Nossa ignorância. Nosso conhecimento
O espírito de nossa era é hostil às pessoas que expressam suas opiniões com clareza e se apegam firmemente a elas. É provável que uma pessoa de convicção, por mais inteligente, sincera e humilde que possa ser, seja vista como fanática. Em nossos dias, considera-se realmente brilhante a mente que é ampla e aberta – ampla o suficiente para absorver toda ideia nova que lhe é apresentada e aberta o suficiente para continuar a fazer isso sempre.
Em resposta a isso, é preciso dizer que a fé cristã é, em essência, dogmática, pois declara ser uma fé revelada. Se o cristianismo fosse apenas uma coletânea de ideias humanas, então a convicção dogmática não teria propósito. Contudo, se (como alegam os cristãos) Deus falou – tanto há muito tempo por meio dos profetas como nestes últimos dias por meio de seu Filho –, qual é o problema de crer no que ele disse e de insistir para que outras pessoas também creiam? Afinal, se há uma Palavra de Deus que pode ser lida e recebida hoje, seria tolice e um erro ignorá-la.
Naturalmente, o fato de Deus ter falado e de sua Palavra estar registrada em um livro não significa que os cristãos sabem tudo. Podemos, às vezes, dar a impressão de que pensamos isso – neste caso, precisamos ser perdoados por nossa arrogância. Como deixa claro o apóstolo João em sua primeira carta, “ainda não se manifestou o que havemos de ser”. No Antigo Testamento, Moisés foi um homem a quem Deus se revelou de forma extraordinária. Contudo, ele tinha plena certeza de que Deus só havia começado a “mostrar ao teu servo a tua grandeza…”. Nesse mesmo sentido, o apóstolo Paulo comparou nosso presente conhecimento parcial ao balbucio incoerente de uma criança. Se Moisés, no Antigo Testamento, e João e Paulo, no Novo, admitem humildemente sua ignorância sobre tantos aspectos da verdade, quem somos nós para dizer que sabemos tudo? Precisamos ouvir novamente as duras palavras de Jesus: “Não lhes compete saber…”. Ele estava se referindo aos tempos e datas “que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade”. Contudo, o mesmo princípio se aplica a outros aspectos da verdade. Os limites de nosso conhecimento não são determinados pelo que decidimos que queremos saber, mas pelo que Deus decidiu nos revelar.
Talvez a afirmação mais equilibrada nesse sentido esteja no final do livro de Deuteronômio, no Antigo Testamento: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, o nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre…”. Aqui a verdade como um todo está dividida em duas partes: “as coisas encobertas” e “as reveladas”. A Bíblia diz que as coisas encobertas pertencem a Deus. E, uma vez que ele não quis transmiti-las a nós, não devemos tentar arrancá-las dele à força, mas nos contentar em deixá-las com ele. As coisas reveladas, por outro lado, “pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre”. Ou seja, uma vez que Deus as deu para nós, ele deseja que nós mesmos as tenhamos e as passemos para a próxima geração. O propósito de Deus, portanto, é que desfrutemos do que é nosso (porque ele o revelou) e que não nos preocupemos com o que é só dele (porque ele não o revelou).
Devemos entender o que foi claramente revelado e admitir nossa ignorância com relação ao que não foi revelado; e é esta combinação cristã de dogmatismo e agnosticismo que, para nós, é tão difícil entender. Os problemas surgem quando permitimos que nosso dogmatismo invada o terreno das “coisas encobertas” ou que nosso agnosticismo ofusque “as reveladas”. Precisamos ter a capacidade de dizer a diferença entre essas duas áreas da verdade. É sinal de maturidade dizer “não sei” sobre um assunto, assim como dizer “eu sei” sobre outro – desde que nossa admissão de ignorância esteja relacionada a algo encoberto, e nossa afirmação de conhecimento, a algo revelado.
Trecho de As Controvérsias de Jesus, lançamento de maio da Editora Ultimato.
Eduardo
“Em resposta a isso, é preciso dizer que a fé cristã é, em essência, dogmática, pois declara ser uma fé revelada. Se o cristianismo fosse apenas uma coletânea de ideias humanas, então a convicção dogmática não teria propósito.” (Stott).
John Stott se não foi, certamente expressou neste parágrafo a posição de um ‘pressuposicionalista’. Aquele que parte do pressuposto, no caso, de que vem ‘do alto’ o conhecimento de Deus (não nasce com os homens).
Alicerçada essa definição, as coisas fluem e seguem o seu curso. Por isso Stott pode falar de dogmática como essência da fé: se se afirma que Deus subsiste em três pessoas, logo, não há o que se argumentar.
Stott tinha uma aversão visceral contra o Sionismo. Este movimento, político, filosófico e nacionalista, propugna a volta de todo Judeu a Israel, sendo este um Estado nacional, independente e soberano, historicamente do Reino de Israel.
Mas o Sionismo também propugna que o Messias ainda não veio. Stott em hipótese alguma podia acreditar em um negócio desses. Era, portanto, anti-Sionista. Stott, mesmo admitindo que do ponto de vista cristão a vinda de um outro Messias que não o Cristo, era-lhe repugnante, nunca entendeu o movimento Sionista e o rejeitou por inteiro. Tanto no seu formato judaico quanto cristão.
Declarou, “Political Zionism and Christian Zionism are anathema to Christian faith … The true Israel today is neither Jews nor Israelis, but believers in the Messiah, even if they are Gentiles …” Donald E. Wagner, em Anxious for Armageddon, Herald Press, pp. 80-4. (tradução livr, O Sionismo político [tanto quanto o] Sionismo Cristão, são anátemas à fé Cristã … O verdadeiro Israel hoje não é nem [de] Judeus ou Israelitas, mas daqueles que creem no Messias, mesmo de estes forem gentios…”).