Conselhos de Stott sobre cristianismo e política
Os cristãos devem ser cuidadosos em não “batizar” qualquer ideologia política, seja de direita, de esquerda ou de centro, como se fosse um monopólio de verdade e bondade. Na melhor das hipóteses, uma ideologia política e seu programa são apenas uma aproximação da vontade e do propósito de Deus. Aqueles partidos que se rotulam explicitamente como cristãos também precisam estar cientes disso. O fato é que são encontrados cristãos na maioria dos partidos políticos e eles são capazes de defender sua participação a partir de fundamentos cristãos sensatos.
Assim, me deixando levar por uma grande simplificação, ouso afirmar que ambas as principais ideologias políticas ocidentais atraem os cristãos, por diferentes razões. O capitalismo atrai porque incentiva o empreendimento e a iniciativa humana, mas também causa aversão, pois parece não se importar com o fato de o fraco sucumbir à competição selvagem que ele produz. Por outro lado, o socialismo atrai porque demonstra grande compaixão pelo pobre e pelo fraco, mas também repele porque parece não se importar com o fato de a iniciativa e o empreendimento individual serem sufocados pelo grande sistema político que ele produz. Cada um atrai porque enfatiza uma verdade a respeito dos seres humanos: a necessidade de conceder liberdade à execução de suas habilidades criativas ou a necessidade de protegê-los da injustiça. Cada um cria aversão porque deixa de considerar, com a mesma seriedade, a verdade complementar.
Ambos podem ser libertadores. Ambos também podem ser opressivos. Como afirma o economista e estadista J. K. Galbraith, “no capitalismo, o homem explora o homem. No comunismo, é apenas o contrário”. É compreensível que muitos cristãos sonhem com uma terceira opção, que supere as atuais e incorpore as melhores características de ambas.
Na democracia somos convidados a ouvir humildemente uns aos outros e constatar que não temos um monopólio da verdade, enquanto continuamos perseguindo os propósitos de Deus para a nossa sociedade.
Devido ao homem ser caído, certamente existe uma lacuna entre o ideal divino e a realidade humana, entre o que Deus revelou e o que é possível à humanidade.
John Stott
Retirado de Os Cristãos e os Desafios Contemporâneos, página 44.
Beto Ribeiro
Enquanto não surge a mencionada “terceira opção” podemos nos posicionar respondendo a uma simples pergunta: Qual dos dois sistemas possibilitou maior expansão do evangelho?
Peniel Pacheco
Depende de qual “evangelho”, o da prosperidade? O do dominianismo?
A expansão do Evangelho vai além das facilidades de sua pregação (embora seja importante). Um evangelho cooptado pelo sistema econômico ou cultural pode representar mais prejuízo do que favorecimento. A perseguição nunca foi impeditiva ao crescimento e expansão do Reino de Deus na terra.
Peniel Pacheco
Gostaria de ter um retorno em relação ao comentário que fiz o qual estaria “aguardando moderação”. É possível?