A centralidade de Jesus
“Não importa a idéia ou crença pessoal de alguém acerca dele, Jesus de Nazaré vem sendo a figura dominante na história da cultura ocidental há quase vinte séculos.” Assim escreveu Jaroslav Pelikan no início de seu abrangente livro Jesus through the Centuries.1
Pareceu adequado, portanto, que as Preleções Londrinas de Cristianismo Contemporâneo neste ano do milênio girassem em torno de Jesus Cristo, já que é seu aniversário que estamos celebrando (seja qual for a data precisa). Considere seu domínio em três esferas.
Primeiro, Jesus é o centro da história. Pelo menos grande proporção da raça humana continua dividindo a história em a.C. e d.C., numa referência a seu nascimento. No ano 2000, a população do mundo chegou a 6 bilhões, enquanto o número estimado de cristãos era de 1,7 bilhões ou cerca de 28%.2 Assim, quase um terço da raça humana professa segui-lo.
Em segundo lugar, Jesus é o eixo das Escrituras. A Bíblia não é uma coletânea aleatória de documentos religiosos. Como Jesus mesmo disse, “as Escrituras testificam de mim” (Jo 5.39). E os estudiosos cristãos sempre reconheceram isso. Jerônimo, por exemplo, o grande patriarca da igreja nos séculos IV e V, escreveu que “a ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo”.3
No século XVI é notável que tanto Erasmo da Renascença como Lutero da Reforma tenham dado ênfase à mesma centralidade de Cristo. A Bíblia “vos dará Cristo”, escreveu Erasmo, “numa proximidade tão estreita que ele vos seria menos visível, caso se postasse diante de vossos olhos”.4 Lutero, de maneira semelhante, em seus Sermões em Romanos, deixou claro que Cristo é a chave das Escrituras. Em sua glosa sobre Romanos 1.5 escreveu: “Aqui escancaram-se as portas para o entendimento das Sagradas Escrituras, ou seja, que tudo precisa ser compreendido em relação a Cristo”. E, adiante, escreveu: “a Escritura inteira, em cada parte dela, só trata de Cristo”.5
Em terceiro lugar, Jesus é o coração da missão. Por que motivo alguns cristãos atravessam terras e mares, continentes e culturas como missionários? O que os impele? Não saem para propagar uma civilização, instituição ou ideologia, mas uma pessoa, Jesus Cristo, que crêem ser sem igual. Isso fica especialmente claro na missão cristã ao mundo islâmico. “Nossa tarefa”, escreveu o bispo Stephen Neill, erudito missionário, “é prosseguir dizendo ao muçulmano com paciência infinita: ‘senhor, considere Jesus’. Não temos outra mensagem … O caso não é que os muçulmanos viram Jesus de Nazaré e o rejeitaram; ele nunca foi visto…”6
Mas os que de fato vêem Jesus e se rendem a ele reconhecem que ele é o centro de sua experiência de conversão. Tome por exemplo Sadhu Sundar Singh. Nascido em 1889 numa família sikh afluente na Índia, ele cresceu odiando o cristianismo como uma religião estrangeira (segundo entendia). Chegou a expressar sua hostilidade aos quinze anos, queimando em público um evangelho. Mas três dias mais tarde ele se converteu por meio de uma visão de Cristo e, depois, apesar de ainda adolescente, resolveu tornar-se sadhu, santo pregador peregrino.7 Certa vez, Sundar Singh visitou uma faculdade hindu e foi atacado de maneira bem agressiva por um professor que lhe perguntou o que ele havia encontrado no cristianismo que não houvesse em sua antiga religião. “Tenho Cristo”, respondeu ele, “Sim, eu sei”, continuou o professor, impaciente, “mas que princípio ou doutrina específica que o senhor encontrou não havia encontrado antes?” “O que encontrei de específico”, replicou Sundar Singh, “é Cristo”.8
Notas
1 – J. Pelikan, Jesus through the Centuries (Yale University Press, 1985), p. 1.
2 – P. Brierly (ed.), UK Religious Handbook, Religious Trends (Christian Research, 1999).
3 – Do prólogo de seu Comentário de Isaías, citado em Dogmatic Constitution on Divine Revelation, para. 25, The Documents of Vatican II (Geoffrey Chapman, 1966).
4 – Introdução ao Novo Testamento Grego de Erasmo (1516).
5 – Sermões em Romanos no vol. 25 de Luther’s Works (1515; versão em inglês, Concordia, 1972). Glosa sobre Rm 1.5 (p. 4) e comentário sobre Rm 10.6 (p. 405).
6 – S. C. Neill, Christian Faith and Other Faiths (OUP, 1961), p. 69.
7 – Sadhu Sundar Singh, With and Without Christ (Cassell, 1929), p. 100-101.
8 – E. Stanley Jones, The Christ of the Indian Road (1925; Hodder & Stoughton, 1926), p. 64.
Trecho retirado de O Incomparável Cristo. ABU Editora.
A VIDA EM CRISTO | JOHN STOTT
A fé cristã e a vida cristã autênticas têm como base a centralidade de Jesus Cristo. O que isso significa?
Prático e fácil de ler, A VIDA EM CRISTO apresenta as implicações da vida cristã a partir das “preposições” usadas no Novo Testamento. Para John Stott, viver em Cristo, por meio de Cristo, sob Cristo, com Cristo, por Cristo e para Cristo mostra os diferentes aspectos do relacionamento com ele e, em cada caso, com o próprio Jesus Cristo no centro.