“O que eu mais gostava era de seu bom humor”
Chris Wright fala sobre John Stott: a amizade, a influência de Stott no Reino Unido e o maior legado do teólogo inglês na semana em que completa-se 5 anos de sua morte
Londres. 27 de julho de 2011, 3h15 da manhã. Há 5 anos morria, com 90 anos de idade, John Robert Walmsley Stott. O teólogo inglês de vida simples mostrou vigor teológico, paixão pela igreja, responsabilidade com a evangelização e centralidade em Jesus Cristo. Mas o que seus amigos mais próximos poderiam dizer sobre ele? Leia o que diz Chris Wright.
Do que você mais sente falta sobre a presença de John Stott?
Chris Wright – Sua amizade e sua oração. Também, a oportunidade de encontrar com ele regularmente para discutir o trabalho da Langham Partnership durante o café da manhã.
Você era amigo de Stott. O que te alegrava mais nessa amizade?
Chris Wright – Seu senso de humor, que não era visto ou ouvido por muitos. Também sua diligência e compromisso com tudo o que fazíamos juntos, incluindo algumas viagens e tours desafiadores. Eu também gostava de seu interesse pessoal por minha família – ele sempre tinha uma palavra amável ou pergunta sobre nossas crianças, e apreciava a preocupação e atenção que minha esposa, Liz, lhe dava.
No Brasil, nós vivemos em uma igreja evangélica que está muito desunida e polarizada em vários aspectos. O que você aprendeu com Stott a respeito da unidade da igreja?
Chris Wright – John Stott acreditava vigorosamente que a unidade da igreja, como Jesus orou e ordenou, era fundamental para nosso testemunho no mundo. Ele trabalhou duro para juntar pessoas; até mesmo pessoas com quem ele discordava. Ele não se agradava em incitar conflitos e tentava falar e escrever de uma forma respeitosa, em vez de cáustica e raivosa. Eu aprendi com ele que humildade, respeito e amizade contam mais que uma afirmação arrogante de sua própria colocação.
John Stott foi mais importante fora ou dentro do Reino Unido? Qual foi a principal contribuição dele para os cristãos ingleses?
Chris Wright – Eu penso que na parte mais tardia de seu ministério ele foi mais conhecido e influente mundialmente do que no Reino Unido. Sua principal contribuição foi trazer ordem e peso intelectual aos evangélicos anglicanos (e outras denominações) em uma Bretanha pós-guerra – especialmente nos anos 50/70. Depois disso, quando o evangelicalismo ganhou força dentro do Reino Unido, outros líderes de várias “tribos” surgiram e a autoridade dele já não era tão necessária. Fora do Reino Unido, o impacto do Pacto de Lausanne (1974) e o envolvimento de Stott no Movimento de Lausanne, IFES, Langham Scholars, etc., tudo isso contribuiu para sua influência ao redor do mundo.
Quais foram algumas das principais contribuições de Stott para a igreja no mundo?
Chris Wright – 1) Seus livros – bíblicos, evangélicos, claros, teológicos e pastorais, e fáceis de traduzir para várias línguas. 2) A Langham Partnership, que tem impactado todo o mundo com educação teológica evangélica, literaturas e pregações bíblicas. 3) Sua extraordinária rede de amizade, que ele cultivou com muitas cartas e constantes orações.
O que Stott lhe falava sobre os cristãos do Brasil e da América Latina?
Chris Wright – Ele ouvia com atenção e interesse a seus amigos latino-americanos, e alguns deles fizeram uma grande diferença ao seu jeito de pensar e entender questões de pobreza, justiça, etc. – como se fez claro no Congresso de Lausanne em 1974. Ele também gostava do entusiasmo latino, o calor e os grandes abraços!
Apesar de seu falecimento, Stott ainda se mantém muito “vivo” para muitos cristãos ao redor do mundo, por causa dos ministérios que ele iniciou que ainda continuam. Pode compartilhar conosco quais são esses ministérios?
Chris Wright – As duas organizações que ele fundou foram a Langham Partnership (www.langham.org), para fortalecer as pregações e o ensino da bíblia nos seminários e púlpitos e prover materiais literários; e o London Institute for Contemporary Christianity [Instituto para Cristianismo Contemporâneo de Londres – tradução livre], que busca encorajar cristãos leigos a entenderem o evangelho e sua própria cultura e relacioná-los efetivamente juntos – “ouvir em dobro” – para a Palavra e para o mundo, em prol de adentrar o mundo como sal e luz.
Ele também era muito envolvido com IFES (ABU) e Scripture Union (União Bíblica), e com EFAC – Evangelical Fellowship in the Anglican Communion (Sociedade Evangélica na Comunidade Anglicana). E, claro, ele foi um dos líderes do Movimento Lausanne nos anos posteriores a 1974, dirigindo vários dos conselhos teológicos nos 15 anos seguintes, aproximadamente.
Qual livro de Stott você mais gosta? Por quê?
Chris Wright – “A Cruz de Cristo”. Ele é possivelmente o livro no qual Stott gastou mais tempo, pesquisa e reflexão teológica. Ele é profundo, sendo também claro, e apresenta um minucioso entendimento da expiação.
Há algum livro incompleto e ainda não publicado?
Chris Wright – Não.
Como você aconselharia um cristão que ainda não leu Stott, mas decidiu começar a ler seus livros? Por onde ele ou ela deve começar?
Chris Wright – Cristianismo Básico é sempre um bom lugar para se começar, já que resume muito bem toda a fé cristã. Ou também um de seus comentários do Novo Testamento que estão na série A Bíblia Fala Hoje. Por exemplo, o comentário sobre Atos.
• Christopher J. H. Wright é diretor internacional da Langham Partnership, onde assumiu a função ocupada por John R. W. Stott durante 30 anos. Ele é também presidente do Grupo Teológico de Trabalho do Comitê de Lausanne e do Comitê Teológico da Tearfund, conhecida organização cristã de assistência e desenvolvimento. Escreveu, entre outros, Povo, Terra e Deus, O Deus Que Eu Não Entendo, “Knowing Jesus Through the Old Testament” e o premiado “A Missão de Deus”. Chris e sua esposa, Liz, têm quatro filhos e cinco netos.
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Confira o que o Portal Ultimato já publicou sobre John Stott neste mês especial de julho www.johnstott.com.br
Tradução: Maísa Haddad.
Revisão de tradução: Tonica van der Meer