– Crianças com um bom senso de humor.
Com certeza essa lista não está completa mas já nos ajuda a preparar nossas crianças para que cheguem à fase adulta de forma saudável e bem sucedida.
*Trecho traduzido do artigo “Resilience and Recovery: Findings from the Kauai Longitudinal Study” publicado em 2005 por The Research and Training Center on Family Support and Children’s Mental Health, Portland, OR.
valdenice
Ótimo texto.
As crianças com N.E.E-Necessidades Educacionais Especiais precisam muito desenvolver resiliência, em função da carga de rejeição que recebe da maioria das famílias e da sociedade.