Quem define a moralidade?
Qual é, então, a natureza da vida justa? E como podemos alcançá-la? Em certa situação, como podemos saber qual ação seria correta e qual seria errada? O que nos deixa limpos ou impuros aos olhos de Deus?
Estas são perguntas importantes, e as respostas dadas pelos fariseus são muito diferentes daquelas dadas por Jesus Cristo. Ainda são uma área de controvérsia hoje e, por isso, procuraremos descobrir se a discussão de Cristo com os fariseus lança alguma luz sobre o debate contemporâneo.
Primeiro, algumas definições e explicações. A maneira tradicional de pensar sobre o certo e o errado é comumente chamada de prescritiva, porque nela as regras são amplamente apresentadas antes de se começar, enquanto uma abordagem mais moderna é chamada de circunstancial, porque (de acordo com este modo de pensar) é a própria situação, e não alguma regra predefinida, que deve orientar nossa conduta. Os defensores da moralidade circunstancial rejeitam a antiga por duas razões principais. Primeiro, porque ela é autoritária. É uma moralidade revelada nas leis divinas e reforçada por sanções divinas. A conduta correta é imposta por uma autoridade externa chamada Deus. Eles dizem que uma ética circunstancial, por sua vez, não precisa de autoridade alguma, mas sim de sua própria racionalidade intrínseca.
Segundo, eles a rejeitam porque ela é absoluta. Argumentam que as leis são inflexíveis e a vida é muito complicada para ser governada por regras rígidas. A nova moralidade, em contrapartida, é guiada pelo amor, e o amor pode se adaptar a cada situação de uma forma que a lei não pode.
Aqueles que defendem esta abordagem vão além. Eles declaram Jesus Cristo e o apóstolo Paulo como defensores dela. Afirmam que o próprio Jesus, por amor, violou a lei em diversas ocasiões, especialmente com relação ao sábado. E gostam de citar algumas palavras de Paulo, como, por exemplo, “não estão debaixo da Lei” ou “o fim da Lei é Cristo” ou “o amor é o cumprimento da Lei”. Por acreditarem que têm Jesus e Paulo como apoiadores de sua visão, eles ficam felizes em abolir completamente a categoria da lei na ética cristã.
Apenas mais uma coisa precisa ser dita nesta fase, ou seja, que a vida e os ensinamentos de Jesus não demonstram uma distinção tão nítida entre a lei e o amor. O contraste que representam é falso. Somos obrigados a fazer uma escolha que a Bíblia não faz nem nos pede para fazer. É verdade que Jesus deu prioridade ao amor. Aqui temos um denominador comum. Porém, ao fazer isso, ele não rejeitou a lei. O que ele rejeitou foram as interpretações equivocadas da lei, não a lei em si. Pelo contrário, ele obedeceu a ela em sua própria vida. Afirmou claramente que não viera para abolir a lei, mas para cumpri-la. Também repetiu com ousadia a palavra de Deus em Êxodo 20.6 (“aos que me amam e obedecem aos meus mandamentos”), insistindo em que seus discípulos deveriam amá-lo e guardar seus mandamentos.
— John Stott. As Controvérsias de Jesus, p 112-113.
EDUARDO
Não sei se o título foi dado por John Stott. Admitamos que sim, neste caso, quem define a moralidade é o próprio homem, o ser humano, eu.
Simples assim.