60% DOS OBREIROS EXPERIMENTAM CONFLITOS CULTURAIS EM EQUIPE E TENSÕES COM LIDERANÇAS DE OUTRAS CULTURAS

 

Por Ludmila Ghil

 

O Brasil está vivendo uma fase singular na história da missão global. Após décadas sendo campo de envio e recepção, somos hoje uma das maiores forças missionárias do Sul Global. O missionário brasileiro está em todos os continentes — seja em comunidades ribeirinhas da Amazônia ou em diásporas urbanas da Europa e da Ásia. Mas junto com o avanço, emergem também as dores.

Essas dores nem sempre são faladas nos púlpitos ou nas cartas de oração. Elas moram nos bastidores da missão. Têm a ver com conflito entre culturas, rupturas em equipes, dificuldades de comunicação com lideranças de outras nacionalidades, frustração com agências, sensação de inferioridade – às vezes, superioridade – ou até isolamento emocional e espiritual.

É comum ouvir relatos como:

 “Me sinto desrespeitado nas decisões da equipe”.

 “Meu jeito de comunicar parece ser sempre um problema”.

 “Tenho medo de parecer emocional demais”.

 “Às vezes, sinto que preciso me apagar para caber no contexto”.

Desses testemunhos ecoam dados importantes. A pesquisa da COMIBAM com missionários ibero-americanos revelou, por exemplo, que mais de 60% dos obreiros experimentam conflitos culturais em equipe e tensões com lideranças de outras culturas. Muitos brasileiros, em específico, relatam sentimentos de cansaço, frustração e anulação do direito de fala.

Essas dores são mais do que problemas operacionais. Elas revelam uma lacuna na formação intercultural. Aprendemos muito sobre teologia, evangelismo e doutrina, mas pouco sobre a teologia intercultural, que nos ensina sobre a construção de relacionamentos com pessoas de outras culturas, e como a cultura molda nossa comunicação, nossos afetos, nossos conflitos e nossa forma de servir.

Foi diante desse cenário que nasceu a mentoria O Brasileiro Intercultural em Missão. Um espaço de reflexão e formação voltado para missionários e líderes brasileiros atuando entre culturas. Para minha alegria, o Departamento de Cuidado Integral do Missionário (CIM) da AMTB (Associação de Missões Transculturais Brasileiras) também se uniu ao projeto. São quatro encontros online, ao longo de um mês, focando nas seguintes perguntas:

  • Quem sou eu como missionário brasileiro no mundo?
  • Como entender a cultura do outro sem perder minha identidade?
  • Como lidar com os conflitos, frustrações e tensões dentro de equipes multiculturais?
  • O que o mundo precisa receber do jeito brasileiro de viver e servir?

A mentoria parte da convicção de que Deus nos fez brasileiros com propósito e que nossa cultura — com suas riquezas, contradições, afetos e traumas — faz parte do nosso chamado. A fé cristã não anula a cultura; ela a redime. E a missão não exige subtrair a identidade, mas oferecê-la a Deus para ser usada com sabedoria e graça.

A boa notícia é que o brasileiro carrega muitos dons naturais para o serviço intercultural: empatia, improviso, afetividade, criatividade e flexibilidade. Mas, como toda força, essas qualidades também podem ser fonte de tropeço se não forem integradas à Palavra, ao Espírito e à sabedoria relacional.

É por isso que a mentoria une teologia bíblica, pesquisa atualizada e teoria intercultural.

O tempo em que vivemos exige mais do que paixão missionária. Exige discernimento.

O tempo em que vivemos exige mais do que paixão missionária. Exige discernimento. Em um mundo cada vez mais conectado e polarizado, a missão será cada vez mais intercultural — e isso vale também para os contextos locais, nas cidades brasileiras cada vez mais plurais.

Se você serve fora do Brasil — ou serve aqui com povos de outras origens — e tem sentido os desafios silenciosos dessa jornada, essa mentoria é para você. Não para te moldar a um modelo estrangeiro, mas para te ajudar a servir com identidade, consciência e sabedoria bíblica.

“O mundo não precisa apenas de brasileiros bem-intencionados. Precisa de brasileiros conscientes, preparados e cheios do Espírito — servindo com humildade e coragem entre as nações.”


Serviço:

Mentoria “O Brasileiro Intercultural em Missão”
 Datas: 07, 14, 21 e 28 de julho de 2025
Horário: 08h às 10h (hora de Brasília)
Formato: Online
Inscrições: https://chk.eduzz.com/797774419E

 

  • Ludmila Ghil é missionária transcultural da SEPAL e APMT, comunicadora intercultural e consultora em inteligência cultural. Formada em Comunicação Social (UFES), tem especializações em antropologia intercultural, missiologia, educação bilíngue e plurilingue e certificação internacional em Comunicação Intercultural pelo método Culture Active. Em 20 anos de experiência em negócios depois em missões transculturais. Viveu na Inglaterra, Austrália, Tailândia, Taiwan e Índia. Mãe de Sophia e Victoria, Mila é apaixonada por desenvolver caminhos de reconciliação entre culturas, fé e identidade. Criadora da mentoria “O Brasileiro Intercultural em Missão”, tem se dedicado a capacitar missionários e líderes brasileiros a servirem com consciência, sabedoria bíblica e sensibilidade cultural no cenário da missão global.

Imagem de Juanita Mulder por Pixabay


O Movimento de Lausanne

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